Nos tempos de criança, rolava muita bola, quase nunca de couro. De borracha ou de pano, conquanto que fosse redonda, era o que bastava. Mas conseguir uma bola de couro não era um sonho inatingível. Montar um "time" também não. Uniformizar o esquadrão é que era o problema. Começamos por fazer um caixinha que aumentava tipo conta-gotas. Então veio o Jânio Quadros e proibiu os jogos de azar. No clube do bairro, os mais velhos ficaram privados dos jogos de cartas. Nós, menores, que não tínhamos acesso ao carteado, brincávamos com os cartões de loto, o hoje difundido bingo. Pedras, grãos de milho e cartões e um "crupier" para iniciar a brincadeira. Os marmanjos viram naquilo uma solução para preencher as tardes de sábados e domingos. Só que eles jogavam por dinheiro. Então, nós, os menores, passamos a gerenciar a jogatina cujas apostas deviam ser módicas para que também pudéssemos participar do jogo. Como donos dos aparatos (cartões e pedras), cobrávamos um percentual a cada rodada. Foi a nossa fonte de renda. Quando acumulamos mil dinheiros, nosso sonho de comprar camisetas começou a se concretizar. Fui em diversas lojas e os preços sempre estavam distantes. Mas na loja Artefatos de Couro da família Mariani, acabei encontrando um conjunto de camisas a um preço acessível: um mil e duzentos dinheiros. A proprietária aceitou receber mil na hora e nos deu prazo para pagar os duzentos restantes, dívida que acabamos honrando poucos domingos depois, antes que os marmanjos sacassem que ali havia uma fonte de renda e tomassem o nosso lugar. Em preto e vermelho, as camisas tinham listras listras verticais que lembravam muito o Milan. Não tinham números nas costas, pois deveriam ser adquiridos separadamente. E também não tínhamos nenhum patrocinador. Mesmo assim estávamos realizados. O nome do time: Águia Negra.
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