Meraldo Zisman*
Todas as atividades humanas possuem aspectos positivos e negativos e as novelas televisivas não são exceções. Independentemente dos gostos pessoais, elas fazem parte do imaginário dos brasileiros e ocupam horários nobres da televisão, assistidas por todas as camadas sociais, desde as favelas até os apartamentos de luxo.
Como um antigo pediatra, lembro-me da luta pela promoção da amamentação natural, quando a mamadeira de leite em pó era mais valorizada do que o leite materno. Naquela época, era necessário lutar contra o poderoso marketing das empresas fabricantes de leite em pó, enfrentando uma batalha desigual. Alguns slogans utilizados para incentivar a a mamentação materna eram ineficazes e até mesmo mentirosos, como a alegação de que amamentar deformava as mamas ou impedia a emancipação das mulheres. Enquanto isso, o leite em pó era endeusado e havia lendas contra a amamentação. Mas, de repente, um aliado inesperado se juntou à batalha pela amamentação materna: uma novela das oito que mostrava a protagonista amamentando seu filho. Foram necessárias apenas algumas apresentações da atriz amamentando na televisão para que a luta contra as fábricas de leite em pó fosse vencida.
Embora não se possa atribuir diretamente a vitória às novelas, elas tiveram um papel importante na promoção positiva do aleitamento materno. Isso mostra que é possível extrair algo positivo até mesmo das coisas ruins, como a importância que as novelas podem ter na formação cultural dos brasileiros.
Em um país ainda carente de estrutura cultural, as novelas têm um papel significativo na transmissão de valores e costumes. Elas retratam a sociedade e a cultura brasileiras, abordando temas como amor, família, religião, política e questões sociais. Além disso, muitas novelas são baseadas em livros clássicos da literatura brasileira, contribuindo para a valorização e divulgação da nossa cultura.
No entanto, é importante ressaltar que a televisão é apenas uma das fontes de cultura e informação disponíveis e que a formação cultural não depende apenas dela. A internet e outras formas de mídia surgiram há pouco e trouxeram novas possibilidades de acesso à cultura e ao conhecimento. Não obstante, as novelas televisivas foram uma das principais fontes de formação cultural dos brasileiros por décadas e ainda têm um lugar importante na nossa sociedade, mesmo nesta era de tantas informações e mensagens verdadeiras ou falsas.
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*Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.
Fonte: https://www.chumbogordo.com.br/
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