Carlos Heitor Cony
Vejo pesquisa feita durante as festas de fim-de-ano sobre a melhor banda existente no mundo e no Brasil. Praticamente, não houve duas opiniões iguais. Caras legais e caretas, gente pobre, gente rica, todos tinham preferências em bases radicais, não admitiam concorrência, escolhiam determinada banda e amaldiçoavam as outras, eliminando fisicamente as demais.
Confesso (desnecessariamente) que não conhecia a maioria das bandas citadas. Mas me admirei que ninguém citasse a única banda que é banda incontestavelmente, a Banda dos Fuzileiros Navais (reconheço que esta é forte, mas que fazer?)
Excetuando os dobrados militares, que trazem péssima recordação dos tempos totalitários, o repertório é quadrado mas vai fundo no osso, com os sucessos de ontem certamente, mas que amanhã continuarão sendo lembrados e tocados.
Inclusive "A banda", do Chico Buarque, que foi o chute inicial de sua carreira. Que nada mais é do que uma homenagem às bandas que passavam e havia alguém a toa na vida para ver a banda passar.
O conceito de banda mudou, o repertório também. Um repertório elástico, que funciona como um fósforo que se risca, ilumina por um momento, pode até transmitir sua chama a uma vela mais duradoura, e de uma vela acender outras, milhares de chamas clareando a vida e o mundo de forma permanente.
Na alternativa, um fósforo aceso pode botar fogo numa casa, numa rua, numa cidade. Mas depois acaba como um fósforo queimado --uma das metáforas mais usadas para expressar a inutilidade de uma coisa ou causa.
Qualquer banda, esta ou aquela, das centenas que surgem todos os dias e em todas as partes, cumprem sua função de fósforo, valem enquanto estão acesas, iluminando um mundo que, sem elas, seria mais triste e escuro.
Fonte: Folha de S. Paulo - 03/01/2006
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