domingo, 7 de abril de 2024

LITTLE ITALY

Noite de domingo em Nova York, no ano de 1997. O clima estava bem agradável e a viagem estava chegando ao fim. Nosso grupo original havia recebido o acréscimo de um casal de Curitiba, outro de São Paulo e um aposentado de Minas Gerais. Todos haviam entrado no clima descontraído da viagem. Mas também já estávamos em clima de despedida. 

Alguém do grupo sugeriu jantarmos num restaurante italiano, de preferência no bairro típico. Sugestão dada, sugestão aceita. 

O local que nos foi indicado parecia pequeno. No entanto, fomos encaminhados para uma outra sala existente nos fundos onde fomos todos acomodados numa única mesa, grande o bastante para dez pessoas ou mais. Era um ambiente bem simples, ou nada sofisticado, com mais uma ou duas mesas do mesmo tamanho, sugerindo que era um espaço reservado para as famiglie

Tudo transcorreu maravilhosamente bem. Com algumas taças de vinho a incentivar talentos, não precisou muito para que alguém iniciasse a cantoria, bem baixinho, do tipo intimista, só para nós mesmos. O colega mineiro revelou-se um ótimo intérprete da MPB. 

A coisa foi tomando corpo e o corpo e mente foram sendo invadidos pelos efeitos do vinho, de sorte que o volume chegou às outras mesas, uma em especial, que embora formada por italianos, não era barulhenta.  Pois foram eles que primeiro aplaudiram nossos cantores e até pediram bis e deram algumas sugestões. 

Formou-se um ambiente essencialmente fraterno e chegamos a ser brindados pelos nossos vizinhos com garrafas de vinho. Foi então que o nosso amigo paulista levantou e disse que iria brindar a todos com uma música. 

Certamente não era o efeito do vinho pois durante toda a viagem ele enfrentava um litro de whisky com muita determinação e naturalidade. Aplausos e silêncio. 

Alto e forte, para não dizer robusto, sua figura impressionava. Se cantasse bem, então, seria a glória. E foi. Fomos brindados com o clássico Granada, de Agostin Lara. 

Com uma voz potente, sem desafinar e com completo domínio do que estava fazendo, o nosso tenor foi conquistando a pequena e silenciosa platéia. Mas no fundo, todos esperavam o gran finale, quando os agudos exigem do intérprete muito mais do que técnica vocal. 

Pois ele não decepcionou e ainda deu-se ao luxo de alongar as palavras finais ...sangre y tesón. Os italianos que por ali estavam, que tradicionalmente cultuam vozes masculinas, notadamente os tenores, não cansaram de aplaudir o nosso colega, com não poucas expressões de bravo! bravo! E mais botiiglie di vino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário