domingo, 28 de maio de 2023

A IMOBILIDADE DA MORTE

Fernando Albrecht
Nos tempos em que a televisão ainda não tinha a mobilidade de hoje, o rádio marcava presença constante no que se passava nas ruas da cidade. E também fazia promoções para envolver a comunidade. De preferência, com patrocínios de empresas com foco na casa e na cozinha. Um deles era o “Feijão Alfredinho vai à sua casa”, da Rádio Farroupilha – a marca existe até hoje.

O âncora era o radialista Rubens Pinto, que fazia às visitas que o nome do programa já esclarece usando o vozeirão em altos decibéis como era costume. A emissora pertencia ao poderoso grupo Diários e Emissoras Associadas, e ostentava orgulhosa o prefixo PRH 2.

Numa dessas incursões a residências sorteadas, cedo de manhã a viatura da Farroupilha passou pela esquina da Venâncio Aires com Lima e Silva. Um grave acidente terminou com um pedestre morto, caído na rua.

Pinto então narrou o acontecido com riqueza de dados e testemunhas. De tarde, Rubens passou pelo mesmo local e o falecido ainda estava caído de bruços na rua. Então Rubens Pinto impostou a voz revestida de gravidade que a sofisticação exigia e contou o causo como o causo foi. E finalizou:

– E lá estava o cadáver, imóvel.

Também tem a história do jornalista que cobria o Palácio Piratini. Meio ruim das letrinhas, vivia passando matéria por telefone para o falecido jornal Diário de Notícias.

Um dia, o chefe estrilou e mandou que ele batesse a matéria na redação. Sentado na máquina de escrever, perguntou ao editor se hospício era com H. Claro que leva, bufou o chefe. No outro dia saiu essa.

– Sob os hauspícios da Primeira Dama do Estado….

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br

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