O Bairro Panazzolo acolheu um Convento de Irmãs Carmelitas. Não recordo exatamente quando começou a construção do convento com suas altas muralhas e da igreja.
Criança ainda, eu sempre andava junto com a minha irmã mais nova. Minha tia Amália morava bem próximo de onde seria construída a igreja, e num grande terreno ao lado a gurizada havia improvisado um campinho de futebol. As meninas, aos domingos por ali se reuniam para as brincadeiras típicas da idade. Como a minha irmã sempre me levava com ela, eu acabei testemunhando o avanço da construção, contudo sem ter noção do que era aquilo.
O tempo passou e as obras do convento restaram concluídas. As da igreja foram concluídas mais tarde. Lembro bem das missas aos domingos, celebradas a partir de um altar improvisado em meio a materiais de construção. As janelas ainda não haviam recebido vitrais ou mesmo isolamento de vidro capazes de vedar a entrada do vento.
Certa feita, o padre pediu a mim e a uma garota da minha idade, para ficarmos junto ao altar, instruindo-nos para proteger a chama das velas com as mãos, impedindo que as mesmas apagassem.
A celebração ocorria às sete (7) horas da manhã, quando o frio era intenso. A considerar que o convento e a igreja foram edificados num lugar alto, na beira de um terreno íngreme, com o que ali o vento era uma constante.
Sabíamos que várias religiosas já viviam no interior do convento. Dizia-se que a partir do ingresso no convento, elas jamais teriam contato com mundo aqui fora. Esta sempre foi uma curiosidade de todos nós que morávamos naquela comunidade.
Durante as missas, mesmo depois da conclusão das obras da igreja, sempre tentávamos ver o rosto de alguma delas quando iam receber a hóstia durante a comunhão. Foram tentativas frustradas.
Todavia, como dizia Cervantes, toda regra tem a sua exceção. Hhavia uma ocasião especial em que, muito rapidamente era possível vê-las, dentro do possível. Durante as eleições, geralmente ao meio-dia, horário com poucos eleitores, elas eram apanhadas no convento, imagino que por seus familiares, e eram levadas de automóvel até a escola onde funcionava a mesa receptora de votos. Era tudo muito rápido. Entravam depressa e saiam mais depressa ainda. Seus rostos? Quase que totalmente escondidos pela indumentária própria. De cabeça baixa, então, era impossível vê-las em sua inteireza.
A única lembrança que tenho era de rostos muito pálidos. Alguns contestavam o ato cívico delas, pois se estavam apartadas do mundo, como poderiam escolher algum candidato? Mistérios da política brasileira.
Passada a curiosidade inicial, acabou a graça. Mas ficou uma lembrança muito marcante daquela época. Num domingo à tarde o convento acolheu uma moça, que dizia-se, provinha de uma família muito rica da cidade.
Não sei se o ato era precedido de alguma celebração, mas mesmo com a pouca capacidade de percepção das coisas em razão da tenra idade, pude ver e constatar o desespero de uma senhora, que suponho fosse a mãe da noviça, quando saiu do convento aos prantos, amparada por um homem que penso fosse o seu marido.
Cenas semelhantes só pude ver em velórios. Pelo que sei no interior do convento há um cemitério exclusivo para as carmelitas e assim, o ingresso de um familiar para a congregação não deixa de representar uma morte.
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