Ruy Castro
Para a Rolling Stone, não existiu música antes de 1960 nem em outras línguas
Enquetes de revistas são sempre divertidas: as 10 melhores cidades do mundo para se morrer de tédio, os 50 maiores goleiros de todos os tempos, os 100 melhores nhoques do planeta. Não haverá leitor que concorde com a lista final — sempre faltará uma cidade, um goleiro ou um tipo de molho que ele acha insuperável. Quanto a mim, nunca discuto. Sei que essas listas são apenas a média das preferências em dada época e que podem mudar de uma enquete para outra.
A revista Rolling Stone acaba de anunciar os 500 melhores álbuns da história. Entre os dez primeiros estão "Thriller", com Michael Jackson, "The Doors", com os próprios, "Hunky Dory", com David Bowie. Já "Sgt. Pepper’s", dos Beatles, costumeiro campeão dessas listas, foi chutado lá para baixo. Ignorante em rock, não tenho autoridade para opinar. Mas discordo dessa classificação de "os 500 melhores álbuns da história".
A revista queria dizer os melhores da história do pop-rock, não? Pelo que li, nenhum álbum de outro gênero está entre os 500, assim como nenhum anterior a 1960. Talvez não existisse música antes disso. Mas os álbuns surgiram em 1948, como LPs de 33 r.p.m., e se consagraram nos anos 50 e 60. Será que nenhum daquele tempo emplacaria entre os 500? Nada de Sinatra, Ella Fitzgerald, Louis Armstrong, Charles Mingus e dezenas de outros que você poderia citar? Isto para ficarmos só entre os artistas de língua inglesa, já que, para a lista da Rolling Stone, também parece não haver música em outras línguas.
Mas o que dizer de álbuns de Elizeth Cardoso, Dorival Caymmi, João Gilberto, Tom Jobim, Elza Soares, Nara Leão, Chico Buarque, Paulinho da Viola, da querida Gal Costa e de tantos outros? (Por favor, acrescente os seus).
E quanto ao México, França, Argentina, Cuba? Esses países também sempre fizeram grande música. Só que, infelizmente, em seus estilos, ritmos e línguas originais.
Fonte: Folha de S.Paulo - 12.nov.2022
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