Marilise Brockstedt Lech
A chave para que o processo de humanização pela educação aconteça está nas pessoas e nas trocas que acontecem entre elas. Estas trocas acontecem por meio de um “fio invisível” que se forma na medida que existe uma boa comunicação, respeito e aceitação das diferenças, alegria pelo encontro e confiança no vir a ser de si e do/no outro.
A história da humanidade mostra o quanto as revoluções são necessárias para que hajam saltos no desenvolvimento humano. Passados os períodos da pré-história, o período clássico da Grécia e Roma antigas, a Idade Média, a Renascença – revolução das artes, a revoluções da ciência, da indústria e da tecnologia, faz-se urgente que a revolução da consciência humana se intensifique, caso contrário, tudo que se criou até aqui, pode voltar-se contra nós.
As tecnologias podem nos ensinar, mas não são capazes de nos educar. Nos tornam sujeitos mais informados, mas não sujeitos mais humanos, no sentido de sentir-se integrado a uma comunidade humana que se solidariza com “seus outros”.
A chave para que o processo de humanização pela educação aconteça está nas pessoas e nas trocas que acontecem entre elas. Estas trocas acontecem por meio de um “fio invisível” que se forma na medida que existe uma boa comunicação, respeito e aceitação das diferenças, alegria pelo encontro e confiança no vir a ser de si e do/no outro.
Para sermos humanos, não basta nascermos com a mesma fisiologia do homo sapiens. Precisamos nos desenvolver na maneira de viver em uma comunidade humana. Assim, a educação é o processo de transformação que acontece a partir da convivência, que nos leva a nos reconhecermos, também, no outro. É esta “ecologia” que forma, em nós, a capacidade de justiça, empatia e amor. Para Maturana (2014) é o amor que cria os “fios invisíveis”, pelos quais “desliza” a educação humana entre as pessoas.
Em tempos de alto desenvolvimento tecnológico, de conhecimentos prontos e de fácil acesso, as instituições de ensino de todos os níveis buscam se reinventar.
O momento de transição que vivemos requer o estabelecimento de novos paradigmas que tenham base em concepções mais integrativas, interdisciplinares e complexas – tecidas em rede, em contrapartida ao pensamento fragmentado e até mesmo descontextualizado que caracterizou o último século.
Não cabe mais a transmissão de conteúdos com ênfase na memorização sendo apresentados a estudantes enfileirados, debruçados sobre suas classes. O desafio é que os professores façam tudo aquilo que as máquinas não conseguem fazer, tal como dar sentido ao conhecimento, gerar emoção, ser exemplo de profissional comprometido, criar engajamento, etc… ou, seja, a pessoa que ele é, conta tanto quanto os conhecimentos que ele tem.
Além de ser um provocador e de instigar a curiosidade e a capacidade crítica dos estudantes, a fim de que eles sejam ativos nestes processos de mudança, o professor precisa estar consciente do quanto influencia seus alunos a serem boas pessoas e bons profissionais. Assim, o processo educacional não ocorre apenas no nível do saber, mas como defende Delors (1999), ocorre também com base nos pilares do fazer, conviver e ser.
A era digital chegou para facilitar a comunicação e ampliar a difusão de informações. Contudo, isso não significa que vai favorecer o desenvolvimento humano. O que temos em mãos só ganha sentido quando sabemos utilizar na direção do bem e do bem-estar das pessoas, conduzindo-as, como diz Cortella (2014) a um “Eu maior”, que ultrapassa o individualismo e enxerga o mundo ao redor como uma extensão de si mesmo, a partir da empatia e da sinergia que deve harmonizar as relações entre as pessoas, as coisas e o mundo.
* Esta reflexão foi publicada na Revista Água da fonte, revista da Academia Passo-Fundense de Letras, ano 17, Número 20, Dezembro de 2021.
Autora: Marilise Brockstedt Lech, Psicóloga Educacional, Doutora em Educação, Cadeira 39 da APLetras
Fonte: https://www.neipies.com
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