domingo, 22 de dezembro de 2024

CONSULTA MÉDICA EM OTAWA

Saímos do Brasil com um grupo de amigos com destino a Nova York e depois iríamos percorrer a chamada costa leste do Canadá. Em Nova York foi formado o grupo final que no dia seguinte rumaria para o país vizinho. Além de sete (7) brasileiros, juntaram-se a nós duas mexicanas, duas espanholas e mais dois ou três da américa central. Depois de conhecer Montreal, Quebec e outras cidades menores, chegamos a Otawa no início da tarde e nos hospedamos. A temperatura havia baixado bastante. Minha esposa não estava bem e logo constatou que estava com sistite. As tentativas de comprar antibióticos nas farmácias restaram frustradas à falta da necessária e indispensável receita médica. Auxiliados por uma colega do nosso grupo que dominava perfeitamente o inglês, conseguimos a indicação de um médico nas proximidades do hotel. O atendimento não demorou muito e o que foi muito importante, o médico coletou material e no próprio consultório realizou a análise laboratorial e receitou a medicação indicada. Acompanhei minha esposa ao hotel e saí em busca de uma farmácia, encontrada sem muita dificuldade. Apresentei a receita e a partir daí as dificuldades se apresentaram. Pediram uma identificação. Apresentei meu passaporte e o mesmo não foi aceito pois os remédios foram receitados para "Lourdes" e o passaporte continha o meu nome. Expliquei, arranhando o pouco que sei de inglês, que ela se encontrava no hotel. - Qual hotel? Me deu um branco. Não consegui lembrar o nome do hotel, que ficava bem perto, distante uns dois quarteirões. O que era frio passou a ser um calorão. Para dirimir o impasse a atendente chamou um senhor com o qual não me entendi mas ao menos ele entendeu a minha cara de quase desesperado. Pediu que eu aguardasse. As cápsulas receitadas iriam ser produzidas, vale dizer, eu não estava comprando um vidro ou uma cartela de remédios. Mas o serviço foi eficiente e não demorou muito para que a moça chegasse com o pote onde foram coladas umas tiras adesivas contendo as instruções para o uso da medicação. Ela explicou detalhadamente, passo a passo, cada fase da medicação, por vezes usando de velha mímica. Só então veio a pergunta fatal: entendeu? - Sim, respondi, ao que ela falou algo parecido como - repita por favor. Por diversas vezes tentei demonstrar à minha algoz que eu havia entendido já que as diversas fases da medicação estavam detalhadas nas fitas adesivas, diferenciadas umas das outras por cores. Além do mais, ao retornar ao hotel, me valeria novamente da nossa colega de excursão para ler e interpretar aquela bula. Nada. A balconista queria por que queria ter certeza de eu saberia medicar a paciente rigorosamente como prescrito. Foi quando, já desesperado, apontando para o nome da minha esposa que constava da receita, fui intuído a pronunciar a seguinte afirmação: Lourdes is my wife and I love her. Não sei como ela interpretou a minha fala. Acho até que ficou comovida com a minha inesperada confissão de amor e liberou os remédios. Paguei a conta, agradeci e voltei correndo para o hotel, abaixo de uma chuva fina e gelada.

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