O que estaria fazendo nela o número de telefone da princesa Lee Radzwill, irmã de Jacqueline Kennedy?
Foi há 60 anos. Tom Jobim se curvou para os aplausos no Carnegie Hall, a 21 de novembro de 1962, e Nova York se apaixonou pela bossa nova. Abriu-se uma ponte aérea Ipanema-Manhattan, e o primeiro a cruzá-la foi o Bossa Três, com o pianista Luiz Carlos Vinhas, o baixista Tião Neto e o baterista Edson Machado. A prova dessa paixão está numa agendinha de bolso de Tião Neto, que me caiu às mãos depois de sua morte, em 2001. Nela, Tião anotou o endereço dos grandes jazzistas de quem ficou íntimo e com quem, de repente, passou a circular. Eis alguns.
O escritório de Duke Ellington ficava na 52 W 58th, ou seja, rua 58 Oeste, nº 52. O de Quincy Jones, na 745 Fifth Avenue. Paul Chambers, o contrabaixista de Miles Davis, morava na 18 W 88th St. O pianista Horace Silver, no 400 Central Park W, apto. 142. O casal Jackie & Roy, a cantora e o pianista, na 4715 Independence Ave. O flautista Herbie Mann, no 7279 Yellowstone Blv.
De alguns Tião só tinha o telefone, ainda com os prefixos alfanuméricos: o dos saxofonistas Gerry Mulligan, SC4-1721, e Stan Getz, LY4-7028; do trompetista Kenny Dorham, PR8-6021; do trombonista J.J. Johnson, TE3-1010; do vibrafonista Gary Burton, SU7-3048; dos magnatas Nesuhi Ertegun, da Atlantic Records, BU8-0064, e Creed Taylor, da Verve, JU2-200; de Helen Keane, produtora de Bill Evans e Harry Belafonte, SA2-2921.
E, claro, o dos brasileiros já instalados: Tom Jobim, FI8-7605; João e Astrud Gilberto, TN2-2000; Luiz Bonfá, CI5-1800. Sem falar nos endereços de trabalho: o Village Vanguard, na 178 7th Av., e o Village Gate, na 178 Thompson St..
Tião era alto, bonitão e usava uma barba de intelectual. O que estaria fazendo na sua agenda o número (RH4-1600) da suíte no Carlyle Hotel da disputada princesa Lee Radzwill, 30 anos, casada com um príncipe polonês no exílio, irmã de Jackie Kennedy e cunhada do presidente John Kennedy?
Fonte: Folha de S. Paulo - 11.fev.2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário