Ruy Castro
Uma obra-prima do cinema fez 80 anos, mas só os profissionais sabem quem estava por trás da câmara
"Casablanca", você sabe, é o filme em que Humphrey Bogart despacha Ingrid Bergman no avião para Lisboa durante a 2ª Guerra enquanto fica para trás com o chefe de polícia Claude Rains e os dois celebram o começo de uma longa amizade. Pois "Casablanca" fez 80 anos —foi lançado em Nova York no dia 26 de novembro de 1942. Oitenta anos! É quase contemporâneo de Lumière e, exceto pela tela quadrada e em preto-e-branco, podia ter sido feito ontem. Poucos filmes são tão eternos.
Mesmo os que nunca o viram sabem que, em certo momento, Ingrid pede ao pianista Dooley Wilson para tocar "As Time Goes By", a canção que embalava seu romance com Bogart em Paris. E ninguém desconhece a frase com que Bogart a faz conformar-se com a separação: "Nós sempre teremos Paris". Enfim, muitos sabem tudo sobre "Casablanca". A única pergunta capaz de embatucá-los é: quem é o diretor do filme?
Já ouvi responderem John Ford, Frank Capra, Fritz Lang, Orson Welles e até Stanley Kubrick. Claro, estes eram "autores", diretores-cabeça, independentes, e "Casablanca" é tão bom que só pode ter sido obra de um "autor". Mas não. Os críticos e cinéfilos profissionais sabem que "Casablanca" foi dirigido por Michael Curtiz. Michael quem? Era um diretor húngaro (1888-1962) emigrado para Hollywood e responsável por quase 90 filmes da Warner, entre dramas, musicais, de aventura, de guerra, de piratas. Todos comerciais, de grande bilheteria, e alguns fabulosos, como "Capitão Blood" (1935), "A Carga da Brigada Ligeira" (36), "Anjos de Cara Suja" (38), "As Aventuras de Robin Hood" (38), "O Gavião do Mar" (40), "Passagem para Marselha" (44), "Alma em Suplício" (45), "Êxito Fugaz" (50). E, ah, sim, "Casablanca".
Seus atores mais frequentes eram Bogart, Errol Flynn, James Cagney, Joan Crawford, Doris Day, tratados por ele a chicote. Com tudo isso, Michael Curtiz precisava ser "autor"?
Fonte: Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário