Carlos Heitor Cony
Não tendo votado em Lula nas últimas eleições (não votei em nenhum dos candidatos), critiquei aqueles que o julgavam despreparado para a presidência da República. A origem humilde, a falta de escolaridade e os erros gramaticais seriam irrelevantes diante da honestidade pessoal, da intimidade com os abrolhos da vida de operário e líder sindical, fundador de um partido, apoiado por intelectuais e universidades como a USP, por segmentos da Igreja e do empresariado mais progressista, pela quase unanimidade da classe artística.
Não faço parte de nenhuma dessas faunas da sociedade. Não esperava melhores dias, mesmo assim consegui a façanha de ficar decepcionado com a sua atuação no poder, bem antes dos atuais escândalos de seu partido e de seu governo.
Sabia que Lula mantinha sua liderança entre as conflitantes alas do PT na base de um afastamento tático das divergências quase homicidas que marcam a trajetória petista na vida sindical e política. Fatalmente levaria este afastamento para a presidência, acreditando que daria certo, não se mexe em time que está ganhando --ele aprecia as comparações com o futebol, sempre em proveito próprio.
Numa campanha aparentemente limpa (sabe-se agora que foi suja como qualquer outra) chegou ao poder reservando-se ao papel de presidente da Nação, deixando a presidência do governo para companheiros que o ajudaram a manter a liderança dentro de seu partido. Deu no que deu. Pior ainda: custou a admitir a lambança da qual, também aparentemente, só tomou conhecimento agora. Ninguém, nem mesmo ele, acredita nisso. Realmente, não estava preparado para governar um país e muito menos uma nação.
Fonte: Folha de S. Paulo - 16/08/2005
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