Ruy Castro
Sem o produtor fonográfico, os discos que amamos nunca teriam sido gravados
Creed Taylor, um produtor fonográfico americano, morreu há pouco nos EUA e, desde então, esperei ler um artigo sobre essa categoria profissional quase invisível, sem a qual os discos que amamos não existiriam. Espero ainda. Para as massas, quem decide fazer um disco, escolhe as músicas e grava é o cantor, não? Mas não é assim. No tempo em que os discos dominavam a Terra, eram os produtores que descobriam, orientavam e até definiam os artistas.
Da cabeça e do coração de Creed Taylor saíram os melhores LPs de bossa nova nos EUA, como "Getz/Gilberto" e três grandes discos de Tom Jobim: "The Composer of Desafinado Plays", "Wave" e "Stone Flower". Quer mais? Goddard Lieberson, produtor da Columbia/CBS, foi o primeiro a gravar os musicais da Broadway com os elencos originais e, sob ele, em 1948, a Columbia lançou nada menos que o próprio LP. E quem, durante 40 anos, também na Columbia, descobriu e moldou Benny Goodman, Count Basie, Harry James, Billie Holiday, Aretha Franklin, Pete Seeger, Bob Dylan e Bruce Springsteen? O incrível John Hammond.
Quem produziu os famosos songbooks de compositores americanos estrelando, entre outros, Ella Fitzgerald? Norman Granz, na Verve. Quem lançou o pessoal do rhythm and blues, começando por Ray Charles? Nesuhi Ertegun, na Atlantic. Quem fez da Motown o berço da soul music? Berry Gordi Jr. E qual produtor dos Beatles chegou a ser chamado de "o 5º Beatle"? George Martin.
No Brasil, Aloysio de Oliveira, Roberto Quartin e Armando Pittigliani foram produtores essenciais da bossa nova —e Pittigliani lançou Sergio Mendes, Jorge Ben Jor e Elis Regina, que tal?
E quem diria que, como produtor na nanica Continental dos anos 1940 e 1950, João de Barro, Braguinha, sinônimo do Carnaval carioca, lançou tanta gente boa? Alguns: Dick Farney, Lucio Alves, Doris Monteiro, Nora Ney, Tito Madi, Jamelão e, veja só, Tom Jobim.
Fonte: Folha de S. Paulo
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