Bolívar Lamounier (*)
É difícil dizer o que é pior: dois grandes partidos abandonando sua tradicional moderação, como se vê atualmente nos Estados Unidos, ou um país virtualmente sem partidos, como é atualmente o Brasil, onde o que vemos é um conglomerado disforme que atende pelo nome de Centrão. Num caso ou noutro, o que precisamos ter em mente é que, com nossa renda por habitante crescendo a taxas anuais pífias, não está à vista o dia em que poderemos celebrar a superação da “armadilha do crescimento médio”. Bem ao contrário, outro confronto vitriólico como o de 2022 entre Lula e Bolsonaro nos afundará mais alguns degraus no fundo do poço.
Não descabe lembrar que não é só de partidos políticos que o Brasil carece. Não dispomos de uma elite no sentido apropriado deste termo: um grupo relativamente numeroso, competente, culto e genuinamente devotado ao bem coletivo. Temos, isto sim, um exíguo grupo de poderosos, dentre os quais seis ou sete por cento exercem um controle imexível sobre metade da riqueza nacional. Falta-nos igualmente uma classe média, ou algumas camadas que possamos designar como alta classe média, capaz não somente de identificar e defender seus próprios interesses, mas também de servir como um muro de arrimo, escorando e balizando as instituições da República, nos Três Poderes.
(*) Bolívar Lamounier é sociólogo e cientista político.
Trecho de artigo publicado no Estadão.
Fonte: brasildelonge.com
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