quarta-feira, 20 de novembro de 2024

O ALEMÃO E SEUS PASTORES

Conheci Balneário Piçarras em 1983, onde comprei um apartamento. Situava-se no sexto andar e tinha uma sacada na rua lateral com uma bela vista para o mar. 

Desde os primeiros finais de semana desfrutando daquela delícia, notei a presença de um solitário nadador mar adentro. Solitário não é o termo adequado, uma vez que nas suas excursões marítimas se fazia acompanhar de dois cães da raça Pastor Alemão. 

Aos poucos fui tomando conhecimento dos hábitos daquele homem, até porque ele residia não muito longe do meu prédio. Era um homem forte e bem alto. Nas poucas vezes que andava pelas ruas, sempre era acompanhado pelos seus fiéis escudeiros. Habitava uma casa de frente para o mar e o terreno era cercado com muros altos. Dizia-se que ele era alemão e por ser pouco sociável, especulava-se se ele não seria um nazista foragido. 

Bem cedo, todas as manhãs, ele ia à praia com seus cães. Na mão ele portava uma espécie de bengala, em cujas extremidades eram fixadas umas argolas de couro. Vencia as primeiras ondas sozinho mas logo chamava seus cães os quais, nadavam até ele.

Adestrados, suponho, os cães seguravam as argolas de couro com a boca enquanto o alemão se segurava naquele bastão. Os três nadavam mar aberto. Não saberia dizer o quão longe eles iam e nem o tempo de permanência na água. Retornavam da mesma forma. 

Já com os pés no chão, os cães sacudiam o pelo e esperavam as ordens do patrão e voltavam para casa. 

Quem veraneou em Piçarras nos anos oitenta (80), por certo conheceu ou ouviu falar do alemão e seus cachorros. 

Um desses cães, fiquei sabendo, morreu, de velho, talvez. Foi substituído por outro, mas era possível perceber que já não era um trio afinado e o alemão passou a fornecer um semblante cada vez mais triste. 

Pelo que eu soube, o alemão morreu tempos depois, mas ouso dizer que morreu de tristeza pela perda de um de seus fiéis cães.

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