quarta-feira, 13 de março de 2024

VENDEDOR DE PASSAGENS

Os julgamentos pelo Tribunal do Juri, têm muito de teatro. Ouvi do escrivão de uma comarca do oeste de Santa Catarina, o fato que passo a relatar. Constatei que o mesmo faz parte do folclore da cidade. 

Num determinado julgamento, Ambrósio (nome fictício adotado para os fins deste registro), fazia parte do corpo de jurados. Um tanto contrariado, acatou a convocação. 

Como responsável pela venda de passagens junto à Estação Rodoviária, precisou deslocar sua esposa para cobrir a sua ausência. 

Homem simples e de poucas letras, ao que parece já tinha firmado convicção acerca do resultado final do julgamento, independentemente dos argumentos da acusação e da defesa. 

Leitura de relatórios, perícias, etc, foram consumindo as horas e a paciência dos jurados e do público presente. 

Inúmeras testemunhas foram ouvidas. Pausa para um café, pausa para um pipi stop e veio a fase dos debates. Duas horas para a acusação. Duas horas para a defesa. O Promotor diz ao juiz que pretende usar o tempo que lhe assegura a lei para a réplica. O Juiz concede e lá se consome mais uma hora. A defesa lança mão do mesmo recurso e vai à tréplica. 

Já passa da meia-noite. Os jurados, visivelmente exaustos, bocejam e tentam afastar o sono que se aproxima sorrateiramente, apesar do enorme consumo de café. 

Apesar do café, Ambrósio sucumbiu. Apoiou a cabeça na balastrada à sua frente e... dormiu. 

O defensor, em meio a um discurso inflamado, defendendo a tese da legítima defesa, aproximou-se dos jurados e bateu com a mão na balaustrada, dizendo mais ou o menos o seguinte: 

- Seu Ambrósio, o que o senhor faria no lugar do réu? Ambrósio acordou sem entender o que estava acontecendo, de pronto respondeu: 

- Passagem para onde?

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