Carlos Heitor Cony
O assunto da semana ainda é o referendo do último domingo. Ao encampar a consulta popular, o governo conseguiu uma cortina de fumaça para a crise que está atravessando, desviando as atenções do país para uma questão que aparentemente tem a ver com a onda de crimes que se abate sobre nós, mas distorcendo o problema, atribuindo a violência às armas e não aos violentos, que continuam a existir e a agir com ou sem armas de fogo.
Paralelamente, tivemos o previsível desfile de opiniões, a turma do Bem, dos politicamente corretos, apoiando a proibição das armas, responsáveis pelas desgraças da humanidade. Do lado contrário, os Maus, os violentos, os sem-entranhas que defendem o comércio das armas para dar vazão aos bestiais instintos que cultivam com a habitual ferocidade.
Como são manjados, os Bons e os Maus, nem se precisa ver ou ouvir o desfile. Sabemos de que lado estão Agnaldo Timóteo, o coronel Erasmo Dias, o Bolsonaro, o Severino, o Maluf, o povo do Mal em peso, berrando por armas, clamando por fogo e ranger de dentes.
De outro, os Puros, os de coração limpo e sem mácula, as Vestais de sempre que elegeram Lula e acreditam que o PT é a salvação da lavoura e do povo.
Nas últimas eleições presidenciais, a atriz Regina Duarte foi crucificada pela mídia e pelos colegas de profissão, discriminada como a ovelha negra do rebanho, condenada e sacrificada em nome do Bem e do Lula --que pareciam a mesma coisa.
Fonte: Folha de S. Paulo - 25/10/2005
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