domingo, 18 de agosto de 2024

OKTOBERFEST

Quando aparecem os obstáculos usa-se a criatividade. Algumas vezes, além da criatividade, é necessária a boa vontade de outrem. Foi o que aconteceu na Oktoberfest em Munique, onde as regras de boa convivência são seguidas à risca. Há horários para início e término dos festejos, assim como existe uma fiscalização rigorosa para controlar os excessos cometidos por conta da bebida. Não há baile (ou carnaval alemão) como acontece por aqui. Sim, as bandas tocam em muitos espaços mas as pessoas ficam sentadas junto às longas mesas onde bebem, comem e cantam. E não se pode falar em Oktoberfest sem lembrar de chopp e das deliciosas salsichas. O precioso líquido, apresentado naqueles canecos enormes, com capacidade para um ou dois litros, talvez mais, é servido pelas alegres garçonetes, cuja capacidade em carregar um sem número deles constitui numa atração à parte. Mas, segundo a regra, os canecos só podem ser servidos às pessoas que estiverem sentadas. Esse era o obstáculo a superar já que o nosso grupo era composto de mais de vinte (20) pessoas e não havia um único lugar para sentar. 

Para entender a situação é preciso esclarecer que era o último dia da oktober. Estávamos excursionando pela Alemanha, cujo roteiro era do conhecimento do padre João, amigo de alguns companheiros do grupo. Nascido na Alemanha, atuava numa paróquia em Florianópolis. Por coincidência nos dias que estaríamos na região de Munique o padre João estaria na sua cidade natal, próxima de Munique, em visita à sua mãe e por esta razão combinou que encontraria o nosso grupo e seria o nosso cicerone pelas principais atrações da capital da Baviera. E assim foi feito. 

Depois do tour pela cidade, o padre João sugeriu que fôssemos conhecer a Oktoberfest, onde fomos surpreendidos pela grandiosidade do local e da festa, estimando-se uma frequência, somente naquele dia, em torno de duzentas mil pessoas. Em tais condições, simplesmente não havia lugar para sentar. 

Integrava o nosso grupo a figura simpática e exemplar da Dna. Yutta. Magrinha e ágil, do alto dos seus oitenta ou talvez mais anos de idade, era companheira de primeira hora para tudo o que estivesse ao seu alcance, leia-se, preparo físico. Embora com a saúde já debilitada, era o exemplo de vivacidade e entusiasmo para tudo. Em razão da sua idade avançada, visível a qualquer mortal, um alemão caridoso cedeu-lhe um lugar à mesa para que pudesse curtir a festa sentada. Aquela foi a senha para os nossos apetites sedentos. 

Dna. Yutta concordou em emprestar o nome ou a presença, devidamente acomodada, para pedir chopp às simpáticas garçonetes e a partir de então nossas gargantas nunca mais estiveram secas. Evidentemente que as garçonetes sabiam que a cliente não consumiria todo o chopp pedido, mas entraram no clima que havíamos criado e não puseram obstáculo algum aos nossos pedidos. 

Com certeza, a aquiescência delas não foi pela bela cor dos nossos olhos ou pela tão propalada simpatia dos brasileiros. Antes, o crédito ficou por conta da jovialidade da Dna. Yutta que a partir de então se transformou na nossa avalista. 

Os momentos agradáveis transcorreram céleres e próximo das 21 horas tivemos que partir pois naquele horário acabava a festa e sabíamos que o rigor germânico não permitiria qualquer tipo de saideira tão comum e natural para nós, oriundos da linha de baixo do Equador.

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