É extremamente desagradável chegar ao destino e depois de aguardar na esteira e constatar que a mala não veio.
Não raras vezes é o próprio passageiro quem causa todo o problema, como aliás, aconteceu comigo. Meu destino era Brasília, partindo de Curitiba. Cheguei com bastante antecedência ao aeroporto, como sempre costumo fazer. Dirigi-me ao balcão da Varig (que saudade!) para os procedimentos de check in. Coloquei minha mala na balança e tão logo recebi o bilhete me dirigi à sala de embarque.
Chegando em Brasília, como de hábito, identifiquei a esteira pelo número do vôo e fiquei aguardando, na esperança de que ao menos uma vez na vida, a minha bagagem seria a primeira a apontar lá no início.
Não foi a primeira e nem a última pois quando não restava mais ninguém aguardando por sua bagagem percebi que a minha efetivamente não viera.
Fui registrar o ocorrido junto ao setor competente da companhia, com a preocupação precípua acerca dos processos que estavam na mala. Eram processos da Secretaria da Receita Federal, caso em que, além da reclamação de praxe junto à Varig, era necessário dar ciência do ocorrido à Polícia Federal.
Na hora lembrei de fato semelhante ocorrido com um colega de trabalho que teve sua mala extraviada e posteriormente localizada em Nova York.
Como primeira providência fui solicitado a apresentar o comprovante de embarque o que fiz de imediato, como de imediato a pessoa que me atendeu constatou que não se encontrava colado, como de hábito, o comprovante da entrega da bagagem.
Comecei a ficar preocupado pois não tinha como provar que efetivamente entregara a mala quando do check in.
Repassei mentalmente cada momento desde a chegada ao aeroporto até a entrega da mala e tinha absoluta certeza de que a mesma, ao menos, havia sido colocada na balança e não na esteira, junto ao balcão de check in.
Chegamos à conclusão de que simplesmente eu deixara a mala na balança, fato não constatado pela funcionária da Varig. Assim como não fui indagado acerca de bagagem a despachar, também não tive o cuidado de verificar se junto ao cartão de embarque estava afixado o respectivo comprovante de despacho.
Registrada a minha reclamação, nada mais havia a fazer. Recebi instruções que deveria aguardar. Nada mais. Minha esperança estava em que a mala estava identificada com o cartão smiles o que certamente ajudaria na localização da mesma.
Como no dia seguinte eu deveria comparecer ao trabalho, fui diretamente ao centro comercial para comprar meias, lenços e cuecas, além de uma camisa de colarinho. Só não precisei comprar um traje social pois viajei devidamente paramentado.
No dia seguinte recebi um telefonema da Varig me informando que a mala havia sido localizada em São Paulo. Efetivamente, só recebi a mala dois dias após o embarque.
Noutra oportunidade, saindo de Brasília com destino a Joinville, também viajando pela Varig, fiquei aguardando, aguardando e a mala não chegou. Neste caso a solução foi bem mais simples.
Em razão do atraso no trajeto Brasília-Congonhas, acabei perdendo a conexão para Joinville, o que fez com que esperasse o próximo vôo. Quando finalmente cheguei ao meu destino e constatando que a mala não viera, fui apresentar a necessária reclamação.
Nem bem comecei explicar a falta da mala e a pessoa que me atendeu indagou se não era aquela a minha mala, apontando para um lugar nos fundos da sala.
De pronto identifiquei-a e tudo ficou resolvido. Surpreso, desejei saber como a mala estava alí e não na esteira. A explicação foi de que a mala viera no vôo anterior. Convenhamos que a explicação não convenceu.
Em outra oportunidade ocorreu o extravio típico, daqueles que causam muito aborrecimento, haja vista que se tratava de uma viagem internacional, cujo destino era Frankfurt, caso em que o idioma alemão é uma barreira intransponível.
Era a nossa primeira viagem para a Europa e estávamos com um casal de amigos nossos. Nosso quartel-general na Alemanha seria numa pequena cidade chamada Neuhof, onde residem nossos amigos Kalle e Bruna, que foram nossos anfitriões.
Comunicamos a eles os horários de chegada no aeroporto de Frankfurt, distante cerca de cem quilômetros de Neuhof e eles se prontificaram em nos receber logo na chegada. Porém, nem toda programação acaba dando certo.
Ao chegarmos no aeroporto de Curitiba a primeira providência foi embalar nossas bagagens, o que protege as malas dos maus tratos dos carregadores e dificulta a ação dos, digamos, bisbilhoteiros. Depois, o tempo começou a fechar, baixando uma neblina muito espessa que simplesmente suspendeu pousos e decolagens. Com o imprevisto acabamos perdendo a nossa conexão para Frankfurt.
Depois de ajustar as mudanças que se faziam necessárias ligamos para a Alemanha avisando-os que chegaríamos no dia seguinte ao inicialmente combinado. Dormimos em Curitiba e nem abrimos nossas malas já que estavam embaladas.
No dia seguinte, bem cedo, rumamos para o Rio de Janeiro. Chegamos no aeroporto e logo providenciamos a custódia da nossa bagagem pois tínhamos todo o dia livre, já que o nosso vôo para Frankfurt sairia por volta de vinte e três horas.
Contratamos um taxista que ficou à nossa disposição todo o dia e aproveitamos para passear pela cidade maravilhosa, usando a mesma roupa do dia anterior.
Finalmente embarcamos rumo a Paris onde fizemos conexão para Frankfurt, lá chegando no horário previsto. Após a rotina de imigração, finalmente fomos apanhar nossas bagagens. Surpresa! As malas não chegaram.
Nos dirigimos ao guichê da Lufhtansa e depois de um longo e complicado interrogatório deixamos consignado o endereço para entrega das malas, quando e se viessem. Sorte minha que o Adolar, meu companheiro de viagem, falava alemão.
A Bruna nos recebeu no aeroporto e pediu desculpas pela ausência do Kalle, visto que naquele dia ele estava trabalhando num hotel de turismo, fazendo aquilo que sempre gostou de fazer: música.
Diante do extravio das nossas bagagens e pelo estado deplorável dos nossos corpos que pediam banho e roupas limpas, a Bruna nos levou para uma loja onde pudemos adquirir o necessário e possível. É que chegamos quase na de encerrar o expediente e horário, por lá, é sempre respeitado. Mesmo assim conseguimos comprar meias, cuecas, sabonete, creme dental e escovas, além de uma camiseta cada um.
Instalados no hotel próximo à casa dos nossos amigos, no dia seguinte a Bruna veio buscar-nos para um passeio pela cidade de Fulda, sendo que o Kalle só chegaria mais tarde do seu compromisso. Passeamos por Fulda, cidade cuja história se confunde com a própria história da Alemanha medieval.
Quando retornamos para Neuhof, mais precisamente para a casa dos nossos amigos, as nossas malas estavam depositadas na calçada, intactas, com a mesma embalagem que havíamos colocado no aeroporto em Curitiba.
O inusitado de tudo é que a rua defronte à casa dos nossos amigos não é muito larga. No passeio público tem um espaço para que eles estacionem seus automóveis já que não têm garagem. E não tem cerca!
Os funcionários da Lufthansa foram entregar as malas no endereço indicado e não tendo ninguém em casa, simplesmente deixaram as malas na rua, na certeza de que ninguém ousaria pegá-las.
Foi maravilhoso ver as nossas malas e mais maravilhoso ainda constatarmos a índole de um povo que respeita a propriedade alheia.
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