Os julgamentos pelo Tribunal do Juri, têm muito de teatro. Ouvi do escrivão de uma comarca do oeste de Santa Catarina, o fato que passo a relatar. Constatei que o mesmo faz parte do folclore da cidade.
Num determinado julgamento, Ambrósio (nome fictício adotado para os fins deste registro), fazia parte do corpo de jurados. Um tanto contrariado, acatou a convocação.
Como responsável pela venda de passagens junto à Estação Rodoviária, precisou deslocar sua esposa para cobrir a sua ausência.
Homem simples e de poucas letras, ao que parece já tinha firmado convicção acerca do resultado final do julgamento, independentemente dos argumentos da acusação e da defesa.
Leitura de relatórios, perícias, etc, foram consumindo as horas e a paciência dos jurados e do público presente.
Inúmeras testemunhas foram ouvidas. Pausa para um café, pausa para um pipi stop e veio a fase dos debates. Duas horas para a acusação. Duas horas para a defesa. O Promotor diz ao juiz que pretende usar o tempo que lhe assegura a lei para a réplica. O Juiz concede e lá se consome mais uma hora. A defesa lança mão do mesmo recurso e vai à tréplica.
Já passa da meia-noite. Os jurados, visivelmente exaustos, bocejam e tentam afastar o sono que se aproxima sorrateiramente, apesar do enorme consumo de café.
Apesar do café, Ambrósio sucumbiu. Apoiou a cabeça na balastrada à sua frente e... dormiu.
O defensor, em meio a um discurso inflamado, defendendo a tese da legítima defesa, aproximou-se dos jurados e bateu com a mão na balaustrada, dizendo mais ou o menos o seguinte:
- Seu Ambrósio, o que o senhor faria no lugar do réu? Ambrósio acordou sem entender o que estava acontecendo, de pronto respondeu:
- Passagem para onde?
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