domingo, 16 de junho de 2024

ESTACIONAMENTO EM LUCCA

Ao contrário das demais cidades da Toscana que havíamos visitado, Lucca, embora sendo do período medieval, está localizada numa planície, ao contrário das demais que via de regra foram edificadas nas partes mais elevadas, sempre em busca de proteção contra os ataques inimigos. Não que em Lucca houvesse desleixo contra a ação dos invasores. Ao contrário, a parte antiga forma uma cidade fortificada, rodeada por uma muralha de uns oito metros de altura. Literalmente rodeada, uma vez que a parte antiga foi edificada num formato redondo. Internamente, as ruelas têm a mesma disposição, com o que, vista de cima, pode-se dizer que a cidade é formada por anéis, uns dentro dos outros, que vão diminuindo gradativamente, até chegar ao ponto central, onde há um grande espaço que se transforma na praça principal. 

Ao chegarmos em Lucca nos deparamos com a muralha mas ainda não sabíamos que o formato da cidadela era circular. Fomos seguindo o contorno da cidade e ao encontrar um grande portão de acesso enveredamos por ele. Sabíamos de antemão que nas cidades históricas, via de regra, somente os moradores têm permissão para circular com seus automóveis e motos e por isto existem estacionamentos fora das muralhas, sendo que as visitas são feitas a pé. 

Logo na entrada encontramos um estacionamento cujo pagamento é controlado através de parquímetros. Mas também verificamos que havia uma placa informando que estacionamentos irregulares estavam sujeitos ao guincho. Sendo assim, poderíamos deixar nosso automóvel no local sem maiores problemas. Foi o que fizemos. Adquirimos um ticket para quatro (4) horas, marcamos o local onde estávamos estacionados e fomos seguindo as ruelas até chegar à praça central. 

Aproveitamos para almoçar e depois saímos a caminhar pela cidade. Satisfeitos com o que havíamos comido e visto, com bastante antecedência resolvemos dar por finda a visita a Lucca e dali partiríamos para Montecattini Terme, pequena cidade próxima de Florença, a partir de onde iríamos incorporar uma excursão de brasileiros nossos conhecidos. 

Convictos de que estávamos no rumo certo, caminhamos despreocupadamente até chegar às muralhas. Sem avistar nenhuma entrada, caminhamos para a esquerda, sem sucesso e depois para a direita, igualmente sem sucesso. Estávamos perdidos. 

Busquei informações com um rapaz que estava carregando uma van e o detalhe mais significativo que pude lhe fornecer foi que próximo ao nosso estacionamento atravessamos uma pequena ponte sobre um canal. Ele prontamente entendeu a nossa dificuldade, nos informando que estávamos exatamente no lado oposto àquele que queríamos chegar. 

Agradecemos e quando pensamos em atravessar a cidade para chegar ao ponto almejado, verificamos que já o nosso tempo já estava esgotando, faltando algo como uns vinte (20) minutos. Consideramos a hipótese de nos perdermos novamente, já que as ruas eram todas circulares e estreitas. Nem a sombra dos prédios poderia nos ajudar a manter uma direção e nem um ponto de referência qualquer, como uma torre de igreja, uma montanha, etc., poderia nos manter sempre no mesmo rumo. 

Conjecturamos que se os italianos levassem à risca a advertência quando ao uso do guincho, teríamos problemas sérios pela frente. Então, resolvemos empreender uma forte caminhada, o fazendo rente à muralha, na certeza de que daquela maneira fatalmente chegaríamos até o tão esperado estacionamento. 

A estratégia se afigurou apropriada e localizamos nosso automóvel antes mesmo de vencer o prazo estabelecido no ticket. Para nosso alívio, não encontramos nenhum policial nas imediações e se chegássemos atrasados, naquele dia, ao menos, não haveria apreensão de veículos. É que ficamos sabendo, posteriormente, que tais procedimentos fiscalizatórios são feitos aleatoriamente, oportunidade em que, o efeito pedagógico mais eficiente é a tolerância zero. 

Agradável surpresa nos proporcionou um bilhete deixado junto ao para-brisas, escrito por algum francês, que vendo a placa do nosso automóvel, deu-nos as boas vindas no idioma de Voltaire.

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