Carlos Heitor Cony
Não sei se é verdade. Dizem que Santos-Dumont suicidou-se quando soube que, durante a Guerra Mundial, a primeira, de 1914 a 1918, estavam usando aviões para bombardear cidades indefesas. Não fora para isso -- pensava ele-- que inventara a navegabilidade no ar, façanha que ninguém lhe contesta, tampouco inventara o avião, cuja autoria lhe é indevidamente negada pelos norte-americanos.
Excetuando o Dr. Guilhotin, que construiu um aparelho específico para matar mais rapidamente durante os anos do Terror, na Revolução Francesa, em geral o pessoal que inventa alguma coisa pensa em beneficiar a humanidade, dotando-a de recursos que tornam a vida melhor, se possível para todos.
Mesmo as invenções coletivas, nascidas de um processo científico e tecnológico, como a internet, nasceram de boas intenções, para melhorar a comunicação humana e, com isso, dotar a humanidade de uma ferramenta mais do que útil: benéfica.
Mas tal como aconteceu com os aviões do Santos-Dumont, espíritos de porco de todas as latitudes e tamanhos dela se utilizam para aquilo que o Roberto Jefferson, a respeito do Zé Dirceu, chamou de instintos mais baixos, ou instintos primitivos - o que dá na mesma.
Não me refiro à pirataria dos textos --que rolam pela internet com assinaturas falsas e calúnias generalizadas. Falo das informações erradas, copiadas umas das outras, e apresentadas como Tábuas da Lei, substituindo dicionários, livros de história, ciência ou arte. Qualquer um que tenha acesso ao computador, pode, com um simples acesso a determinados provedores, emitir opiniões sobre as relações sexuais de Maria Madalena, filosofia quântica, campeonato de bridge na Inglaterra, peso dos astros e doenças venéreas das prostitutas de Bombaim.
Fonte: Folha de S. Paulo - 27/12/2005
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