Carlos Heitor Cony
Leio por aí que o presidente da República, sentindo-se ameaçado pelas elites, as classes A, B e C da sociedade, decidiu apelar para o eleitorado cativo que ainda continua a seu lado, expressando nas pesquisas de opinião a sua popularidade.
Já comentei, em outras oportunidades, que ditas classes não consomem jornais, revistas e canais pagos da TV --onde deitam e rolam as pesadas acusações feitas contra o PT e contra o governo, vale dizer, contra o próprio presidente da República.
Lula está coberto de razão. As elites são, realmente, culpadas pela dicotomia entre a massa e o povo. Pode parecer um paradoxo, mas há o povo e há a massa. Povo é o conjunto que inclui pobres e ricos, patrões e empregados, banqueiros e bancários, bons e maus cidadãos. Massa é a pasta informe, de gente marginalizada pelo sistema sócio-econômico vigorante em todos os países, com uma outra pontuação diferente, mas com o eixo comum da injustiça social, em muitos casos, como o nosso, levada aos extremos.
A culpa da elite é exatamente essa. Cria e mantém a massa que se distingue do povo, guardando-a para pasto da demagogia, munição que abastece os tiranos (não é o caso de Lula) e os corruptos ou cúmplices da corrupção (não creio na corrupção de Lula mas são lícitas as suposições de que ele foi e continua omisso, o que equivale a um tipo de lamentável cumplicidade).
Queira ou não queira, conscientemente ou inconscientemente, Lula é elite. Há anos é elite --e elite da elite ainda por cima. E como elite, se beneficia da massa na medida em que se esquece do povo.
Fonte: Folha de S. Paulo - 09/08/2005
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