Qualquer um de nós, em qualquer lugar ou situação que se encontre, sentirá o grau de indignação contra a onda de escândalos que há meses devasta a nação, onda nascida e sustentada por uma unanimidade rara na história de qualquer país. Somente em casos de guerras declaradas consegue-se tal e tamanho consenso: todos são contra a corrupção, todos acreditam que as práticas da nossa política chegaram ao nível mais baixo.
Não sei por que, lembrei ainda há pouco um comentário de Mussolini, o ditador que levou a Itália à tragédia. Um repórter inglês, quando o regime fascista começou a despencar, revelando os crimes e erros daquele período nefasto, perguntou-lhe se era difícil governar os italianos. Mussolini respondeu: "Não é difícil. É inútil".
Mudando-se o contexto, pulando da Itália devastada pela guerra para o Brasil invadido pelos delúbios e valérios, indagamos uns aos outros se é difícil consertar a vida pública nacional, colocando-a nos trilhos da decência e da eficiência.
A resposta poderia ser a mesma de Mussolini: não é difícil. É inútil. Pode parecer pessimismo da parte do cronista --e é mesmo. Tal como se pratica a política, e não apenas no Brasil mas em todos os países, e desde a mais remota antiguidade, a corrupção é o óleo viscoso e nauseabundo que lubrifica os cilindros da máquina oficial, fazendo-a funcionar, às vezes surpreendentemente bem, às vezes rateando e pifando.
Sem óleo, nada funciona. Evidente que a constatação chega a ser repugnante, mas assim é, assim sempre foi. Joga-se ao mar alguns culpados, os mais evidentes. Poupa-se outros e todos se salvam. Assim caminha a humanidade.
Fonte: Folha de S. Paulo - 27/09/2005
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