domingo, 13 de agosto de 2023

OS PERIGOS DA LINGUAGEM POR SINAIS

Fernando Albrecht
Casamento clássico, noivos no altar, padre de prontidão, padrinhos em meia lua, mães emocionadas, pais nervosos. Ela, moça mui prendada, de família distinta há gerações, algumas malcriações bem escondidas no fundo do baú, como em quase todas as células familiares.

Ele, um rapaz de origem humilde, um tremendo de um simplório. Conheceu a noiva e, sem querer querendo, por ela se apaixonou e vice-versa. A família dela se consolava, murmurando que, pelo menos, ele era honesto, decente, um não corrupto, mesmo que temporariamente.

O padre já tinha feito as preliminares da cerimônia. Então, era hora da troca de alianças.

Ocorre que elas estavam no bolso do terno novo do rapaz. E ali permaneceram em estado de hibernação e escuridão por falta de memória do dono.

O padre olhou fixamente para o noivo como a dizer "cadê as alianças?", é tudo contigo e vai logo porque tenho outro casamento em seguida. E ele com aquela cara de babaca de quem não está entendendo nada.

A noiva começa a suar, o que será que houve, será que ele esqueceu as alianças, meu Deus! Como o noivo estava com a ficha presa atrás da orelha, o padre entendeu que era hora de ação.

Com o polegar e o indicador da mão direita fez um "O" e nele enfiou o dedo anelar da mão esquerda. Mudou o "O" para cima e para baixo discretamente para ver se o noivo, enfim, entendia que era hora do anel para toda a vida. Diabo de sujeito sem noção.

Por alguns segundos, o rapaz ficou perplexo olhando o vai e vem do "O" no dedo anelar do homem de Deus. Finalmente, seu rosto se transformou e abriu um largo sorriso.

Tinha captado a mensagem. Meio que protegendo a lateral da boca com a mão, com sorriso maroto, cochichou de forma que só o padre ouvisse.

– Hiii! Há muito tempo, seu padre… 

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br

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