quarta-feira, 2 de abril de 2025

CALÚNIA

O "seu" Pinheiro tinha quase dois metros de altura. Pernambucano. Crioulo forte, cara séria, mas um tremendo gozador. Trabalhava para uma indústria de fornos para padaria de Curitiba e tinha como especialidade a instalação de tais equipamentos.

Certa feita deslocou-se para uma cidade do interior gaúcho para montar um desses fornos.

O dono da padaria, como sempre acontece nestes casos, adquiriu o material relativo à alvenaria e colocou dois pedreiros à disposição do fabricante do forno, para edificar as paredes na medida em que o equipamento ia sendo montado.

Pois bem. Os dois pedreiros, amigos que eram, e descendentes de italianos, conversavam animadamente em dialeto.

Decorrido um certo tempo, o nosso amigo Pinheiro, já cheio daquela da conversa da qual não entendia nada, estancou, sem precisar fazer cara feia (já era ao natural), deu um berro em direção dos dois:

- Que conversa é esta de que eu sou corno? vocês vão ter que provar isto.

- Assustados, os dois pedreiros tentaram argumentar:

- Mas "seu" Pinheiro, o que é isto? Nós não falamos nada do que o senhor está dizendo.

- Então vocês pensam que eu não sei que estão falando de mim, gozando da minha cara, dizendo que enquanto eu estou aqui trabalhando, longe de casa, a minha mulher está se divertindo com outros homens?

- Não é verdade "seu" Pinheiro. Não falamos nada disso...

- Não adianta se desculpar. Vocês falaram que sou corno e vão ter que provar.

E eles, numa tentativa desesperada:

- "Seu" Pinheiro, ....

O nosso amigo, vendo a aflição dos dois emendou:

- Pois muito bem. Mas para que não falem mal da minha mulher, que por sinal é uma santa, tratem de falar português...
A humanidade precisa se libertar do conceito de Deus e Diabo, e admitir que ela mesma faz o bem e o mal. (George Orwel)

LUGARES

ESTRASBURGO - FRANÇA

A Igreja de São Paulo de Estrasburgo é um importante edifício de arquitetura neogótica e um dos marcos da cidade de Estrasburgo, na Alsácia, França. Wikipedia (inglês)

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 1 de abril de 2025

Se tourada é cultura, canibalismo é gastronomia. (Maestro António Victorino d'Almeida)

LUGARES

SEVILHA - ESPANHA

A Catedral de Sevilha, também conhecida como Catedral de Santa Maria da Sé e chamada oficialmente Santa, Metropolitana e Patriarcal Igreja Catedral de Santa Maria da Sé e da Assunção de Sevilha, ... Wikipédia

UM POUCO DE DOÇURA

Martha MedeirosMartha Medeiros

São a Leila e a Cris que seguram o leitor nas mãos: fisgado e rendido, ele ficará preso até a última linha, quando então retornará à vida acreditando novamente na espécie humana

Que a vida anda truculenta não é novidade. Milhares de pessoas têm recorrido à meditação, yoga, ayurveda e tudo o que ajude a purificar a mente, o corpo e o espírito. Pois recomendo incluir um livro na receita. Prescrevo Leila Ferreira e Cris Guerra para detox.

Doçura, inteligência, graça, suavidade – lembra? Também imaginei que estivessem em extinção, mas descobri que seguem vivos nas páginas de Que Ninguém Nos Ouça, escrito a quatro mãos pelas duas escritoras mineiras acima mencionadas. Não que seja uma literatura para mocinhas inocentes: o assunto muitas vezes é barra. Nem Leila, nem Cris saltaram de um conto de fadas. Leila foi criada apenas pela mãe e passou por uma infância de provações.

Cris ficou viúva quando estava com sete meses de gravidez. Porém, mesmo quando confidenciam a parte trash de suas trajetórias (pequenas e grandes tragédias cotidianas que deixam cicatrizes), a delicadeza continua mantendo o tom. Amargas? Nem que quisessem. Nem que tentassem. É o único talento que elas não têm.

São confessionais sem seres histriônicas. Verdadeiras sem serem rudes. Honestas sem serem simplórias. Nesses tempos em que está tudo polarizado (ou é isso ou aquilo, cada extremo defendendo-se aos gritos), como não ficar comovido por quem é tão hábil em encontrar o equilíbrio saudável entre as diferenças?

Leila, 62 anos, é jornalista tarimbada, com 1.600 entrevistas no currículo, feitas no tempo em que trabalhava na tevê. Cris, 45, é uma blogueira antenada e está vivendo o auge da profissão. Duas mulheres e seus amores felizes e infelizes, suas dores inevitáveis e seus prazeres escolhidos, suas visões sobre o envelhecimento, sobre o papel da moda, sobre dietas estúpidas, sobre os efeitos colaterais da agressividade, sobre o poder das amizades, sobre suas vidas em princípio tão particulares, mas que encontram ressonância na minha e certamente encontrarão na sua também. Um livro feminino, mas digestível para qualquer sexo. É doce, mas não é enjoativo. Sugar free.

Sou muito amiga da Leila, e conheço a Cris também, ainda que pouco. Duas mulheres incomuns e com experiências singulares: só pelo voyeurismo consentido, já valeria dar uma espiada nessa troca de e-mails entre as duas. Porém, basta abrir a primeira página para perder a ilusão de que teremos algum controle sobre a leitura. São a Leila e a Cris que seguram o leitor nas mãos: fisgado e rendido, ele ficará preso até a última linha, quando então retornará à vida acreditando novamente na espécie humana.

Se não estou enganada, é do que mais precisamos no momento.

Fonte: Zero Hora

FRASES ILUSTRADAS