quarta-feira, 14 de agosto de 2024

PROFESSORA DE INGLÊS

Aldemar era o nome de um colega de ginásio. Saiu de Pato Branco para estudar em Caxias. Mas também foi servir ao exército nacional. Muitos anos antes do Sai de Baixo, ele já fazia piada de Pato Branco. Por exemplo, quando estava no exército e ia visitar seus pais, tomava o cuidado de tirar a farda verde oliva. Segundo ele, se chegasse em Pato Branco devidamente fardado, poderiam confundir com uma farda policial e ser alvo de alguns tiros da bandidagem por lá reinante.

Falava da rádio de sua cidade, mais ou menos imitando o locutor, com um acentuado sotaque italiano, desta maneira: "ZYU spicicacidablio spicicaçacia (este era o prefixo falado da emissora) falando diretamente de Pato Branco com su único, único programa justicia, justificia, fin el último scartucio". Segundo ele, o nome do único programa da rádio intitulava-se Justiça, Justiça até o último cartucho. 

Mas não deixava de fazer gozação com quem quer que fosse. Certa noite, durante o intervalo, um padre das antigas, daqueles que usava batina, magro e lépido, passou defronte à nossa sala de aula. Pouco depois retornou. Dirigiu-se ao Aldemar, que estava junto à porta indagando se havia visto algum padre pelas imediações. De pronto o Aldemar respondeu ter visto uma batina passando mas que não havia reparado se tinha gente dentro... E assim ele levava a vida. 

Em meio ao segundo semestre escolar o nosso professor de inglês licenciou-se por problemas de saúde. Foi substituído pela professora Vera, que até então só havia lecionado para adolescentes. A realidade agora era outra, já que a maioria dos alunos tinha idade semelhante à da professora e alguns até eram mais velhos. 

No princípio ela enfrentou algumas dificuldades principalmente pela pouca prática em lidar com faixas etárias diversas, mas com o tempo ela superou as dificuldades e acabou perfeitamente integrada e amiga de todos. Mas com o Aldemar a coisa demorou um pouco, ja que ele vivia provocando a professora. 

A cada afirmativa ou comentário o Aldemar emendava: 
- Yes I do. Ela ignorava os comentários até o dia em que ela caiu na armadilha de querer ironizar o aluno. 
- Parabéns, Aldemar. Você sabe muito. 
- Professora, ele respondeu - Eu tive um professor muito bom. 
- É mesmo? Como é o nome dele? 
- Cesário Skifioskowski (risos), e complementou: 
- É que para dizer o nome dele é preciso assobiar. 
A professora não aguentou o desaforo e determinou: 
- Rua! E me aguarde na sala da direção. 
Ele saiu sem reclamar e a aula prosseguiu. Sem muita demora, eis que o Aldemar abriu um pouco a porta e disse: 
- Professora, o diretor mandou eu entrar. 
- Onde está a ordem por escrito? 
- Não tem ordem por escrito por absoluta falta de papel (risos e mais risos). Fechou a porta e se mandou. Não sei como tudo terminou. Acho até o Aldemar desistiu do ano escolar, principalmente por conta da rigidez da caserna onde por diversas vezes permaneceu detido em face das suas constantes estrepolias. 

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