quarta-feira, 26 de março de 2025

CRIME NA POCILGA

Fulano de tal fora acusado por tentativa de homicídio. Até aí nada de novo em se tratando de fato ocorrido no oeste catarinense. O caso se deu no interior do município de Quilombo, que à época pertencia à Comarca de Xaxim. Certa noite, nosso personagem acordou em razão de barulho estranho vindo dos lados das pocilgas onde criava suínos. Apanhou a espingarda, municiando-a devidamente e foi ver do que se tratava. Em princípio, pensando tratar-se de algum animal estranho naquele ambiente, deu uns gritos para anunciar sua presença e espantar quem ali estivesse. Para espanto seu, do interior do chiqueiro saiu correndo um homem - a vítima. Não teve dúvidas, desferiu um tiro, atingindo o seu alvo, digamos, sem muita gravidade. Eis a versão do acusado quando prestou declarações ao Delegado de Polícia e posteriormente, ao ser interrogado em juízo. Como o fato se deu no interior, à noite, sem a presença de qualquer testemunha, não restou alternativa ao Promotor de Justiça senão a de requerer que a vítima fosse ouvida no processo. Da Comarca de Quilombo foi expedida uma Carta Precatória para a Comarca de Xaxim, onde a vítima deveria ser ouvida, posto que constava como lá residente. Em Xaxim, foi designada a audiência para tal finalidade, e no dia marcado, além do Juiz de Direito e do Promotor de Justiça, estavam presentes o acusado e seu advogado. A certidão do Oficial de Justiça dava conta de que a vítima não havia sido encontrada, frustrando assim, o cumprimento da Carta Precatória. Lavrados os termos de praxe, a audiência foi encerrada com a assinatura dos presentes. Depois de formalmente encerrada a audiência, o Promotor de Justiça fez algumas perguntas ao acusado, principalmente para saber do paradeiro da vítima, principalmente porque ambos se conheciam.

- Sabe dizer por onde anda o Beltrano? perguntou.

- Não. Decerto voltou para o Rio Grande, respondeu o acusado.

Enfim, as respostas não foram muito esclarecedoras para os fins do processo, mas para outras ilações foram mui preciosas. Informalmente, revelou o acusado ter encontrado a vítima apenas de camisa, ou seja, estava sem as calças e numa das mãos levava um punhado de estopa. Ao ver o acusado na noite dos fatos, a vítima saiu correndo. Foi quando ele - acusado - desferiu o tiro de espingarda. O Promotor de Justiça, um tanto aborrecido com a falta de colaboração do acusado, indagou:

- Tchê, diga aqui com sinceridade. Tu atiraste por raiva ou por ciúme?

A audiência estava encerrada e a carta precatória foi devolvida, evidentemente, sem constar de qualquer termo, qualquer pormenor das revelações daquela tarde.

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