Ruy Castro
A Fifa não sabe a que intimidades a Jules Rimet teve de se submeter em 1958
O turco Nusret Gökçe, o homem do bife de ouro na Copa do Mundo, é uma potência como açougueiro, chef e restaurateur. Tem 22 restaurantes em cidades internacionais, nos quais serve filés folheados a 24K, rasga os bifes com as próprias mãos na frente do freguês e os salga deixando o sal escorrer pelos antebraços nus. Segundo seus biógrafos, há algo nisso que atiça a lascívia de seus clientes e os faz salivar, um deles Ronaldo Fenômeno. Ronaldo levou os meninos da seleção brasileira ao restaurante de Gökçe em Doha e eles vibraram, embora não se saiba se isso influiu no fiasco do Brasil na competição.
Apitado o final de Argentina x França, Gökçe invadiu o gramado e foi fotografado na premiação segurando a Copa com as duas mãos, levantando-a como se a tivesse conquistado e beijando-a com a maior volúpia. A Fifa, dona do caneco, ficou tiririca —ninguém, exceto os jogadores e as autoridades, pode sequer tocar nele, quanto mais conspurcá-lo com tais intimidades. E promete tomar "providências apropriadas".
A Fifa trata esse troféu como se ele fosse o cetro do rei Salomão. E se ela soubesse o que aconteceu com a antiga Taça Jules Rimet, quando a conquistamos pela primeira vez, em 1958? A então CBD a trouxe para o Brasil, desfilou-a no carro dos bombeiros e, a partir dali, a taça não teve mais sossego.
Todas as cidades do país queriam conhecê-la, apalpá-la, lambê-la, e os cartolas não se faziam de rogados. Bellini, capitão do time, tinha de levá-la toda semana aos mais remotos grotões, onde ela era recebida pelo prefeito, estrelava banquetes, levava beijos estalados e passava de mão em mão, alguma talvez segurando uma asa de frango. E como era uma taça, feita para se beber o champanhe da vitória, usavam-na para beber de tudo, de cerveja Malzbier a ponche de ovos.
Anos depois, como se sabe, ela foi roubada e derretida. E só então descansou.
Fonte: Folha de S. Paulo
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