quarta-feira, 8 de maio de 2024

SUPER OITO

Sempre gostei muito de fotografia e embora as condições financeiras precárias para ser o feliz proprietário de uma boa máquina, sem considerar o custo dos filmes e a posterior revelação, registrei muitas passagens da minha vida.

A liberdade começou a raiar quando foi lançada a Kodak Rio 400, uma pequena máquina quase descartável. Mesmo assim a aquisição foi em sociedade com o meu primo Mário, que também gostava de fotos. 

Mas a verdadeira liberdade veio com a aquisição de uma Olimpus Pen, que me acompanhou por muitos anos, diria até a exaustão do fotômetro. 

Com ela era possível selecionar o tipo de foto que se desejava, como paisagem, meio corpo, etc. A grande sacada era a possibilidade de duplicar o número de fotos de cada filme. 

Normalmente eu adquiria um filme de trinta e seis poses e conseguia setenta e duas fotos, às vezes duas ou três a mais, dependendo da habilidade em enrolar o início do filme no carretel da máquina. 

Ainda tenho a pequena Olympus comigo, embora esteja definitivamente aposentada, superada que foi pela moderna tecnologia, sem contar com o boom das digitais. 

Quando a família aumentou com a chegada do primeiro filho, influenciado por um amigo, passei a me interessar por filmagens. Na época o equipamento acessível, financeiramente falando, era uma pequena máquina que filmava em Super Oito. 

Se por um lado o preço do equipamento era compatível com o meu orçamento, o preço de cada filme e sua revelação chegava a ser proibitivo. Cada filme não durava mais do que cinco minutos. 

Desta forma, sempre que fosse documentar um evento qualquer, eram necessários alguns filmes a mais. Mesmo assim me aventurei e adquiri uma filmadora, das mais simples, é verdade, pois não capturava o som. 

Registrei alguns momentos muito importantes da vida dos meus filhos, como por exemplo os primeiros passos do meu filho mais velho. 

Para adquirir aquela filmadora fui assistido pelo meu amigo Airton, que já tinha um pouco de experiência em filmagens. 

Sob sua orientação fomos até uma loja no centro da cidade onde comprei o equipamento e alguns filmes. O balconista que nos atendia já conhecia o Airton e passava a nós dois algumas informações adicionais, tendo em vista que a versão da filmadora que eu estava prestes a comprar era mais moderna do que aquela adquirida pelo meu amigo. 

O vendedor, então, fazia a demonstração das diferenças e vantagens do novo modelo. Num certo momento, o Airton indagou do balconista a finalidade de um determinado botão, inexistente na sua máquina. 

Do alto dos seus conhecimentos o balconista explicou que o botão “correge” a falta de luz quando o ambiente está um pouco escuro. 

Diante da resposta dada, o Airton saiu rapidamente do interior da loja. Sem saber a razão pela qual ele havia saído, na suposição de que algo muito grave ou ruim estivesse acontecendo eu fui atrás. 

Para minha surpresa encontrei o Airton encostado na parede, do lado de fora da loja, com acesso de riso jamais visto. Por educação ele fora extravasar o seu humor longe dos olhos do vendedor que nunca desconfiou que o seu deslize lingüistico pudesse provocar tamanha reação num cliente.

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