Difíceis tempos aqueles. Depois de um dia de trabalho, a jornada se completava com os compromissos escolares à noite.
Do Cristóvão até a rua Alfredo Chaves havia o conforto do ônibus. Depois, o último percurso era feito à pé. No final da Alfredo Chaves, um longo percurso era feito nos confins da Chácara Luis Antunes. Não havia iluminação. À minha esquerda, algumas casas esparsas e um terreno baldio que era o nosso campo de futebol. À minha direita, o imenso arvoredo que ocupava a referida chácara.
Sempre caminhava intuitivamente pelo meio da rua, que naquela época (1963), ainda não era pavimentada.
Naquela noite, quase meia-noite, como sempre, caminhava totalmente antenado com o que ocorria nas proximidades. A cerração não estava tão forte, de sorte que a visibilidade não ficava muito prejudicada.
Já nas proximidades do campo de futebol, vi uma luz rente ao chão. Não sabia o que era. Como não havia qualquer ruído ou movimento, continuei caminhando, atento, sem baixar a guarda.
Quando já estava praticamente alinhado com o local onde se achava aquela luminosidade, ouvi um ruído forte, à minha direita, mais para a minha retaguarda. Naquele momento não consegui identificar o tal ruído.
Me sentindo como nos desenhos animados onde os personagens, quando fogem, iniciam uma corrida desesperada parecendo ficar com o corpo parado no ar e os pés pedalando desenfreadamente, para só depois se afastar do local.
Parei ao chegar na esquina próxima, por não ter ouvido mais nada. Olhei para trás e só vi aquela pequena luminosidade que permanecia no mesmo local.
Fui para casa intrigado com o acontecido. Bem cedo, na manhã seguinte, como em todas as manhãs, fui trabalhar passando pelo mesmo local, que praticamente era a única via de acesso ao meu bairro.
Para minha surpresa, constatei que havia um cavalo amarrado junto a um pasto. Eureka! O barulho que ouvi tinha sido uma espécie de relincho produzido pelo quadrúpede. E a luz? Bom, a luz nada mais era do que uma vela que tinha sido acesa junto ao um "despacho", prática muito comum naqueles tempos...
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