quarta-feira, 3 de julho de 2024

VENDEDOR DE MÁQUINAS

Profissões surgem. Umas se perpetuam. Outras desaparecem. Existiu, no século passado, a atividade de vendedor de máquinas de escrever. Para os mais jovens, explico que a máquina de escrever imprimia no papel aquilo que era - em termos atuais - digitado.

Brincadeiras à parte, era uma época em que não existiam computadores e tudo era feito manual e mecanicamente, através das máquinas de escrever. As grandes corporações, Olivetti, por exemplo, tinham seus revendedores, estabelecidos com lojas modernas e oficinas especializadas para assistência técnica. As pessoas envolvidas com essas representações recebiam treinamento de alta qualidade, tudo em função da alta concorrência no setor. 

O treinamento dos vendedores era especial, posto que não se limitavam a aguardar os clientes na loja, mas sim, visitavam os potenciais clientes, divulgando as qualidades dos produtos, principalmente quando havia algum lançamento. Por vezes, conforme avançavam as conversações e o interesse do futuro cliente, era possível dispor do equipamento por alguns dias sob a forma de "demonstração". 

Eram tantos os vendedores e era acirrada a concorrência resultando que as empresas recebiam a visita de tais vendedores muitas vezes ao longo do ano. Uns eram verdadeiros chatos, principalmente quando tentavam introduzir um equipamento com o fim de quebrar a fidelidade de uma empresa por determinada marca. Por exemplo, se determinada empresa padronizava seus equipamentos com a marca Olivetti, o vendedor de qualquer marca concorrente tentava, por todos os meios, introduzir um equipamento seu, para iniciar a quebra do paradigma. O mesmo ocorria quando os equipamentos eram ultrapassados e o vendedor pretendia introduzir a modernidade. 

O pessoal da área administrativa sempre ficava torcendo para que o chefe adquirisse equipamentos mais modernos, principalmente os elétricos que estavam tomando conta do setor. 

Meu patrão não era adepto da modernidade na área administrativa e então convivíamos com máquinas ultrapassadas. Os vendedores de máquinas viam na empresa uma excelente oportunidade de introduzir equipamentos novos e de preferência conseguir a fidelização. 

Um desses vendedores - da Olivetti - visitava a empresa todas as semanas. Certo dia ele apresentou-se com uma novidade qualquer. Tratava-se de uma máquina elétrica que fazia as quatro (4) operações. Uma revolução para os padrões da época. Seria uma grande aquisição. Porém, a minha prioridade e pleito perante os meus superiores, era a aquisição de uma máquina de contabilidade mais moderna. 

Na falta de argumentos para rejeitar a nova máquina oferecida, falei para o vendedor que em definitivo eu não desejava adquirir o produto. O vendedor não se conformava com o meu argumento, frágil, é bem verdade, pois sabia das nossas dificuldades operacionais e da grande utilidade da máquina que estava oferecendo. 

Isto se passou na parte da manhã de uma segunda-feira. 

Na parte da tarde o vendedor retornou, entrou na minha sala e falou num tom de quem confiava no seu poder de persuasão:
 
- Sou do tipo de vendedor que quando põe na cabeça que vai vender, venderá. 

Então eu respondi no mesmo tom: 

- E eu sou do tipo de comprador que quando põe na cabeça que não comprará, efetivamente não comprará. 

Deixei o vendedor desnorteado. 

Tempos depois ele abandonou o emprego e aceitou o convite do meu patrão para vir trabalhar conosco, onde revelou-se um excelente vendedor. 

Quando indaguei do meu patrão o motivo pelo qual estava contratando um cara chato como aquele, a resposta foi a de que para vender os nossos produtos era necessário ser chato e persistente, qualidades que o tal vendedor tinha para vender e vender. 

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