A Varig dava sinais de cansaço. Era bom viajar pela Varig, principalmente na hora do upgrade da classe econômica para a classe executiva, empregando como moeda de troca os pontos acumulados no programa smiles. Semelhante operação com a Tam nunca chega a bom termo, mesmo que a classe executiva não apresente ocupação integral.
Naquele ano nossa viagem terminou em Atenas de onde embarcaríamos rumo a Milão e depois para São Paulo. Ainda no hotel ficamos sabendo que o vôo Milão-São Paulo fôra suspenso, modificando completamente nosso retorno.
Nossos bilhetes foram remarcados para a Lufthansa, com destino a Munique de onde o vôo regular da Varig partiria rumo ao Brasil, como de fato partiu.
Vencida a etapa da imigração em solo alemão, somente pudemos realizar nosso chek-in algum tempo depois, o que implicou em permanecer com nossas bagagens durante todo o tempo de espera.
Estacionamos, por assim dizer, nas proximidades de um bar procurando descanso antecipado para o longo percurso que teríamos pela frente.
Indo ao balcão para comprar água mineral, um rapaz de origem oriental, seus olhos espichados o denunciavam, tentava dialogar com a garçonete, sem sucesso. Pela cena pude perceber que ele havia adquirido uma garrafa de água mineral e, educadamente, perguntava à garçonete se podia apanhar um copo. Só que se expressava, e com extrema dificuldade, em italiano!
- Posso prendere un bichiere?
Por seu turno, a garçonete, moça jovem e bastante encorpada, colocava as mãos nos quadris numa atitude que parecia de pura impaciência e respondia:
- English, please.
O suor que começava a brotar das têmporas do desolado oriental denunciava uma perigosa proximidade com o desespero. Tive a nítida sensação de que aquele embate havia se estabelecido há bastante tempo. De um lado o coreano, ou coisa que o valha, em terra estranha, com a paciência que Deus lhes deu. De outro lado, a prussiana impregnada de uma logicidade que só os prussianos têm.
Me dei conta que a dificuldade enfrentada pelo coreano iria repetir-se comigo, já que não falo alemão e apenas arranho algumas palavras em inglês e também iria comprar uma garrafa de água.
Mesmo assim, ensaiei uma frase capaz de salvar o rapaz daquele impasse e arrisquei:
- He whants a glass.
Eureka! Me fiz entender. A garçonete, com um gesto bem amistoso, como quem diz, era só isto? respondeu em alemão:
- Ja, ja. E talvez tivesse pensado - quanto tempo perdido por nada.
O coreano apanhou o copo, me agradeceu com aquele gesto reverencial próprio dos orientais de inclinar levemente o corpo à frente e saiu feliz da vida.
De minha parte, já não precisei parlamentar em qualquer idioma, pois o ato de apanhar a água e o copo, pelo que havia presenciado, não dependia de nenhuma autorização.
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