Fernando Albrecht
Leitora fiel observa que os homens ficam carecas com uma precocidade impressionante, e pergunta onde foram parar os cabeludos de antigamente. Verdade, mas a dermatologia (ou a genética) podem explicar.
Se é que não vão botar a culpa em algum vírus. Faltou explicação, é vírus. Ou poluição.
Nos anos 60, havia em Montenegro um cidadão que mal chegara aos 30 e já estava com o teto igual à bola de bilhar, o que o incomodava muito. E tratou de buscar a salvação da lavoura com dermatologistas. Depois, com psicólogos, curandeiros, pais de santo e até pajés.
Sem falar nas ervas caseiras recomendadas pelas comadres. E nada de crescer um só fio de cabelo.
Virou ideia fixa. Só falava nisso em toda roda ou encontro social. O que irritava todo mundo, porque ele se lamentava de como a natureza o tratara mal, que ele era um homem novo, mas careca, e assim ia ele desfiando suas chatas lamúrias.
Certo dia, ele estava em um jantar social qualquer, e mal veio a entrada, ele começou com sua ladainha capilar. Já tomei isso, já passei aquilo, nada. Quase chorava.
Então veio um cidadão, o Joceli, famoso por suas tiradas, entrou no assunto.
– Já experimentaste passar na careca sebo de capivara?
O prejudicado largou a faca e o garfo no prato, estupefato e esperançoso. Quem sabe não estaria no maior roedor do mundo a sua salvação?
– Mas nasce cabelo mesmo, de verdade?
Joceli fez suspense por algum tempo. Fez um sinal que estava com a boca cheia, mastigava e mastigava. O careca, ansioso, deu mais uma garfada no carreteiro de charque, tomou um longo gole de cerveja, olhou bem para a careca do outro e suspirou.
– Olha, isso eu não sei. Mas dá um brilho…
Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br