quarta-feira, 24 de julho de 2024

PROFESSORES

Tive professores de todos os tipos. Alguns se mostraram seres humanos excepcionais. Outros nitidamente eram frustrados. Pior ainda eram os incapazes, inaptos ou não vocacionados. Mas creio que tais características são recorrentes em todas as profissões.

Então, resolvi perfilar alguns que de uma maneira ou outra deixaram marcas não apenas em mim mas numa infinidade de alunos que passaram por suas mãos.

Começo pelo Professor Moreira.  

Quando na primeira série ginasial já tomávamos conhecimento do terror que era o dito professor. Fui seu aluno na segunda série do ginásio mas em dose dupla: inglês e latim.

Cumulando duas disciplinas e lecionando para muitas turmas, o professor conseguia folgar nas quartas-feiras. Então aproveitava para comparecer no Cinema Real, que naquele ano inovou sua programação com sessões vespertinas justamente nas quartas-feiras. Então, como não tinha nada para fazer, o Professor Moreira ia ao cinema para controlar a vida dos gazeteiros.

De todas as suas excentricidades, jamais esqueci o fato de ele ser fumante. Fumar em sala de aula, naquela época era normal. O que ficou gravado na minha retina é que ele fumava Continental sem filtro. Tinha um cacoete, dentre outros, de condensar o fumo numa das extremidades do cigarro, batendo-o seguidamente na unha do polegar. Depois, munido de um isqueiro, acendia o cigarro.

Meu primeiro contato com ele se deu antes mesmo de eu conhecê-lo como professor. Primeiro dia de aula e eu andava pelos imensos corredores do novo ginásio Cristóvão de Mendoza, assobiando de contentamento. Eis que cruzo com alguém trajando terno e gravata, bigode e cabelos brancos cuja aparência, por dedução lógica só poderia ser professor. 

- Moço - ele me disse - isto aqui não é uma escola de samba. 

Deduzi que ele me repreendia por estar assobiando. Cada um continuou seu caminho e só mais tarde ele entrou na minha sala de aula, mas acho que não me reconheceu.

A rigor nunca tive maiores problemas com o mestre. Uma única vez ele me repreendeu, com certa dose de razão, mas não permitiu que eu explicasse os fatos convenientemente.

Era uma aula de latim. Eu havia encapado todos os meus livros com um material da mesma cor. Então, como forma de identificá-los, pedi ao meu cunhado Nilo, que tinha uma letra bem boa, que escrevesse na capa de cada um deles, a que se referia. Inglês, Matemática, Latim e assim por diante.

O professor, passando pela minha classe, notou que o meu livro estava identificando a disciplina LATIN e não LATIM como era o correto. Prá que? Proferiu um discurso acerca dos escorregões na língua portuguesa. Mas...

Saliento como saldo positivo do tempo que fui seu aluno o que ele disse numa certa ocasião em que a disciplina era Inglês. "Eu poderia exigir de vocês o conhecimento quinze, vinte ou mais verbos mas vou limitá-los a dez, mas estes dez deverão estar na ponta da língua."

Foi uma boa estratégia.

Outra coisa positiva era a sua exigência constante de perfeição relativamente à pronúncia. Era chato mas a validade do que ele nos transmitia viria a ser lembrada anos mais tarde quando a boa pronúncia na comunicação transcendia de importância. 

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