domingo, 20 de agosto de 2023

A CONTROVÉRSIA SOBRE A PATERNIDADE DO FUTEBOL BRASILEIRO

 Marcelo Duarte

Charles Miller é oficialmente o pai, mas relatos envolvendo outras partidas deixam

Para homenagear o Dia dos Pais, que será celebrado amanhã, que tal lembrarmos alguns deles? A começar pelo dicionário, o famoso "pai dos burros" (essa história vale uma coluna inteira, que prometo escrever muito em breve).

Tivemos o presidente Getúlio Vargas, que se autoproclamava "o pai dos pobres" (conversa que os políticos até hoje vivem repetindo, em vez de combater a pobreza). Este ano, celebramos também os 150 anos do nascimento de Alberto Santos Dumont, "o pai da aviação". O narrador Osmar Santos era conhecido como "o pai da matéria". E por aí vai.

Mas, já que estamos na reta final da Copa do Mundo de futebol feminino, resolvi contar sobre uma controvérsia a respeito do processo de paternidade do futebol brasileiro. Afinal, quem é o verdadeiro "pai do futebol brasileiro"? Será que precisaremos fazer o teste de DNA em algum programa sensacionalista da TV?

Essa resposta é muito simples, Curioso! Charles Miller é o pai do futebol brasileiro. Tanto que batizou aquela praça enorme em frente ao Estádio do Pacaembu, não é?

Oficialmente, sim. Filho de pai escocês e de mãe brasileira (filha de ingleses), Charles William Miller nasceu em São Paulo, em 24 de novembro de 1874. Miller morou e estudou na Inglaterra entre os 10 e os 20 anos, onde conheceu o futebol.

O "football", como conhecemos hoje, surgiu em 1848 na Universidade de Cambridge, depois de uma conferência que estabeleceu a proibição de usar braços e mãos no jogo. Em 1863, as 17 regras do futebol foram unificadas numa reunião que aconteceu na Taberna Freemason, em Londres.

Miller jogou pelos times da escola, Banister Court School, e da cidade, St. Mary’s (o atual time profissional do Southampton). Em fevereiro de 1894, de volta ao Brasil, ele trouxe duas bolas, uma bomba para enchê-las, um par de chuteiras e um livro de regras.

Ele organizou o primeiro jogo oficial do Brasil, em 14 de abril de 1895, na Várzea do Carmo, em São Paulo. A partida foi disputada por times formados por ingleses e anglo-brasileiros. O São Paulo Railway ganhou da Companhia de Gás por 4 x 2.

Então qual é a dúvida de que Charles Miller é "o pai do futebol brasileiro"?

Há relatos de que, em 1875, um ano depois do nascimento de Charles Miller, empregados de companhias inglesas jogaram futebol no campo do Rio Cricket Club, na rua Paysandu, Rio de Janeiro.

Três anos depois, em 1878, marinheiros ingleses do navio Crimeia, ancorado no porto do Rio de Janeiro, teriam jogado bola em frente à residência da princesa Isabel, no bairro das Laranjeiras. Pesquisas, porém, não comprovaram a passagem de um navio britânico com esse nome pelo porto carioca naquele ano.

Entre 1880 e 1887, no Colégio São Luís, em Itu (SP), depois de uma série de viagens pela Europa, o padre José Mantero trouxe duas bolas inglesas e instituiu um jogo de bate-bola na parede chamado de "bate-bolão", entre alunos e padres-professores, como faziam os estudantes do tradicional colégio britânico Eton.

Tá vendo? Jogavam sem seguir as regras. Charles Miller fez tudo organizadinho. Por isso, ele é reconhecido no mundo inteiro como "o pai do futebol brasileiro", sacou?

Mundo inteiro? Na Escócia, não.

Eles deram essa honra ao operário escocês Thomas Donohoe, que desembarcou no Rio de Janeiro, contratado pela Companhia Progresso Industrial do Brasil, uma fábrica de tecidos no bairro de Bangu.

Três meses depois, chegou a mulher de Donohoe, trazendo-lhe uma encomenda: uma bola de futebol, usada para jogos com seus companheiros de trabalho, nos domingos de folga. Segundo relatos, a primeira partida foi disputada em 9 de setembro de 1894, sete meses antes do jogo de Charles Miller.

Por isso, na Escócia, Donohoe é celebrado como "o pai do futebol no Brasil". Há uma estátua em homenagem a ele em Bangu.

Fonte: Folha de S.Paulo - 12/08/2023

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