quarta-feira, 19 de junho de 2024

MENDIGO BRASILEIRO

Ao tempo em que a indústria automobilística ainda engatinhava, os automóveis que circulavam pelas cidades brasileiras eram importados dos Estados Unidos, França, Suécia, Alemanha, Inglaterra, etc.

Em alguns automóveis as lanternas pisca-pisca eram embutidas junto à coluna das portas de modo que quando o motorista acionasse uma manobra à direita ou à esquerda, uma haste, quase do tamanho e formato parecido com a palheta do pára-brisas, saltava do encaixe e indicava a intenção do condutor.

Um dos automóveis que dispunha de tal dispositivo era o Prefect, veículo de pequeno porte mas bastante popular.

As lanternas estragavam com freqüência. Por isso, os motoristas sinalizavam com o braço esquerdo para fora da janela, a direção que tomariam: o braço estendido na posição horizontal indicava inflexão à esquerda; o braço levantado na posição vertical indicava inflexão à direita.   

Por aquela época, Caxias do Sul atraia muitos turistas estrangeiros por conta de suas vinícolas, da Eberle e suas pratarias e do CTG Rincão da Lealdade, para citar apenas algumas atrações.

De modo especial e para os fins desta narrativa, menciono a Vinícola Michielon situada no Bairro de Lourdes, que ficava aberta o ano inteiro para recepcionar caravanas de visitantes. 

Naqueles tempos, a Marcopolo ainda se chamava Carrocerias Nicola e é para lá que nós vamos, onde  conheci o Odi Brito, que por sua vez era um tremendo gozador. Na empresa havia  um feliz proprietário de um Prefect, embora as condições da pintura e lataria não fosse lá essas coisas.

Segundo o Brito, certa manhã, quando o Corrêa se dirigia ao trabalho, chofereando o seu Prefect, ciente de que o pisca-pisca estava com defeito. Trafegava pela rua Conselheiro Dantas, com destino à BR 116, caso em que deveria ingressar na rua Angelina Michielon.

Em lá chegando e estando estragado o pisca-pisca, procedeu como era habitual entre os motoristas, estendeu a mão para fora da janela na posição horizontal indicando que dobraria à esquerda. 

Justamente na esquina das citadas ruas ficava o acesso à área de recepção aos turistas da Vinícola Michielon e no momento haviam muitos deles, todos americanos. 

Ao ver um motorista com a mão para fora, num veículo cujo estado de conservação não era dos melhores, um dos turistas teria deixado uma nota de cinco cruzeiros na mão do Corrêa.

Não é preciso dizer que o Corrêa, quando falavam dessa estória, subia pelas paredes, mas quem conhecia o Brito, sabia que viriam outras e mais outras... 

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