Carlos Heitor Cony
Nos últimos meses, cada aparição do presidente Lula, mesmo em redutos tradicionalmente simpáticos a ele, está sendo marcada por vaias e aplausos, variando as coordenadas, em alguns casos, mais aplausos do que vaias, em outros, mais vaias do que aplausos. Nem mesmo no desfile oficial do Sete de Setembro, Dia da pátria, as duas manifestações contrárias deixaram de funcionar. O que significa tudo isso?
Apressadamente, poderia concluir pelo óbvio, ou seja, não há unanimidade em torno do presidente --mas raramente existiu consenso durante governos anteriores. O que chama a atenção é que Lula, pessoa física, sempre foi bem recebido pelas multidões, mesmo aquelas que não integravam o seu partido. Era uma expressão do povo, espécie de duende que todos aplaudiam.
Mesmo como presidente da República, nos primeiros tempos, a pessoa física era maior do que a jurídica e ele era bem recebido, independentemente do protocolo.
Com a sucessão de escândalos que pelo menos até agora não o atingiram, o aplauso diminuiu, a vaia aumentou, ainda não se tornou unânime, mas parece que vai chegar. Não exatamente por causa dos escândalos, mas pela falência de seu governo, pela traição de seu programa, vindo lá de trás, da luta sindical. Em linguagem de futebol --que ele tanto aprecia--, Lula virou um cartola e sua popularidade depende da fase boa ou má do time.
E, aqui entre nós, o time está patinando, apoiado apenas na atuação da ala econômica. Um cartola, depois das sucessivas derrotas de seu clube, poderia consolar a torcida dizendo que o time está jogando mal mas não tem dívidas, o cofre está cheio. "Meno male" e, ao mesmo tempo, mais vaia.
Fonte: Folha de S. Paulo - 20/09/2005
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