Compras não planejadas podem gerar dívidas e estresse
Comprar por impulso é um hábito que pode comprometer a saúde financeira e emocional de muitas pessoas. Muitas vezes, as compras por impulso são motivadas por sentimentos negativos, como ansiedade, tristeza, raiva ou tédio, que são aliviados temporariamente pela sensação de prazer e recompensa que a compra proporciona. No entanto, esse alívio é passageiro e logo dá lugar a um sentimento de culpa, frustração e arrependimento, que pode levar a mais compras por impulso, criando um ciclo vicioso.
Além disso, por não serem planejadas, essas compras podem gerar dívidas, que se acumulam com juros e multas, dificultando o equilíbrio financeiro e aumentando o estresse. Em julho de 2023, o juro do rotativo do cartão de crédito subiu para 445,7% ao ano, o que significa que uma dívida de R$ 1.000,00 nessa modalidade se transformaria em R$ 5.457,00 em um ano. Como evitar essa armadilha?
Para evitar esse tipo de situação, deve-se reconhecer o papel das emoções nas escolhas econômicas. Isso significa que elas influenciam as coisas que as pessoas querem comprar ou vender e também o quanto elas acham que essas coisas valem em dinheiro. Essa influência se dá ainda que a emoção específica seja causada por alguma ação anterior sem relação com a decisão naquele momento.
Para testar como o nojo e a tristeza afetam os preços que as pessoas pedem ou aceitam por um objeto, Jennifer Lerner e outros pesquisadores conduziram experimentos com estudantes universitários. Em ambos os testes, eles induziram o nojo ou a tristeza nos participantes, mostrando-lhes cenas de filmes que provocavam essas emoções ou fazendo-os beber uma bebida desagradável ou escrever sobre uma experiência triste. Em seguida, eles pediram aos participantes que indicassem o preço mínimo que aceitariam para vender ou comprar um produto.
Os participantes que sentiam nojo pediam preços mais baixos do que os participantes que sentiam tristeza ou neutralidade. Já os participantes que sentiam tristeza pediam preços mais baixos para vender, mas aceitavam pagar preços mais altos para comprar que os participantes que sentiam nojo ou não tinham emoções induzidas.
Em ambos os casos, a decisão econômica pode ser percebida como uma forma de alterar ou aliviar o sentimento do momento, ainda que gere consequências e emoções negativas no futuro. Ou seja, se alguém se sente triste e acredita que comprar uma roupa nova ou comer fora pode melhorar seu humor, pode acabar tomando uma decisão e se arrependendo depois pelo gasto desnecessário ou impulsivo. Em várias situações a tentativa de regular o próprio estado emocional é o principal mecanismo para a falta de controle de impulsos.
Sabendo disso, há estratégias possíveis para que a tentativa de mudar o incômodo não gere mais dor de cabeça depois. Um passo fundamental consiste em reconhecer e compreender as emoções que se manifestam. Por exemplo, quando sentimentos como ansiedade ou tristeza surgem, é válido se questionar se a compra desejada é uma real necessidade ou apenas uma tentativa de aliviar o desconforto momentâneo.
Outra estratégia útil é postergar qualquer decisão de compra até alcançar um estado emocional mais calmo ou positivo. Em vez de adquirir imediatamente algo que chame a atenção, pode-se criar uma regra de aguardar um dia ou mais para verificar se o interesse ou necessidade pelo produto ainda se mantêm.
É importante buscar alternativas para regular as emoções sem envolver gastos financeiros. Alguns exemplos possíveis são ouvir as músicas favoritas, fazer uma caminhada ou esporte, meditação ou conversar com os amigos.
Ignorar nossas emoções ao tomar decisões econômicas pode resultar em armadilhas financeiras e desgaste emocional. As compras impulsivas muitas vezes são feitas pela vontade de mudar sentimentos negativos, buscando alívio momentâneo. Entretanto, muitas vezes, ao tentar evitá-los, após essa satisfação momentânea, eles podem retornar na forma de culpa e arrependimento. Reconhecer nossos sentimentos e usá-los de forma consciente, em vez de reprimi-los, é essencial para fazer escolhas mais equilibradas.
Fonte: Folha de S.Paulo
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