domingo, 30 de abril de 2023

QRCODISMO, A NOVA DISCRIMINAÇÃO

Hélio Schwartsman

Pessoas que, como eu, não têm celular se veem cada vez mais excluídas de serviços

Sociedades são sempre rápidas em criar formas de exclusão. Venho experimentando na pele uma, que meu filho Ian bem-humoradamente batizou de QRCodismo. Eu explico. Não tenho celular. Não costumava ser um problema, mas, nos últimos tempos, o cerco à minoria desprovida desses apetrechos vem se fechando. Cada vez mais, empresas e instituições apostam em avanços tecnológicos baseados nesses aparelhinhos sem se preocupar em oferecer alternativas.

O que mais me atrapalha hoje são as instituições financeiras. Elas cobram cada vez mais fatores de identificação e quejandos que eu, com um velho PC, já não sou capaz de produzir. Quem sofre para resolver minhas dificuldades são os gerentes e assessores financeiros, que, pelo menos até aqui, têm conseguido dar um jeito de me manter bancariamente viável. Mas eu durmo de consciência tranquila. Eles são remunerados justamente para resolver os problemas concretos de seus clientes. Se fosse só pelas dicas de investimento, em breve seriam substituídos pelo ChatGPT.

Mais irritantes talvez sejam os restaurantes. E não me refiro apenas à mania de não oferecer mais cardápios físicos, delegando essa tarefa a um QR Code (daí o nome QRCodismo para esse tipo de discriminação). As casas mais moderninhas já exigem que o cliente faça seu pedido pelo celular, prática que me relega à inanição.

Apesar do aprofundamento do QRCodismo, me recuso a fazer-me de vítima. Não ter celular é uma opção da qual não me arrependo. Sempre posso recorrer aos clássicos. Os restaurantes mais tradicionais sempre serão fiéis aos cardápios físicos, com caligrafia caprichada. Os vetustos bancões, por contarem com rentáveis carteiras de clientes velhinhos, ainda manterão por um par de décadas rotas de sobrevivência para os sem celular. Uma das razões por que rejeito esses aparelhinhos é que fazê-lo me dá mais tempo para ler, tanto os clássicos como os modernos.

Fonte: Folha de S. Paulo

O CÃO ANTIAÉREO

Fernando Albrecht 

No final dos anos 1980, um helicóptero que levava o então secretário da Saúde do RS, Sérgio Bechelli, e seu antecessor Germano Bonow, foi abatido por um… cachorro. Os dois iam a um evento oficial na cidade de Tavares, no Litoral gaúcho.

Ventava muito, e o piloto procurou se proteger em um barranco junto a um campinho de futebol. Lá de cima, um cão observava a manobra. E o que fez o danado do bicho?

Atirou-se contra o rotor de cauda, que descontrolou a chamada aeronave de asas rotativas. O veículo veio ao chão com violência, quebrando o trem de pouso e ferindo um tripulante e mais um passageiro. Tanto Bechelli quanto Bonow estão aí para confirmar a história.

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br
Se não sabes, aprende; se já sabes, ensina. (Confúcio)

LUGARES

LOURDES - FRANÇA
Lourdes é uma cidade no sudoeste da França, na base dos Pireneus. É conhecida mundialmente pelo Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, um importante local de peregrinação católica. Todos os anos, milhões de pessoas visitam a Gruta de Massabielle, onde, em 1858, a Virgem Maria teria aparecido para uma mulher que vivia no local. Os peregrinos podem beber ou tomar banho na água que brota de uma fonte na gruta. ― Google

A HISTÓRIA DA MULHER QUE INVENTOU O ROCK

Mariana Felipe

Poucos sabem o seu nome, mas a verdade é que sem Sister Rosetta Tharpe não teríamos o rock como o conhecemos hoje. Nascida em 1915, numa pequena cidade do Arkansas, Rosetta cresceu entre campos de algodão e teve grande influência da espiritualidade Batista, igreja que frequentava com sua família.

Aos seis 6 de idade, assumiu o piano do coral da igreja e começou a mostrar os trejeitos que marcariam sua carreira como artista: uma voz potente, ousadia no palco e muita habilidade ao tocar. Com o passar do tempo, ela assumiu a guitarra como seu instrumento favorito e logo começou a ser sondada por gravadoras.

Em 1938, ela gravou suas primeiras músicas para a Decca Records, com o apoio da orquestra de jazz de Lucky Millinder. “Rock Me”, uma canção gospel, se tornou um hit pela mistura de ritmos. E, ainda que a ousadia de Rosetta não tenha conquistado o público evangélico, ela alcançou grande popularidade na década de 1940 e conseguiu um feito inédito: colocar músicas religiosas no top 10 da Billboard.

Como uma mulher negra, suas conquistas eram impensáveis em um Estados Unidos segregacionista. Mas, ela também não teve medo de confrontar os preconceituosos. Na década de 1950, ela saiu em turnê com os The Jordanaires, composta apenas por músicos brancos — a mesma banda que mais tarde trabalharia com Elvis Presley.

Com sua guitarra elétrica e letras espirituosas, Sister Rosetta foi a influência de grandes nomes do rock, como o próprio Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard, que abriu alguns shows da cantora ainda na adolescência. Ela também foi citada como uma heroína por Johnny Cash, em um discurso proferido pelo músico em 1992.

Aos poucos, a fama de Rosetta foi ofuscada pela ascensão daqueles influenciados por ela. Antes de encerrar de vez suas apresentações, em 1970, a cantora ainda se aventurou pelo blues e participou de algumas turnês pela Europa. Sister Rosetta Tharpe morreu em 1973, vítima de um derrame. Em 2018 ela foi reconhecida pelo Hall da Fama do Rock ‘n’ Roll.

Para os que desejam conhecer um pouco mais sobre essa mulher afro-americana revolucionária, conhecida como a “madrinha do rock”, a Revista Bula disponibiliza abaixo uma playlist do Spotify, com 23 canções de Sister Rosetta. Para ouvi-la, é necessário possuir cadastro no aplicativo e realizar login. Há opção de assinatura gratuita.


Fonte: https://www.revistabula.com

TAKE FIVE

 THE DAVE BRUBECK QUARTET

FRASES ILUSTRADAS

sábado, 29 de abril de 2023

PODEMOS USAR REMÉDIOS VENCIDOS?

Hélio Schwartsman

Boa parte das drogas dura muito mais do que prazo estimado por fabricantes

Deu na Folha que, de 2019 para cá, o Ministério da Saúde descartou R$ 2,2 bilhões em vacinas e medicamentos cuja data de validade expirara. Esse número pode ser multiplicado várias vezes se colocarmos na conta também os estoques de secretarias estaduais e municipais, hospitais privados e das farmácias que cada um de nós mantém em casa. É um desperdício considerável. Mas ele se justifica?

Como já escrevi aqui alguns anos atrás, o problema dos remédios vencidos é uma caixa-preta. Drogas que passaram do prazo de validade dificilmente farão mal a quem as toma, mas é fato que, com a passagem do tempo, elas podem perder potência e, no limite, deixar de funcionar. A deterioração depende do tipo de produto (insulinas, nitroglicerina e antibióticos líquidos estragam mais facilmente mesmo) e das condições de armazenamento. Se você guarda seus medicamentos na sauna, eles possivelmente durarão menos do que o prazo calculado pelo fabricante, mas, se você os conserva num local fresco, seco e ao abrigo da luz, sua estabilidade pode surpreender.

Quase tudo o que sabemos sobre drogas vencidas se deve aos militares norte-americanos. Eles costumam manter grandes estoques de alguns fármacos para caso de emergências que raramente se materializam. Foi por isso que pediram à FDA que realizasse um estudo sobre o assunto. A agência testou um grupo de cem drogas armazenadas e concluiu que 90% delas estavam perfeitamente aptas para consumo mesmo 15 anos após a data de vencimento. Vale repetir, 15 anos.

Minha sugestão é que mudemos as normas e procedimentos para que, antes de descartar grandes lotes ou produtos muito caros por causa da data de vencimento, nós os testemos para ver se ainda funcionam plenamente. Obviamente não é algo que você possa fazer em casa, mas que está ao alcance de ministério e certas secretarias. As Forças Armadas dos EUA fazem isso, para gáudio dos contribuintes.

Fonte: Folha de S.Paulo
A curiosidade é mais importante do que o conhecimento. (Albert Einstein)

LUGARES

RONDA - ESPANHA
Ronda é uma cidade no cimo de uma montanha, na província espanhola de Málaga, na Andaluzia, que se encontra dramaticamente no topo de um desfiladeiro profundo. Este desfiladeiro (El Tajo) separa a cidade nova, fundada aproximadamente no século XV, da cidade velha, que data da ocupação moura. Puente Nuevo é uma ponte em pedra que atravessa o desfiladeiro e tem um miradouro para desfrutar das vistas panorâmicas. A Plaza de Toros da cidade nova, uma lendária praça de touros do século XVIII, é um dos pontos de referência mais reconhecidos da cidade. ― Google

BANDAS E BANDAS

Carlos Heitor Cony

Vejo pesquisa feita durante as festas de fim-de-ano sobre a melhor banda existente no mundo e no Brasil. Praticamente, não houve duas opiniões iguais. Caras legais e caretas, gente pobre, gente rica, todos tinham preferências em bases radicais, não admitiam concorrência, escolhiam determinada banda e amaldiçoavam as outras, eliminando fisicamente as demais.

Confesso (desnecessariamente) que não conhecia a maioria das bandas citadas. Mas me admirei que ninguém citasse a única banda que é banda incontestavelmente, a Banda dos Fuzileiros Navais (reconheço que esta é forte, mas que fazer?)

Excetuando os dobrados militares, que trazem péssima recordação dos tempos totalitários, o repertório é quadrado mas vai fundo no osso, com os sucessos de ontem certamente, mas que amanhã continuarão sendo lembrados e tocados.

Inclusive "A banda", do Chico Buarque, que foi o chute inicial de sua carreira. Que nada mais é do que uma homenagem às bandas que passavam e havia alguém a toa na vida para ver a banda passar.

O conceito de banda mudou, o repertório também. Um repertório elástico, que funciona como um fósforo que se risca, ilumina por um momento, pode até transmitir sua chama a uma vela mais duradoura, e de uma vela acender outras, milhares de chamas clareando a vida e o mundo de forma permanente.

Na alternativa, um fósforo aceso pode botar fogo numa casa, numa rua, numa cidade. Mas depois acaba como um fósforo queimado --uma das metáforas mais usadas para expressar a inutilidade de uma coisa ou causa.

Qualquer banda, esta ou aquela, das centenas que surgem todos os dias e em todas as partes, cumprem sua função de fósforo, valem enquanto estão acesas, iluminando um mundo que, sem elas, seria mais triste e escuro.

Fonte: Folha de S. Paulo - 03/01/2006

FRASES ILUSTRADAS

sexta-feira, 28 de abril de 2023

SAI DESSE CELULAR

Becky S. Korich

Ninguém vai sair do celular. Porque o celular não sai de nós

Não conseguimos ficar longe do celular por muito tempo. E-mails, mensagens, agenda, redes sociais, fotos, navegadores. Qualquer pretexto serve para nos socorrermos à nossa bombinha particular de dopamina. É isso que buscamos: prazer e recompensa, de preferência sem ter que suar. É irreversível, irremediável, um caminho sem volta. Não adianta nos iludirmos que amanhã seremos menos dependentes dessa droga maravilhosa e maldita que a tecnologia nos viciou. Pelo contrário, a tendência é precisarmos de uma dose a mais a cada dia, pois a tolerância biológica do cérebro se acostuma e pede mais estímulos para produzir a mesma satisfação.

Toda semana sai um novo estudo apontando os efeitos danosos que os smartphones causam à saúde mental, principalmente à das crianças. Não que seja novidade, mas as evidências dos "efeitos catastróficos" (expressão usada no artigo de John Burn-Murdoch, de 20 de abril neste jornal) toca no que mais atormenta os pais: a culpa e o medo de errar com os nossos filhos.

Apesar de saber que se trata de um pedido frívolo, a frase que mais pronuncio em casa, exaustiva e sistematicamente, é "sai desse celular". Faz parte da dinâmica: eu sei que meu filho não vai largar o celular tão cedo; do outro lado, ele recebe o meu recado para não exagerar, seja lá o que signifique ‘exagero’ quando se fala de uma adição. O castigo — que chamamos de ‘consequência’ como manda a cartilha da boa educação — recai sobre o mesmo objeto endeusado: o confisco do celular.

Com esperteza, que certamente aprendeu nas redes, meu filho recentemente me questionou, — Por que vocês podem ficar o dia inteiro no celular e eu não? Expliquei que existe uma grande diferença entre a criança que fomos, e as crianças de hoje. Nós, adultos, somos fruto do que vivemos, as crianças de hoje, frutos do que não tiveram a chance de viver. Brincadeiras na rua, coleções de selos, papeis de carta, Os Flinstones, Agente 86, Chacrinha, vinil na vitrola, Pega Varetas. Essas eram as nossas dopaminas, numa época que crianças não precisavam de animadores de festa para se divertir. Mas ele se recusou a imaginar que um dia vivemos, e bem, sem Smartphones. — Para de me enrolar, você não me respondeu, porque eu ficar muito tempo no celular faz mal, e vocês não? — Porque somos adultos, e sabemos nos controlar, respondo sem nenhuma convicção, tentando controlar os meus nervos. — Então me prove, diz ele.

Para provar que ele estava errado, lancei um desafio: — Em casa, a partir de hoje, crianças e adultos desligam o celular às 19h e o deixam na sala.

Desafio aceito. Trato feito. Fiquei satisfeita com a habilidade que tive ao resolver o assunto sem nenhuma briga nem ameaça. Afinal sabemos que exemplo é tudo na educação de crianças.

Com o passar das horas, comecei a sentir falta de alguma coisa. Depois de uma caixa de Bis, conclui que não era chocolate que meu corpo pedia. Meu marido ficou descompensado e começou a balançar a perna. "Só uma olhadinha e já devolvemos para a sala", pensamos juntos. Esperamos o garoto dormir, e silenciosamente caminhamos para a sala para resgatar os celulares. Fomos abduzidos pelo universo que mora dentro dos aparelhos, cada um de um lado da cama, e não percebemos o tempo passar, livres da culpa (já que o delito estaria longe dos olhos do filho) e na paz da dopamina.

Mas um xixi noturno do garoto nos deu um flagrante, mergulhados que estávamos nas nossas telas. Tentamos disfarçar jogando os aparelhos para debaixo do lençol, mas não colou. Depois explicamos que estávamos "trabalhando" e "ouvindo palestras", mas o Instagram cintilava na minha tela e o Candy Crush Saga brilhava na do pai.

Dia seguinte fiquei menos tempo no celular, foi um ato involuntário. Foi até bom, conversei, li e tive mais tempo livre. Mas logo veio uma fissura e me rendi.

Aprendemos mais com nossos filhos do que eles com a gente, e desse fato tiramos a grande lição de que, às vezes, precisamos trancar a porta do quarto para evitar flagrantes no meio da noite.

Fonte: Folha de S.Paulo
O mal de quase todos nós é que preferimos ser arruinados pelo elogio a ser salvos pela crítica. (Norman Vincent Peale)

LUGARES

SANTIAGO - CHILE
Santiago, capital e maior cidade do Chile, fica em um vale circundado pelos Andes cobertos pela neve e a cadeia de montanhas chilena. A Plaza de Armas, o coração do centro velho colonial da cidade, abriga 2 pontos turísticos históricos neoclássicos: o Palacio de la Real Audiencia de 1808, sede do museu de história nacional, e a catedral metropolitana do século 18. La Chascona é a casa do poeta Pablo Neruda que foi transformada em museu.

MR. MILES


Medellin: o destino do ano

A uma atenta platéia de duas centenas de estudantes, nosso bravo viajante ofereceu uma palestra de duas horas no lindo auditório da Universidade Jaguelônica de Cracóvia. O tema lhe caiu como uma luva "O homem universal", pedia o professor Schumsky, com o objetivo de ouvir as viagens de Mr. Miles e, ao mesmo tempo, trazê-lo às considerações sobre os malefícios das fronteiras e das bandeiras. Ovacionado por mais de dez minutos, nosso colaborador foi, em seguida, jantar no bairro de Kazimierz, onde ouviu lindas músicas klezmer.
A seguir, a pergunta da semana:

Mr. Miles: aproveitando esta edição com os melhores destinos para 2017, o senhor não gostaria de falar sobre o assunto em sua coluna?
Adriana Moreira, por email

Well, my dear: honro os votos que dei, já devidamente consignados. Mas o mundo é muito dinâmico, as you know, e agora lhe digo que minha primeira escolha será Medellin, na Colômbia. Tenho vivido longamente, mas há muitos anos não observava nada parecido com o que ví e ouví logo após a tragédia com o avião da Chapecoense. O envolvimento ativo e emocionado dos medellinenses em uma situação que, por mero acaso, ocorreu em seu território, fez-me refletir sobre o estágio em que estamos na evolução da humanidade.

Isso, of course, não é assunto para um humilde viajante, cuja principal relação com os colombianos são as rosas locais que , ano após ano, encomendo no aniversário de nossa rainha.

However, foi espantosa a solidariedade dos conterrêneos de Pablo Escobar.

Confesso que fiquei pensando em minhas próprias ações — que, na comparação, mostraram-se francamente egoistas. Conversei com amigos de várias partes do mundo e, todos eles, estavam tão chocados com o acidente quanto emocionados pelo desenrolar dos acontecimentos. Nevertheless, os habitantes da capital da provincia de Antióquia não se limitaram a chorar como tantos choram face a mortes inaceitáveis. In my opinion, eles criaram um novo patamar de altruismo e amizade, até então desconhecido.

Rezaram, foram às ruas, foram ao estádio, fizeram brilhar todas as velas da cidade e, especialmente, ofereceram ao adversário destroçado pela calamidade aquilo que ainda não possuiam: o título de campeão, os prêmios correlatos, uma nova promessa de futuro. Não tenho visto nada parecido por aí. Estamos cada vez mais cínicos e ensimesmados. Criticamos e nos indignamos com muito mais avidez e volume do que amparamos a dor de pessoas próximas ou distantes. A bruma pesada das manhãs de outono obnubila nossa visão; vemos apenas o que está muito perto e, para dar um passo, tateamos. Como viajantes com excesso de carga, não conseguimos ir longe. Apequena-mo-nos, enfim (com a licença para usar a mesóclise solicitada ao vosso presidente da República).

Vou para Medellin as soon as posible. Vou ver as obras de Botero que engordam alegremente a praça que leva o seu nome. Vou à festa das flores que, todos os anos, leva 2,5 milhões de pessoas às ruas com o sentido principal de ver o milagre da natureza antioquenha, em suas cores e aromas. Quero conhecer os paisas (naturais de Medellin) que prantearam setenta estranhos de longínquas paragens com um coração que já não se vê.

Medellin não é uma vila, my friends. É uma metrópole com mais de três milhões de habitantes — calejada pelo confronto de traficantes de droga que já transformou suas ruas em rios de sangue. Seu luto impressionante não foi, therefore, a reação de uma pacata provincia a uma tragédia maior. Yes, my dear Adriana: há lindos lugares no mundo que os leitores podem priorizar na programação de suas viagens — e a seleção feita por esse suplemento é uma excelente fonte de inspiração. Mas já entrei em contato com Jaime Ibañez Acuña, que é hoteleiro na Patagônia, cineasta no Paraguai e produtor de rosas em Antióquia. Ele promete que vai me receber em breve, mas, sem qualquer necessidade, adverte: "As pessoas seguem muito tristes por aqui."

Yes, I believe.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 27 de abril de 2023

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL VAI ACABAR COM O DIREITO AUTORAL?

Ronaldo Lemos

Se não for atualizado, direito autoral será obsoleto como um dirigível do início do século 20

Em um futuro não tão longe, é provável que boa parte do que vemos e consumimos online vai ser gerada por inteligência artificial.

Isso já pode ser visto na música. Como sempre, a música funciona como ponta de lança das grandes transformações sociais. Fenômenos que mudam tudo se tornam visíveis primeiro no campo musical. No fim dos anos 1990, foi o Napster que iniciou o terremoto que modificaria todas as indústrias de mídia. Como diz o filósofo Jacques Rancière: "O som é profético, é o que vem primeiro".

Está acontecendo o mesmo agora. Na semana passada, saiu um álbum musical chamado "Aisis", justaposição de AI (inteligência artificial) com Oasis. Os autores compuseram músicas inspiradas pela banda inglesa. Só que substituíram os vocais pela voz de Liam Gallagher usando AI. Teve gente que achou que se tratava de um disco da banda original.

Tem mais. Uma música nova do rapper Drake apareceu nas redes sociais e plataformas de streaming. Só que Drake não lançou nada. A faixa, chamada "Heart on My Sleeve", foi feita com AI por um autor pseudônimo chamado @ghostwriter. Ela teve milhões de execuções nas plataformas até ser tirada do ar a pedido da gravadora Universal por suposta violação de direitos autorais.

Isso gerou um debate violento. A música teria violado os direitos autorais de Drake? Apesar de claramente parecer dele, não copia nenhum trecho do seu repertório musical. Nesse sentido, é original. Isso fez com que diversos especialistas afirmassem que não houve violação. Pode ter havido uso indevido da voz do artista sintetizada, mas não do seu direito autoral.

O episódio levou a um comentário ácido da banda inglesa Massive Attack no Twitter: "A discussão deveria ser sobre a inteligência artificial poder criar músicas ou sobre a música atual ser tão homogênea e clichê que pode ser facilmente imitável?".

O fenômeno não acaba aí. O produtor musical Andrew Faze detectou várias músicas iguais no Spotify que aparecem com nomes de faixa e de artista diferentes em várias playlists do gênero "easy listening". Sua hipótese é que são músicas criadas por AI, que não pagam direitos autorais, inseridas na plataforma exatamente por essa razão.

Como dá para ver, o tema está quente. Tudo isso vai aparecer em outros campos. Por exemplo, por que eu licenciaria uma foto se posso gerar qualquer tipo de imagem de graça e sem direitos autorais usando inteligência artificial? Ou ainda, se a AI pode escrever textos competentes sobre qualquer assunto (de saúde a atualidades), por que pagar alguém para isso?

Sínteses digitais vão se tornar mais baratas do que criações humanas. Baratas não só do ponto de vista comercial mas também do ponto de vista pessoal. Em breve vai ser mais fácil postar conteúdo produzido por AI nas redes sociais do que perder tempo criando conteúdos originais.

Nesse futuro não tão longe, é provável que a máquina se torne nossa principal fonte de entretenimento e notícias. A questão é que o trabalho humano é quem sai perdendo. E o direito autoral, se não for atualizado, vai se tornar uma criação obsoleta como um dirigível do início do século 20.

Fonte: Folha de S. Paulo
O mentiroso precisa de ter boa memória. (Quintiliano)

LUGARES

COPENHAGUE - DINAMARCA
Traduzido do inglês-O Jardim da Biblioteca Real, muitas vezes referido simplesmente como o Jardim da Biblioteca, é um pequeno jardim um tanto escondido entre a Biblioteca Real, o Museu Tøjhus, o Depósito de Abastecimento de ChristianIV e o Palácio de Christiansborg em Slotsholmen, no centro de Copenhague, na Dinamarca. Wikipedia (inglês)

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


O PERU DE NATAL E OUTRAS MUDANÇAS
“Antevéspera de Natal. Estava na hora de comprar um peru para a ceia. À porta da venda, o anúncio em letras garrafais: 
     OFERTA
*Perú que apita
 
“Pessoa exigente com a língua nacional, Seu Natalino achou o peru com acento uma afronta. Sem falar do engodo do apito: o peru temperado informa o cozimento por um termômetro que salta, mas não apita coisíssima nenhuma.

“E aquele acento agudo, para quê? Sem ele a pronúncia seria diferente? Obviamente não. O natural em português é pronunciar mais forte a sílaba final em u. O reino animal nos dá vários exemplos: tatu, urubu, anu, nambu, jacu, uru. O acréscimo de um s não faz diferença: tatus, perus, urubus, chuchus, cajus, nus, crus, etc. [...]”

Esse foi o início de uma crônica minha publicada em 1988 e que me ocorreu reproduzir agora em dezembro para mostrar que, assim como mudam os costumes – hoje já existe o chester, entre outros tipos de carne consumidos no Natal –, muda também o idioma, que vai produzindo novas palavras e estruturas ou alterando as já existentes em termos de pronúncia, de significado e mesmo de ortografia.

Nesse último caso podemos mencionar algumas palavras compostas com verbos alteradas pelo Acordo Ortográfico (2009). Em relação ao acento agudo em “para”, que caiu, temos: para-brisa, para-choque, para-chuva, para-lama, para-raios, para-sol. Todas com hífen, à exceção de paraquedas (e sua derivada paraquedismo), sob o argumento que não se usa o hífen em palavras compostas que, de alguma forma, perderam a noção de composição. Não se teria perdido também essa noção (de que a origem é o verbo parar com o sentido de aparar, proteger) nas palavras anteriores?  

Veja-se ainda que o figurão ou líder passou a ser designado por substantivo sem hífen: mandachuva, quando antes o hífen era facultativo: também se podia escrever manda-chuva. 

Por isso é discutível a manutenção do hífen em vaga-lume e pica-pau, que extraoficialmente se escrevia picapau (O sítio do picapau amarelo); e vagalume  já teve registro oficial, como variante, no Pequeno Vocabulário da Língua Portuguesa de 1999. Creio tratar-se do mesmo fenômeno de perda da noção de verbo do primeiro elemento que se vê em mandachuva e girassol. A incoerência se evidencia na grafia das palavras vagalumear, vagamundear e vagamundo. Por que não vaga-mundo?  Ou, melhor, por que não vagalume?

Toda língua muda com o tempo. Se tentarmos ler a carta de Pero Vaz de Caminha provavelmente vamos ter dificuldade em entender o texto. Mesmo os escritores de língua portuguesa do século XIX, como José de Alencar, Machado de Assis e Eça de Queirós, causam certa estranheza para as novas gerações. Ainda que edições atuais tragam a ortografia vigente – e não “pae e mãi” [pai e mãe], por exemplo –, os jovens às vezes não curtem essas obras clássicas por não entenderem muitas palavras ou não harmonizarem seu gosto moderno e solto a uma sintaxe mais formal e tensa.

Com controvérsias ou não, nossas discussões linguísticas continuam na próxima semana. Desejamos a todos um feliz Natal.

Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 26 de abril de 2023

OS ESCRAVOS DE LUXO DA FARIA LIMA

Giovana Madalosso

Por trás das camisas Ermenegildo Zegna que desfilam pelos restaurantes da Faria Lima, existem pessoas submetidas a condições de trabalho degradantes

Quem imagina que por trás das camisas Ermenegildo Zegna que desfilam pelos restaurantes da Faria Lima existem pessoas submetidas à condições de trabalho degradantes?

Durante 15 anos, fui redatora publicitária em quatro das maiores agências de propaganda do Brasil, freelancer em outras e, até hoje, convivo com amigos empregados em algumas delas. Ninguém fala publicamente sobre o que acontece nessas agências porque, se fizer isso, nunca mais arruma emprego. Como agora estou fora desse meio, posso contar.

Em uma das agências em que trabalhei, um diretor de criação que acabara de chegar recomendou que, durante o expediente, eu fizesse o meu trabalho e, depois, fizesse as campanhas destinadas a outros redatores, a fim de provar que era tão boa quanto eles.

Por meses, trabalhei todos os dias das 9h à meia-noite, inclusive aos sábados e domingos. Um colega que vinha trabalhando cerca de 18 horas por dia nessa época, chegou a dormir algumas vezes embaixo da nossa mesa porque, segundo ele, não valia a pena ir para casa para dormir só algumas horinhas –e nosso chefe sabia disso.

Parece um caso isolado, mas não é. Todo mundo que trabalha em agência sabe que não há horário fixo. Os turnos se prolongam ao sabor da demanda, podendo ir madrugada adentro (prática normal nas vésperas de apresentações) sem um centavo de hora extra.

Um dos momentos mais deprimentes da minha trajetória foi num dia em que resolvi sair, na hora do almoço, para doar sangue para o pai de um amigo. Quando estava com o elástico pressionando o meu bíceps, o celular tocou.

— Tá onde?

— Tirando sangue.

— A agulha já entrou?

— Não.

— Então levanta porque, se tirar, talvez precise esperar um pouco. E você tem que voltar agora.

O trabalho que urgia por esta profissional não era o parto de um bebê ou um incêndio com vítimas. Era a adaptação de um comercial de 30 para 15 segundos. O que tornava esse comercial tão urgente? A marca que assinava: uma das maiores empresas de telefonia do Brasil. E isso explica tudo: nesse sistema, cuja face mais caricata é a Faria Lima, quem estala o chicote e dá o ritmo é a grana.

Se, na base do organograma está o criativo e, no topo, um CEO chamado Money, quem está no meio? A direção da agência (e muitas vezes a multinacional e os investidores que a controlam) e os clientes, que sabem muito bem o que se passa dentro daquelas paredes mas seguem cobrando prazos que, eles também sabem, só podem ser cumpridos por uma equipe movida a prestações de Jeep e doses de Rivotril e Red Bull.

As grandes marcas que estão nas telas bancando as boazinhas com o consumidor —subitamente verdes, feministas e antirracistas por pressão do mercado— fecham os olhos para um esquema de exploração e abuso que, muitas vezes, envolve ainda outros tipos de mão de obra, como a produção de campanhas fantasma.

Em busca de ganhar prêmios, as agências correm atrás de produzir peças inovadoras que, por diversas razões, não são produzidas no dia a dia. Para isso, os escravos de Lacoste são convocados a trabalhar de graça nas poucas horas livres que ainda lhes restam –em uma das agências que trabalhei, éramos obrigados a fazer isso nos feriados.

Uma vez criada a campanha fantasma, uma produtora de cinema e uma de áudio são acionadas para fazer a peça, com a promessa de outros trabalhos remunerados no futuro –ou a ameaça velada de nunca fazê-los. O esquema exploratório ganha novas dimensões: diretor de cinema, fotógrafo, editor, produtor de áudio, músico e locutor trabalham totalmente de graça, sem garantia alguma de receber qualquer coisa depois.

Tudo isso com um único objetivo: o dono da agência aparecer com o prêmio na mídia, angariar novos clientes e seguir propulsionando a roda dentada. Uma roda muito maior do que parece. Para trabalhar dia e noite, esses profissionais precisam de empregadas e babás que assumam a sua porção de existência doméstica. Na casa de cada escravo de luxo, há outro sem luxo e, na casa desse, muitas vezes uma menina deixando de estudar para cuidar dos irmãos mais novos. Se nem quem dirige um Renegade tem coragem de abrir a boca, como esperar isso da ponta mais frágil?

Não surpreende que muitos acionistas e executivos das grandes marcas tenham tentado reeleger um ex-presidente que sempre trabalhou com afinco pelo desmonte dos direitos trabalhistas. É preciso reforçar as estruturas desses porões onde a bola de ferro é a promessa de felicidade proporcionada pelo último modelo de Iphone.

Segundo o sociólogo Orlando Patterson, o que diferencia um escravizado de um servo é a ausência de laços sociais. É possível manter laços saudáveis com semelhantes esquemas de trabalho? É possível se manter saudável?

Nos meus anos de agência, vi serem criadas no meu corpo e no corpo dos meus colegas as seguintes campanhas: herpes, cândida, transtorno alimentar, ansiedade, bipolaridade, síndrome do pânico, psoríase, alcoolismo e tricotilomania. Sem falar na morte de um diretor de arte ainda jovem, que ninguém pode provar estar ligada ao estresse da agência, mas, coincidentemente, aconteceu em um período de sobrecarga de trabalho.

Em 2009, ainda numa multinacional, precisei retirar as amígdalas. Um novo diretor de criação tinha acabado de ser contratado e, ao ver o meu pedido de licença médica, avisou: se você sair agora que entrei, pode pegar mal pra você. Como eu estava tendo amigdalite de repetição, achei por bem fazer o procedimento. Quando voltei, poucos dias depois, fui demitida. Desde então, virei freelancer e, aos poucos, fui deixando de trabalhar para as agências. Hoje falo pelos que não tiveram a mesma sorte que eu.

Fonte: Folha de S.Paulo
Os vivos são e serão sempre, cada vez mais, governados pelos mais vivos. (Barão de Itararé)

LUGARES

SÃO PETERSBURGO - RÚSSIA
A Ponte Anitchkov foi a primeira e mais importante ponte a cruzar o rio Fontanka em São Petersburgo, na Rússia. A ponte atual, construída entre 1841 e 1842 e reconstruída entre 1906 e 1908, combina uma forma simples com detalhes elaborados. Wikipédia

A JUSTIÇA IMPLACÁVEL

Ruy Castro

O homem dos pedalinhos era o 'Carniceiro de Riga'

Em 1946, o Rio ganhou uma atração inédita: um alemão recém-chegado instalou uma frota de pedalinhos em forma de cisne na Lagoa Rodrigo de Freitas. A prefeitura concedeu-lhe o alvará, a Lagoa virou um point e Herberts Cukurs, o alemão, não parou mais. Criou um restaurante flutuante atracado ao vizinho clube Caiçaras, construiu na margem um playground para as crianças e promovia competições de barcos a vela, a remo e a motor. Era adorado. Cukurs ficou rico e seu nome e foto saíam nos jornais.

De repente, em 1950, o choque. Notícias vindas da Europa revelaram que Herberts Cukurs era um criminoso de guerra, chefe da ocupação nazista em seu país, a Letônia. Comandara execuções em massa de prisioneiros judeus por fuzilamento, afogamento e gás e, entre outras monstruosidades, ordenara o incêndio de uma sinagoga em Riga com 300 pessoas dentro. Calculava-se que, entre 1943 e 45, matara 30 mil pessoas. Seu cognome seria "O Carniceiro de Riga".

A extradição de Cukurs foi pedida por várias entidades particulares europeias, com base em depoimentos de sobreviventes que o tinham identificado nos jornais brasileiros. Mas, embora esses depoimentos viessem de pessoas de diferentes nacionalidades e que não se conheciam entre si, ele não podia ser extraditado. Não passara pelo tribunal de Nuremberg, entrara legalmente no Brasil e os governos europeus não reuniam provas suficientes para incriminá-lo. Para complicar, tinha agora um filho brasileiro.

O processo arrastou-se por anos, sem solução. Cukurs foi ficando por aqui e, com o tempo, foi esquecido. Mas nem todos o esqueceram. Em 1965, um comando israelense o atraiu a Montevidéu e o executou a tiros.

A única pena sofrida por Cukurs no Brasil foi a de que, em 1951, a Prefeitura do Rio cancelou seu alvará e o proibiu de explorar os pedalinhos. Como sabemos, a Justiça brasileira é assim: implacável.

Fonte: Folha de S. Paulo - 13.nov.2022

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 25 de abril de 2023

SEM EDUCAÇÃO, OS HOMENS 'VÃO MATAR-SE UNS AOS OUTROS'

O neurocientista António Damásio advertiu que é necessário “educar massivamente as pessoas para que aceitem os outros”, porque “se não houver educação massiva, os seres humanos vão matar-se uns aos outros”.

O neurocientista português falou no lançamento do seu novo livro A Estranha Ordem das Coisas, na Escola Secundária António Damásio, em Lisboa, onde ele defendeu perante um auditório cheio que é preciso educarmo-nos para contrariar os nossos instintos mais básicos, que nos impelem a pensar primeiro na nossa sobrevivência.

“O que eu quero é proteger-me a mim, aos meus e à minha família. E os outros que se tramem. […] É preciso suplantar uma biologia muito forte”, disse o neurocientista, associando este comportamento a situações como as que têm levado a um discurso anti-imigração e à ascensão de partidos neonazis de nacionalismo xenófobo, como os casos recentes da Alemanha e da Áustria. Para António Damásio, a forma de combater estes fenômenos “é educar maciçamente as pessoas para que aceitem os outros”.

Em ” A Estranha Ordem das Coisas”(editora: Temas e Debates), Damásio volta a falar da importância dos sentimentos, como a dor, o sofrimento ou o prazer antecipado.

“Este livro é uma continuação de O Erro de Descartes, 22 anos mais tarde. Em ‘O Erro de Descartes’ havia uma série de direções que apontavam para este novo livro, mas não tinha dados para o suportar”, explicou António Damásio, referindo-se ao famoso livro que, nos finais da década de 90, veio demonstrar como a ausência de emoções pode prejudicar a racionalidade.

O autor referiu que aquilo que fomos sentindo ao longo de séculos fez de nós o que somos hoje, ou seja, os sentimentos definiram a nossa cultura. António Damásio disse que o que distingue os seres humanos dos restantes animais é a cultura: “Depois da linguagem verbal, há qualquer coisa muito maior que é a grande epopeia cultural que estamos a construir há cem mil anos.”

O neurocientista acredita que o sentimento – que trata como “o elefante que está no meio da sala e de quem ninguém fala” – tem um papel único no aparecimento das culturas. “Os grande motivadores das culturas atuais foram as condições que levaram à dor e ao sofrimento, que levaram as pessoas a ter que fazer alguma coisa que cancelasse a dor e o sofrimento”, acrescentou António Damásio.

“Os sentimentos, aquilo que sentimos, são o resultado de ver uma pessoa que se ama, ou ouvir uma peça musical ou ter um magnífico repasto num restaurante. Todas essas coisas nos provocam emoções e sentimentos. Essa vida emocional e sentimental que temos como pano de fundo da nossa vida são as provocadoras da nossa cultura.”

No livro o autor desce ao nível da célula para explicar que até os microrganismos mais básicos se organizam para sobreviverem. Perante uma plateia com centenas de alunos, o investigador lembrou que as bactérias não têm sistema nervoso nem mente mas “sabem que uma outra bactéria é prima, irmã ou que não faz parte da família”.

Perante uma ameaça, como um antibiótico, “as bactérias têm de trabalhar solidariamente”, explicou, acrescentando que, se a maioria das bactérias trabalha em prol do mesmo fim, também há bactérias que não trabalham. “Quando as bactérias (trabalhadoras) se apercebem que há bactérias vira-casaca, viram-lhes as costas”, concluiu o neurocientista, sublinhando que estas reações são ao nível de algo que possui “uma só célula, não tem mente e não tem uma intenção”, ou seja, “nada disto tem a ver com consciência”.

E é perante esta evidência que o investigador conclui que “há uma coleção de comportamentos – de conflito ou de cooperação – que é a base fundamental e estrutural de vida”.

Durante o lançamento do livro, o investigador usou o exemplo da Catalunha para criticar quem defende que o problema é uma abordagem emocional e não racional: “O problema é ter mais emoções negativas do que positivas, não é ter emoções.”

“O centro do livro está nos afetos. A inteira realidade dos sentimentos e a ciência dos sentimentos e do que está por baixo dos sentimentos. O sentimento é a personagem central. É também central uma coisa que me preocupa muito, o presente estado da cultura humana. Que é terrível. Temos o sentimento de que não está apenas a desmoronar-se, como está a desmoronar-se outra vez e de que devemos perder as esperanças visto que da última vez que tivemos tragédias globais nada aprendemos. O mínimo que podemos concluir é que fomos demasiado complacentes, e acreditamos, especialmente depois da Segunda Guerra Mundial, que haveria um caminho certo, uma tendência para o desenvolvimento humano a par da prosperidade. Durante um tempo, acreditamos que assim era e havia sinais disso”

* Leia a instigante entrevista de António Damásio “Quando me perguntam qual é o maior cientista de sempre, respondo: na minha área, é Shakespeare”. acessando AQUI!

Fonte: Jornal Público - Revista Prosa Verso e Arte

A maneira de falar e de escrever que nunca passa da moda é a de falar e escrever sinceramente. (Ralph Waldo Emerson)

LUGARES

CHAVES - PORTUGAL
A Ponte Romana de Chaves, também referida como Ponte de Trajano, localiza-se sobre o rio Tâmega, na cidade de Chaves, distrito de Vila Real, em Portugal. Encontra-se classificada como Monumento Nacional desde 1910. Wikipédia

ROMANCE FORENSE

Charge de Gerson Kauer
Um habeas para as macacas

A impetração no STJ sustenta a conveniência da ampliação do alcance do habeas corpus para o benefício de animais.

As advogadas signatárias pretendem que Lili e Megh, ao contrário do habitual para ações desse tipo, sejam mantidas em cativeiro. A Justiça Federal havia determinado a reintegração à natureza, mas as profissionais da advocacia acreditam que a medida implicará a morte das chimpanzés.

“O periculum in mora reside no evidente perecimento de direito, com um agravante: esse direito é o bem maior (a vida dos animais), que será gravemente afetado com a determinada retirada da guarda do fiel depositário para introduzi-las na natureza, o que certamente lhes acarretará a morte” - sustenta a impetração.

O caso chega ao STJ, onde o relator, porém, não admite a possibilidade de estender aos símios a proteção constitucional.

“Nos termos do artigo 5º, inciso LXVIII, da Constituição da República, é incabível a impetração de habeas corpus em favor de animais. A exegese do dispositivo é clara. Admite-se a concessão da ordem apenas para seres humanos” – fulmina o magistrado.

As macacas são, então, entregues ao Ibama que as devolve à natureza. Delas não se tem mais notícias.

Mesmo que, eventualmente, venham a ser intimadas por editais a serem distribuídos nas florestas, certamente as símias agora permanecem em locais incertos e não sabidos. 

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 24 de abril de 2023

OS INÚTEIS

Uma nova classe de pessoas deve surgir até 2050: a dos inúteis. São pessoas que não serão apenas desempregadas, mas que não serão empregáveis (Yuval Noah Harari)*

Especialistas e historiadores como Yuval Noah Harari há muito vêm prevendo que as máquinas tornariam os trabalhadores redundantes. Esse momento já pode estar aqui. Mas o que isso traz de ruim?

Em artigo publicado no The Guardian, intitulado O Significado da Vida em um Mundo sem Trabalho, o escritor comenta sobre uma nova classe de pessoas que deve surgir até 2050: a dos inúteis. “São pessoas que não serão apenas desempregadas, mas que não serão empregáveis”, diz o historiador.

“A questão mais importante na economia do século 21 pode muito bem ser: o que devemos fazer com todas as pessoas supérfluas, uma vez que temos algoritmos não-conscientes altamente inteligentes que podem fazer quase tudo melhor que os humanos?”

“A maioria das crianças que atualmente aprendem na escola provavelmente será irrelevante quando chegar aos 40 anos.”

De acordo com Harari, esse grupo poderá acabar sendo alimentado por um sistema de renda básica universal. A grande questão então será como manter esses indivíduos satisfeitos e ocupados. “As pessoas devem se envolver em atividades com algum propósito. Caso contrário, irão enlouquecer. Afinal, o que a classe inútil irá fazer o dia todo?”.

O professor sugere que os games de realidade virtual poderão ser uma das soluções e faz um paralelo com costumes antigos, que, segundo ele, teve propósito semelhante:

“Na verdade, essa é uma solução muito antiga. Por centenas de anos, bilhões de humanos encontraram significados em jogos de realidade virtual. No passado, chamávamos esses jogos de ‘religiões’”

Abaixo leia o artigo

O significado da vida em um mundo sem trabalho
Por: Yuval Noah Harari

A maioria dos empregos que existem hoje pode desaparecer dentro de décadas. À medida que a inteligência artificial supera os seres humanos em tarefas cada vez mais, ela substituirá humanos em mais e mais trabalhos. Muitas novas profissões provavelmente aparecerão: designers do mundo virtual, por exemplo. Mas essas profissões provavelmente exigirão mais criatividade e flexibilidade, e não está claro se os motoristas de táxi ou agentes de seguros desempregados de 40 anos poderão se reinventar como designers do mundo virtual (tente imaginar um mundo virtual criado por um agente de seguros!?). E mesmo que o ex-agente de seguros de alguma forma faça a transição para um designer de mundo virtual, o ritmo do progresso é tal que, dentro de mais uma década, ele pode ter que se reinventar novamente.

O problema crucial não é criar novos empregos. O problema crucial é a criação de novos empregos que os humanos apresentam melhor desempenho do que os algoritmos. Consequentemente, até 2050, uma nova classe de pessoas poderá surgir – a classe desocupada. Pessoas que não estão apenas desempregadas, mas desempregáveis.A mesma tecnologia que torna os seres humanos inúteis também pode tornar viável alimentar e apoiar as massas desempregadas através de algum esquema de renda básica universal. O problema real será, então, manter as massas ocupadas e o conteúdo. As pessoas devem se envolver em atividades propositadas, ou ficam loucas. Então, o que a classe desocupada irá fazer o dia todo?

Uma resposta pode ser jogos de computador. Pessoas economicamente redundantes podem gastar quantidades crescentes de tempo dentro dos mundos da realidade virtual 3D, o que lhes proporcionaria muito mais emoção e engajamento emocional do que o “mundo real” externo. Isso, de fato, é uma solução muito antiga. Por milhares de anos, bilhões de pessoas encontraram significado em jogar jogos de realidade virtual. No passado, chamamos essas “religiões” de jogos de realidade virtual.

O que é uma religião, se não um grande jogo de realidade virtual desempenhado por milhões de pessoas juntas? Religiões como o Islã e o Cristianismo inventam leis imaginárias, como “não comem carne de porco”, “repita as mesmas preces um número determinado de vezes por dia”, “não faça sexo com alguém do seu próprio gênero” e assim por diante. Essas leis existem apenas na imaginação humana. Nenhuma lei natural exige a repetição de fórmulas mágicas, e nenhuma lei natural proíbe a homossexualidade ou a ingestão de porco. Muçulmanos e cristãos atravessam a vida tentando ganhar pontos em seu jogo de realidade virtual favorito. Se você reza todos os dias, você obtém pontos. Se você esqueceu de orar, você perde pontos. Se, no final da sua vida, você ganhar pontos suficientes, depois de morrer, você vai ao próximo nível do jogo (também conhecido como o paraíso).

Como as religiões nos mostram, a realidade virtual não precisa ser encerrada dentro de uma caixa isolada. Em vez disso, ele pode se sobrepor à realidade física. No passado, isso foi feito com a imaginação humana e com livros sagrados, e no século 21 pode ser feito com smartphones.

Algum tempo atrás, fui com o meu sobrinho de seis anos, Matan, para caçar Pokémon. Enquanto caminhávamos pela rua, Matan continuava a olhar para o seu telefone inteligente, o que lhe permitia detectar Pokémon à nossa volta. Eu não vi nenhum Pokémon, porque não carregava um smartphone. Então vimos outras duas crianças na rua que estavam caçando o mesmo Pokémon, e quase começamos a lutar com eles. Parecia-me como a situação era semelhante ao conflito entre judeus e muçulmanos sobre a cidade sagrada de Jerusalém. Quando você olha a realidade objetiva de Jerusalém, tudo que você vê são pedras e edifícios. Não há santidade em qualquer lugar. Mas quando você olha através de smartbooks (como a Bíblia e o Alcorão), você vê lugares sagrados e anjos em todos os lugares.

A ideia de encontrar um significado na vida ao jogar jogos de realidade virtual é, evidentemente, comum não apenas às religiões, mas também às ideologias seculares e estilos de vida. O consumo também é um jogo de realidade virtual. Você ganha pontos adquirindo carros novos, comprando marcas caras e tendo férias no exterior, e se você tiver mais pontos do que todos os outros, dizendo a si próprio que ganhou o jogo.

Você pode contrariar dizendo que as pessoas realmente gostam de seus carros e férias. Isso certamente é verdade. Mas os religiosos realmente gostam de orar e realizar cerimônias, e meu sobrinho realmente gosta de caçar Pokémon. No final, a ação real sempre ocorre dentro do cérebro humano. Não importa se os neurônios são estimulados observando pixels em uma tela de computador, olhando para fora das janelas de um resort do Caribe ou vendo o céu nos olhos da mente? Em todos os casos, o significado que atribuímos ao que vemos é gerado pelas nossas próprias mentes. Não é realmente “lá fora”. Para o melhor de nosso conhecimento científico, a vida humana não tem significado. O significado da vida é sempre uma história de ficção criada por nós humanos.

Em seu ensaio inovador, Deep Play: Notas sobre a Briga de Galos em Bali (1973), o antropólogo Clifford Geertz descreve como na ilha de Bali, as pessoas passaram muito tempo e dinheiro apostando em brigas de galos. As apostas e as lutas envolveram rituais elaborados, e os resultados tiveram um impacto substancial na posição social, econômica e política de jogadores e espectadores.

As brigas de galos eram tão importantes para os balineses que, quando o governo indonésio declarou a prática ilegal, as pessoas ignoraram a lei e se arriscavam a prisão e multas pesadas. Para os balineses, as brigas eram “jogo profundo” – um jogo confeccionado que é investido com tanto significado que se torna realidade. Um antropólogo balines poderia, sem dúvida, ter escrito ensaios semelhantes sobre futebol na Argentina, Brasil ou no judaísmo em Israel.

De fato, uma seção particularmente interessante da sociedade israelense fornece um laboratório exclusivo de como viver uma vida satisfeita em um mundo pós-trabalho. Em Israel, um percentual significativa de homens judeus ultra-ortodoxos nunca trabalhou. Eles passam toda a vida estudando escrituras sagradas e realizando rituais de religião. Eles e suas famílias não morrem de fome, em parte porque as esposas muitas vezes trabalham, e em parte porque o governo lhes fornece generosos subsídios. Embora geralmente vivam na pobreza, o apoio do governo significa que eles nunca faltam para as necessidades básicas da vida.

Isso é uma renda básica universal em ação. Embora sejam pobres e nunca trabalhem, em pesquisa após pesquisa, esses homens judeus ultra-ortodoxos relatam níveis mais elevados de satisfação com a vida do que qualquer outra parte da sociedade israelense. Nos levantamentos globais sobre a satisfação da vida, Israel está quase sempre no topo, graças em parte ao contributo destes pensadores profundos e desempregados.

Você não precisa ir a Israel para ver o mundo do pós-trabalho. Se você tem em casa um filho adolescente que gosta de jogos de computador, você pode realizar sua própria experiência. Fornecer-lhe um subsídio mínimo de Coca-cola e pizza e, em seguida, remover todas as demandas de trabalho e toda a supervisão dos pais. O resultado provável é que ele permanecerá em seu quarto por dias, colado na tela. Ele não vai fazer qualquer lição de casa ou tarefas domésticas, vai ignorar a escola, ignorar as refeições e até mesmo ignorar os chuveiros e dormir. No entanto, é improvável que ele sofra de tédio ou uma sensação de sem propósito. Pelo menos não no curto prazo.

Portanto, as realidades virtuais provavelmente serão fundamentais para fornecer significado à classe desocupada do mundo pós-trabalho. Talvez essas realidades virtuais sejam geradas dentro dos computadores. Talvez sejam gerados fora dos computadores, sob a forma de novas religiões e ideologias. Talvez seja uma combinação dos dois. As possibilidades são infinitas, e ninguém sabe com certeza que tipos de peças profundas nos envolverão em 2050.

Em qualquer caso, o fim do trabalho não significará necessariamente o fim do significado, porque o significado é gerado pela imaginação em vez de pelo trabalho. O trabalho é essencial apenas para o significado de acordo com algumas ideologias e estilos de vida. Os escravos ingleses do século XVIII, os judeus ultra-ortodoxos atuais e as crianças em todas as culturas e eras encontraram muito interesse e significado na vida, mesmo sem trabalhar. As pessoas em 2050 provavelmente poderão jogar jogos mais profundos e construir mundos virtuais mais complexos do que em qualquer momento anterior da história.

E quanto à verdade? E a realidade? Realmente queremos viver em um mundo no qual bilhões de pessoas estão imersas em fantasias, buscando objetivos criativos e obedecendo leis imaginárias? Bem, goste ou não, esse é o mundo em que vivemos há milhares de anos.

*Yuval Noah Harari é professor na Universidade Hebraica de Jerusalém e é autor de ‘Sapiens: Uma Breve História da Humanidade’ e ‘Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã’

Veja, o problema é que Deus deu ao homem o cérebro e o pênis, mas sangue suficiente para funcionar um de cada vez. (Robin Williams)

LUGARES

SPIEZ - SUÍÇA
Spiez é uma comuna da Suíça, no Cantão Berna, com cerca de 12.528 habitantes. Estende-se por uma área de 16,78 km², de densidade populacional de 748 hab/km². Confina com as seguintes comunas: Aeschi bei Spiez, Hilterfingen, Krattigen, Oberhofen am Thunersee, Reutigen, Sigriswil, Tune, Wimmis, Zwieselberg. Wikipédia

EM SLOW

Martha MedeirosMartha Medeiros

Ao assistir a uma das provas de salto sincronizado na Olimpíada (eu sei que o assunto é antigo, não vou me demorar nele, um pouquinho de paciência), o que mais me impressionou não foi a destreza das atletas, e sim a precisão da comentarista. As meninas pulavam do trampolim e em dois segundos entravam na piscina, e então a comentarista, muito antes do replay, dizia exatamente qual delas tinha tocado primeiro com a mão na água, se a perna direita estava esticada e se a esquerda estava levemente flexionada, como se o salto não tivesse ocorrido durante uma piscadela.

Quando vinha o replay em slow, bingo: tudo o que a comentarista havia percebido a olho nu estava ali, confirmado. O mesmo se dava com os comentários da Daiane dos Santos sobre as piruetas da Simone Biles. Como é que a Daiane conseguia contar quantos mortais haviam sido dados pela americana supersônica antes do replay?

Queria ter esse preparo. Estou mais para faísca atrasada. Meu dinamismo não consegue mais acompanhar o looping vertiginoso da vida.

Um dos meus hobbies favoritos tem sido descobrir coisas que, mesmo em sua velocidade normal, parecem estar em slow (eu sei que não é um hobby, o nome disso talvez seja escapismo, mas tenha paciência comigo um pouquinho mais). Um exemplo? Um camelo caminhando pelas dunas do deserto. Um camelo, em velocidade normal, caminha mais devagar do que o Usain Bolt em câmera lenta. A girafa, a mesma coisa. Ela esbanja elegância em sua falta de pressa – e mesmo que estivesse apressada andaria com a mesma languidez.

Tenho exemplos melhores, calma. O avião.

Pensa. O avião, o meio de transporte mais rápido que conhecemos, decola como se fosse uma bolha de sabão e aterrissa suavemente, como uma folha caindo de uma árvore – bolhas e folhas jamais atingirão o efeito fast forward. E não bastasse a sofisticação da decolagem e da aterrissagem, o avião cruza os céus lá em cima como se estivesse a 20 km/h, enquanto um periquito passa pelos nossos olhos a jato.

A onda no mar. Talvez o exemplo mais hipnótico. Toda onda se forma com preguiça e quebra como se fosse um movimento de tai chi chuan. O oceano pode estar revolto, uma tempestade se formando, e mesmo assim a ondulação das águas se parece com as mãos de um maestro regendo um compasso tranquilo.

Por que perco tempo com isso? Justamente para tentar segurar o tempo, esse senhor afobado. Quanto mais ele se precipita e dispara, mais eu ajusto o foco e reconheço a nobreza do vagar. Do fluir. Do flanar.

Um beijo, um sentimento ou mesmo uma reflexão. Tanta coisa que eu não queria que passasse ligeiro – mas passou. Obrigada pela paciência.

Fonte: Facebook/2016