sexta-feira, 31 de março de 2023

A APOSTA ERRADA

José Horta Manzano

Alguns integrantes do governo Lula 3 não têm medo de escorregar em público. São daquele tipo de gente que, ao ver uma casca de banana do outro lado da rua, não resiste à tentação: atravessa só pra pisar na casca.

Como é natural, o mais ávido é o próprio chefe, mas ministros não ficam muito atrás. Não sei se se trata de cacoete indesejado que nos vem dos quatro anos de Bolsonaro, mas o fato é que Lula se tem mostrado à vontade pra soltar palavrões em entrevista e pra acusar Moro de malfeitos imaginários. Outro dia, o ministro das Comunicações também se sentiu livre para agredir verbalmente uma jornalista, em entrevista ao vivo pela CNN.

Toda essa energia jogada fora pela janela seria mais bem empregada se canalizada para projetar o Brasil das próximas décadas. Goste-se ou não, o futuro chegará. Visto que o tempo do terraplanismo e da negação acabou, é hora de largar mão de negar a realidade.

Os combustíveis fósseis estão sendo banidos por toda parte. Inúmeras cidades europeias já anunciaram que, já em 2030, veículos com motor térmico serão proibidos de circular. Outras cidades fixaram data ainda mais apertada, como 2025 por exemplo. Poluente e vilão climático, o combustível fóssil está com os dias contados.

Investir para alimentar essa tecnologia é dar murro em ponta de faca. Cada centavo gasto em exploração de petróleo em território brasileiro será um centavo a menos para alavancar o País e trazê-lo ao mundo atual. Ainda que o governo Lula acredite ter mãos de aço, não tem. De tanto dar murros na faca, vai acabar estropiando a mão. Investir em prospecção de petróleo, nestas alturas, é um contrassenso.

Nosso país é ensolarado e ventoso. Temos à disposição, de graça, a matéria prima principal da produção de energia limpa: sol e vento. No mundo, usinas eólicas e parques fotovoltaicos se multiplicam. Na Europa, a invasão da Ucrânia pela Rússia veio acelerar o processo. Na Suíça, por exemplo, tornou-se obrigatório cobrir de placas fotovoltaicas o telhado de toda construção nova.

O que é que o governo Lula pretende? Quer que o Brasil faça concorrência com a Venezuela em matéria de petróleo? Talvez queira também que nosso país siga os passos de Caracas em matéria de decomposição política?

Que deixem o petróleo tranquilo. Um dia, ele pode até vir a ser precioso para aplicações novas, que hoje nem conseguimos imaginar. As futuras gerações agradecerão por não termos queimado essa preciosidade que a natureza levou milhões de anos pra fabricar.

Fonte: https://brasildelonge.com
A consciência é a luz da inteligência para distinguir o bem do mal. (Confúcio, filósofo chinês)

LUGARES

CORTINA D'AMPEZZO - ITÁLIA
Cortina d'Ampezzo é uma comuna italiana da região do Vêneto, província de Belluno, com cerca de 5 954 habitantes, conhecida por ser uma famosa estação de esqui. Estende-se por uma área de 254,51 km², tendo uma densidade populacional de 23 hab/km².

MR. MILES


A beleza dos outros

Nosso correspondente britânico escreveu uma longa crônica para responder à pergunta de uma de suas leitoras.

Querido Mr.Miles: o senhor vive dizendo que, nas viagens, temos de aprender com os outros. Mas o que a gente aprende se não entender o idioma?
Penelope Fernandes, por email

Well, my dear, em primeiro lugar eu gostaria de lembrá-la que a vida inteira é um processo de aprendizado. No caso dos viajantes, o conhecimento começa até antes do sonho de partir. A escolha do destino, of course, está ligada a algum tipo de informação: um livro, um filme, uma reportagem... algo, enfim, que você aprendeu e transformou em desejo.

Durante o percurso, darling, a gente aprende o tempo inteiro sem esforço — e isso só não acontece se nos fecharmos como a casca de uma ostra. Nesse caso, nem seria preciso sair de casa. A gente aprende como as pessoas se portam; se são quietas ou ruidosas, se têm programas e preferências que não temos; o que usam para alimentar o corpo e o que fazem para aliviar a alma; como se vestem, como comem, quais são suas preferências políticas e quem são seus idolos — escritores, músicos, esportistas, seja quem for que as represente.

On the other hand, a gente aprende muito em situações prosaicas ou na descoberta do sequer supunhamos que existisse. Vou tentar, modestly, ilustrar o que digo com dois pequenos casos. O primeiro, prosaico e até divertido, diz respeito a um velho amigo brasileiro — recurso que uso para aproximá-los da cena. Trata-se de um cidadão que foi visitar Lisboa, uma cidade agradável e cheia de vida nesse novo século. Durante os diversos passeios que fez, descobriu que havia perdido, em algum lugar, um volume de Pessoa (N.da R.: Fernando Pessoa, poeta lusitano) que vinha de adquirir na Livraria Bertrand.

Metódico, esse preclaro amigo, decidiu refazer o trajeto do dia com o intuito de recuperar a brochura. Foi ao Parque das Nações, na região leste da capital portuguesa e, procurando sempre, descobriu que lá havia uma sessão de Perdidos e Achados. "Que engraçado — comentou o rapaz. No Brasil, chamamos esse serviço de Achados e Perdidos".

Foi brindado com uma resposta repleta de aprendizado: "Ora — disse-lhe a funcionária de plantão — pois muito me espanta. O senhor há de convir que primeiro perde-se e depois se acha. Daí perdidos e achados."

Meu amigo jamais encontrou o livro. Mas repete, com frequência, a historieta.

Outro episódio repleto de aprendizado ocorreu em Narai, no Japão, com minha querida amiga Caroline e seu Gustaf. Narai, para quem não sabe, é uma vila turística que consiste em uma única rua linda, com um casario coberto de palhas de arroz e pequenas lojinhas. Caroline constatou, em determinado momento, que a máquina fotográfica, com os registros de sua tourné em terras nipônicas, havia sumido.

Para reencontrá-la, tentou contato com os moradores locais e, na base da mímica, conseguiu fazer-se entender — embora sem resultado. Naturalmente entristecido, o casal seguiu até o fim da rua, onde encontrou um serviço de informações turísticas. Os atendentes já sabiam do caso, que vicejou como soja na pequena urbe. Mas, também eles, não tinham boas noticias. Um pouco depois, encostou na porta do estabelecimento uma luminosa viatura da polícia. Caroline entreviu, em uma caixa no interior do carro a máquina perdida. Imediatamente, com um sorriso no rosto, tentou recuperá-la. O policial, eficiente, disse a ela que não podia entregar-lhe o equipamento. O que foi motivo de surpresa para o casal, que não entendia porque não podia simplesmente recuperar a máquina fotográfica. Ato contínuo, entou em cena um simpático senhor a quem Caroline já havia conhecido no começo da rua (ele falava inglês) e as coisas foram esclarecidas. Depois de falar com o agente da lei, o senhor informou à Caroline que ela não podia retirar a máquina sem uma recompensa. O casal, conhecedor da reputação de honestidade dos japoneses recorreu ao dinheiro que carregava.

O policial, ofendido, disse ao senhor o que, de fato, esperava do casal. "Esta máquina foi encontrada por uma cidadã de Narai, que sentou-se ao lado dela por uma hora à espera de seu proprietário. Como ela precisasse viajar a uma cidade vizinha, entregou, por fim, o equipamento à policia. Portanto, informou o policial, a máquina só seria devolvida depois que o casal agradecesse à senhora em questão. Infelizmente não haveria tempo, porque o casal tinha um trem a pegar antes do horário de retorno da senhora. Para resolver a questão, o senhor japonês que intermediava as negociações, assumiu o compromisso de agradecer a senhora em nome do casal. Naquele dia, portanto, Caroline não fotografou. Mas teve uma das mais delicadas lições de sua vida.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 30 de março de 2023

COMBATENDO O CANSAÇO MENTAL

Eduardo Aquino
A cada dia mate seu leão! O problema é que os leões não dão trégua e os piores nós é que os criamos. Pensamos em excesso, disparadamente, erradamente. E, acima de qualquer coisa, pensar cansa. Exaure, pois, o consumo de energia vital que a mente exige, se houvesse uma analogia, seria maior que uma energia atômica individual. Em tempos de escassez de água e possíveis apagões, a humanidade está igualmente vivendo uma exaustão psíquica, uma fadiga mental jamais vista.

É bem verdade que nos auto-infligimos muito desse sofrimento ao consumir de forma sádica ou masoquista um conteúdo multimídias altamente negativista, que faz jorrar um oceano de preocupações, sofrimentos antecipatórios, medos alucinatórios, paranoias diversas que assaltam nossos pensamentos, sentimentos e ações cotidianas, como se vivêssemos num game de horror e aventura que esguicha adrenalina e, no fim, era tudo imaginação. Louca mente!

O triste é constatar que esse gasto imenso de energia que o ato de pensar ou de sentir ou de desejar – portanto nossa vida mental – exige do cérebro um desgaste elétrico e químico e, assim, nos desenergiza, cansa, desanima. E isso ocorre praticamente durante todo o tempo que estamos em estado de vigília (acordados).

Pergunte-se: Em quais tipos de pensamentos, sentimentos, desejos andas investindo seu tempo? Pois, grande parte das pessoas passa horas remoendo assuntos do passado! Coisas inúteis que não mudarão e que em geral resultaram em afetos negativos, como raiva, mágoas, ciúmes, ódios, inveja, culpa, entre outros estímulos negativos que, trazidos à tona são reativados, gastando a mesma energia ruim, improdutiva.

Coitado dos emburrados, que remoem sempre os piores fatos, ou dos magoados, sofredores crônicos e masoquistas existenciais. Mas existem outros consumidores de energia mental ainda mais numerosos que esses angustiados, prisioneiros das celas do pretérito. São os ansiosos com o futuro, os que sofrem por antecipação, os projetistas do amanhã sempre catastrófico.

Queimam seus neurotransmissores, aumentando a voltagem de seus cérebros em cenários imaginários alarmantes: “Meu Deus, meu filho não chegou até agora e se...”, “O desgraçado desligou o celular vai ver que...” “Aamanhã na prova não vou conseguir...” E daí pra pior.

Relembrando: pensar cansa! E se formos mais claros, seguindo o legado do mundo quântico aplicado ao nosso mundo cotidiano, “pensar equivale a agir”. O cérebro responde igualmente a uma ação como a um pensamento. Um exemplo é a masturbação. Ora! Se já vivemos num mundo que nos convida a ser pensadores compulsivos, se a informação excessiva nos alerta de perigo a cada esquina, se o celular e redes sociais nos viciam com toques que prenunciam urgências a cada minuto, o que fazer? Pois, temos boas notícias, mais práticas e simples que tomar todas ou pedir uma receita de Rivotril no postinho do bairro.

Uma pena que o espaço exige a paciência de uma semana...

Fonte: www.otempo.com.br 
Publicado em 8 de fevereiro de 2015 - Atualizado em 8 de fevereiro de 2015
Ser verdadeiramente modesto é compreender que o sentimento que temos de nossa superioridade vale apenas para nós. (Bernard Grasset, editor francês)

LUGARES

BATALHA - PORTUGAL
O Mosteiro de Santa Maria da Vitória, mais conhecido como Mosteiro da Batalha é um antigo mosteiro dominicano situado na vila de Batalha, no distrito de Leiria na região do Centro, província da Beira Litoral, em Portugal. Foi mandado edificar em 1386 pelo rei D. Wikipédia

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


O BOLSA-FAMÍLIA
Pode parecer paranoia ortográfica, mas é impossível não notar a falta de atenção do governo às leis ortográficas oficiais no momento em que lançou o Bolsa-Família, “a evolução dos programas de complementação de renda no Brasil”. Só que na sua grafia houve uma pequena involução quando a hifenização foi esquecida. Nas duas páginas de propaganda veiculadas em algumas revistas, encontravam-se seis substantivos compostos sem o hífen: *Auxílio Gás, *Vale Gás, *Bolsa Escola, *Bolsa Alimentação, *Cartão Alimentação e * Bolsa Família.
Pôde-se observar que, mesmo assim, muitos órgãos de imprensa levaram em conta as convenções ortográficas, escrevendo: 
Auxílio-Gás
Vale-Gás
Bolsa-Escola
Bolsa-Alimentação
Cartão-Alimentação
Bolsa-Família
 
Convém, neste caso, rever a regra que nos leva ao uso do hífen nesse tipo de palavra composta. Sabemos, mesmo que intuitivamente, que em português os substantivos, como regra, não são usados lado a lado sem alguma forma de conexão. Não se diz “Aquela bolsa couro é bonita”, mas “Aquela bolsa de couro é bonita”.

Então: os substantivos se associam ou por meio de preposição ou de hífen. Bolsa é substantivo, Família também. Como não se fala em Bolsa da Família, Bolsa para Família, deve-se empregar o hífen no lugar da preposição: Bolsa-Família. Esse raciocínio pode ser estendido a vários outros casos de uso frequente hoje em dia:
 
vale para gás    =    vale-gás
vale para transporte    =    vale-transporte
auxílio para maternidade    =    auxílio-maternidade
auxílio para funeral    =    auxílio-funeral
auxílio para refeição    =    auxílio-refeição
auxílio pelo desemprego    =    auxílio-desemprego
auxílio por doença    =    auxílio-doença
licença por/como prêmio    =    licença-prêmio
licença pela paternidade    =    licença-paternidade
cartão para alimentação    =    cartão-alimentação
tíquete para alimentação   =    tíquete-alimentação
bolsa para alimentação    =    bolsa-alimentação
bolsa para escola    =    bolsa-escola
seguro por desemprego    =    seguro-desemprego
salário por/para a família    =    salário-família
salário por hora    =    salário-hora
custo por hora    =    custo-hora
hora de aula    =    hora-aula.
 
Entretanto, por que hora extra não leva hífen? Porque extra aí é um adjetivo, redução de extraordinário, e não substantivo como hora. No plural: horas extras.

São raros os casos de dois substantivos intimamente associados sem a intervenção do hífen, o que constitui uma exceção à regra. Isso só acontece quando o segundo substantivo faz as vezes de adjetivo. Por exemplo: efeito cascata = efeito cascateante; carro esporte = carro esportivo (não se trata de carro e esporte ao mesmo tempo, nem de carro para esporte). Complementa o assunto a coluna Não Tropece na Língua 300.

Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 29 de março de 2023

BASTA DE VELHOFOBIA!

Mirian Goldenberg
Deboches, xingamentos, piadas e brincadeiras de mau gosto são o retrato perverso de uma sociedade preconceituosa e violenta com os mais velhos

Sabe quando foi a primeira vez que eu tive medo e vergonha de ficar velha?

Foi no dia do meu aniversário de 40 anos, quando me dei de presente uma consulta com uma dermatologista.

Nunca, até então, havia usado filtro solar ou hidratante. Sou da geração que se torrava ao sol, sem se preocupar com o envelhecimento da pele. Desde menina até os meus 16 anos, o momento mais gostoso do meu dia era caminhar descalça nas areias das praias de Santos, sentindo o calor do Sol, sem qualquer proteção.

Quando me mudei para o Rio de Janeiro, aos 21 anos, caminhar descalça nas areias continuou sendo o meu maior prazer, apesar do sol fulminante.

Voltando aos meus 40 anos, fui à dermatologista para ela me receitar um filtro solar e um hidratante. Estava na hora de começar a me cuidar para não ficar uma velha decrépita e enrugada, como me aconselhou uma amiga.

Olhando com muita atenção o meu rosto com uma lente de aumento, como um detetive que procura todos os meus defeitos e imperfeições, a dermatologista disse em um tom imperativo:

"Mirian, você tem que fazer correção nas pálpebras, elas estão muito caídas. Precisa colocar botox ao redor dos olhos, você está com muitas rugas de expressão. E preenchimento ao redor dos lábios, você está com bigode chinês. Tem que fazer um peeling no rosto, pois está com muitas manchas de sol. Se você fizer tudo isso, você vai rejuvenescer dez anos".

Só faltou dizer: "Você não tem vergonha na cara? Você é culpada por estar ficando velha!".

Paguei a cara consulta que saiu mais cara ainda porque passei a enxergar rugas, bigode chinês e manchas horrorosas que, antes, eram invisíveis para mim. Faço ou não faço correção nas pálpebras, preenchimento no bigode chinês, botox na testa? Se eu fizer tudo isso posso ficar dez anos mais jovem. Eu sou culpada por estar ficando velha.

Para piorar a crise dos 40, em uma das minhas caminhadas na praia, um homem disse: "Nossa, que coroa gostosa! Tá enxuta, ainda dá um bom caldo!". Como ignorei o "elogio", ele me xingou aos gritos: "Não tem vergonha de usar biquíni, sua velha mocreia, baranga e pelancuda? Você não se enxerga, sua velha ridícula?"

Em 2007 passei alguns meses na Alemanha fazendo pesquisas, dando aulas e palestras sobre "O corpo como capital na cultura brasileira". Em uma conversa informal com mulheres alemãs, contei que sempre que alguém me perguntava: "Quantos anos você tem?", eu respondia com: "Quantos anos você acha que eu tenho?" e ficava feliz quando respondiam 28 anos. Disse brincando que, quanto mais mentiam, mais feliz eu ficava.

Uma das mulheres achou um absurdo: "Por que você fica feliz quando dizem que você parece mais jovem? Por que você não fica satisfeita de ser uma mulher bonita e interessante com a idade que tem? Qual é a vantagem de parecer ser o que você não é mais?"

Foi como levar um tapa na cara. Percebi que aquilo que eu considerava um elogio era, na verdade, o medo, a vergonha e o preconceito com o meu próprio envelhecimento.

Ser xingada de "velha ridícula, baranga, mocreia e pelancuda", aos 40 anos, revela que envelhecer no Brasil é se tornar descartável, desvalorizada e invisível. Daí o meu medo e vergonha de ficar velha em uma sociedade em que a juventude é um verdadeiro capital.

A indignação geral com o vídeo das jovens universitárias debochando da colega de 44 anos foi um estopim para denunciar e combater o preconceito, discriminação, abuso e violência física, verbal e psicológica que moram dentro das nossas casas, famílias, trabalhos, escolas e, também, dentro de nós. Basta de velhofobia!

Não deixei de ir à praia de biquíni nem fiz os procedimentos recomendados, mas passei a pesquisar e escrever incansavelmente sobre o significado de envelhecer em uma sociedade em que uma mulher é humilhada e ofendida por querer estudar depois dos 40 anos.

Como escrevi no livro "Velho é Lindo!", inspirada em Martin Luther King, eu tenho um sonho. Eu tenho um sonho que um dia os mais velhos serão considerados lindos e que iremos viver em uma nação em que as pessoas não serão julgadas pelas rugas da sua pele e sim pela beleza do seu caráter. Livres, somos livres enfim.

Fonte: Folha de S. Paulo
Não conheço outras marcas de superioridade que não seja a bondade. (Ludwig Van Bethoven, compositor alemão)

LUGARES

BERGEN - NORUEGA
Bergen é uma cidade na costa sudoeste da Noruega. Ela é cercada por montanhas e fiordes, entre eles o de Sogn, o maior e mais profundo do país. Bryggen tem casas de madeira coloridas no antigo cais, que, no passado, foi um centro do império mercantil da Liga Hanseática. 

PIANO DE PAU x APORRINHOLA

Ruy Castro

Por que as antigas mídias têm de mudar de nome quando surge uma nova?

Orson Welles gravou "Cidadão Kane" em 1941? É verdade que a Warner queria Ronald Reagan, e não Humphrey Bogart, no papel de Rick Blaine, na gravação de "Casablanca" (1942)? Que Hitchcock teve de superar a insegurança de Kim Novak nas gravações de "Um Corpo Que Cai" (1958)? E que Marilyn Monroe levou Billy Wilder à loucura ao se atrasar todo dia para as gravações de "Quanto Mais Quente Melhor" (1959)? Bem, tudo isso é mais ou menos verdade. Exceto que nenhum desses filmes foi "gravado". Foram lindamente filmados, com filme em película, que exigia laboratório, revelação e corte e montagem a gilete na moviola.

De 1895, ano 1 de Lumière, até pelo menos 1980, todos os filmes, de todos os países e em todas as línguas, foram, com perdão pelo óbvio, filmados. Não foram gravados. As câmeras digitais ou ainda não eram populares ou as imagens que produziam não tinham qualidade para aguentar ampliação para uma tela de cinema com 400 metros quadrados. E, no entanto, quando se referem a qualquer clássico do passado, muitas pessoas hoje dizem que ele foi gravado.

Já não basta ao passado ser passado. Tem também de submeter-se à terminologia de nosso tempo. O caixa eletrônico dos bancos tornou-se, com naturalidade, apenas "o caixa". Já o antigo caixa que nos atendia no balcão passou a ser agora o "caixa humano". Por causa do livro digital, o querido livro impresso, com seus séculos de história, ameaça reduzir-se a "livro físico". O mesmo quanto ao jornal impresso, que passou a ser "jornal de papel".

Por que a nova mídia não se limita a impor o seu nome sem desmerecer o da mídia que ela superou? Em 1974, durante as gravações do LP —ainda não "vinil"— "Elis & Tom", o arranjador Cesar Camargo Mariano, adepto do teclado elétrico, referiu-se ao piano como "piano de pau".

Tom Jobim indignou-se. E passou a chamar o teclado elétrico de Mariano de "aporrinhola".

Fonte: Folha de S. Paulo - 27/08/2022

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 28 de março de 2023

SABEDORIA EM UMA FRASE

Paulo Pestana

A memória vai sendo embotada com o tempo – o disco rígido está cheio, dizem – mas tenho quase que certeza que o nome dele era Samuel. Gerente da leiteria (note-se que é de um tempo em que havia leiterias) e, com o sotaque luso ainda muito forte, fazia força para não ser confundido com o português da piada. Gostava de provérbios.

(Sim, já frequentei uma leiteira, que ficava na frente da maior banca de jornais da cidade, de propriedade de um italiano, que chamavam de Nino (ou Nico…) e que, ao contrário do luso, não fazia questão nenhuma de se passar por inteligente. Ou educado. Era um carcamano mal-encarado como os que a gente via nos filmes.)

Samuel adorava conversar com a estudantada. E passava cultura em forma de provérbios, aforismos, adágios, apotegmas, anexins, parêmias, ditos – o que seja –, que têm a capacidade de resumir uma história inteira numa única frase.

Erasmo de Rotterdam e Aristóteles anotavam as frases colhidas do populacho. E nem é preciso buscar este tipo de sabedoria das páginas da Bíblia; basta conversar com um matuto esperto que ele tem sempre o que dizer, em qualquer situação.

“Qualquer um tira o saci da garrafa; quero ver quem põe”, “Na cidade do saci, uma calça veste dois”, “Sapo não pula por boniteza, mas por necessidade”, “Não tinha com o que se apoquentar, comprou um leitão”, são alguns dos meus favoritos, entre os matutos.

Há provérbios que são tão repetidos que não têm mais graça: “O barato sai caro”, “Não se chora o leite derramado”, “O bom filho a casa torna”, “Os últimos serão os primeiros”. Não carregam mais sabedoria; óbvios, gastos pelo tempo.

Provérbios não podem ser ditos com entonação normal, exigem alguma solenidade, uma voz mais empostada e uma cara de coruja sabida. Senão correm o risco de se perderem na tradução – mesmo que seja em português.

O Samuel da leiteria explorava provérbios lusos, alguns tão marcantes que sobreviveram na cachola. “Visita sempre dá prazer. Senão quando chegam, pelo menos quando partem”, dizia. Outro muito repetido, ainda carente de tradução para mim, era “mal de muitos, consolo é”.

Outros: “Quando Deus quer, água fria é remédio”; “bem mal ceia quem come de mão alheia”, “não gozes com o mal do teu vizinho, porque o teu vem a caminho”.

Meu avô também repetia provérbios como mantras: “Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha”, era um de seus favoritos. Ou “para quem não quer, tem muito”, “mais vale um gosto do que seis vinténs” e “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.

Já que ninguém mais quer saber de livros, quem sabe os provérbios incutam alguma ciência no mundo? Dá menos trabalho. E nesses tempos de beligerância interminável – interna e externa –, em que o respeito tem valido muito pouco, mesmo que não seja em adágios, é preciso resgatar alguma sabedoria, ainda que seja preciso pegar frases emprestadas, como a de Benjamin Franklin: “Nunca houve uma guerra boa, nem uma paz ruim”.

Publicado no Correio Braziliense em 12 de março de 2023
Aquele que deseja reinar sobre o mundo deve primeiro aprender a reinar sobre si mesmo. (Johannes Linnankoski, escritor finlandês)

LUGARES

SÃO PETERSBURGO - RÚSSIA

O Palácio de Inverno é um palácio imperial da Rússia. Fica localizado em São Petersburgo, entre o Cais do Palácio e a Praça do Palácio. Foi construído entre 1754 e 1762 para servir de residência de inverno aos czares russos e suas famílias. Wikipédia

ROMANCE FORENSE

Charge de Gerson Kauer
Teste para reprovar estagiário

O desembargador recrutava mais um estagiário para reforçar seu gabinete jurisdicional.

Buscava – como já se imagina – um jovem, aí pelos seus 22 / 23 anos, com capacidade decisória, bons conhecimentos de Direito, fluência redacional sem erros, prática anterior em escritório de Advocacia e aquelas coisas todas que, de uns anos para cá, constituem os mandamentos do ´manual da estagiariocracia´.

Apresentaram-se vários interessados, mas especialmente um chamou a atenção pelo seu vestir correto e discreto e também pela fala fluente sem gírias.

Já na fase final dos testes, quase na hora da admissão, o desembargador resolveu ainda testar a inteligência do candidato. Mostrou-lhe um desenho, dando-lhe 20 segundos para que respondesse em que vaga numerada estava estacionado o carro (de placas discretas) da presidência da Corte.

- Trata-se de um teste de admissão para o curso seguinte ao 5º ano escolar primário nas melhores escolas inglesas – explicou o magistrado.

O estagiário olhou, fuçou, não conseguiu responder e solicitou mais tempo:

- Pedindo-lhe sua compreensão em conceder-me alguns minutos mais, Vossa Excelência pode ter a certeza de que, quando eu estiver em dúvidas, não vou dar nenhuma sentença às pressas.

O desembargador prorrogou o tempo algumas vezes. E o estagiário deu diversos palpites, mas não acertou.

Professoral, o magistrado encerrou:

- Observe a sequência. Ao chegar na vaga, olhe a frente do carro. Siga em ordem decrescente: 91, 90, 89, 88, 87 e 86. Elementar constatar que o carro está na vaga nº 87.

O estagiário voltou a mirar a figura e antes que desse outro palpite furado, escutou do desembargador a sentença:

- Você está reprovado. Não se deu conta de que, para quem vê na figura, os números estão de cabeça para baixo...

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 27 de março de 2023

MORTES POR FENTANIL ESTÃO ÀS PORTAS DAS CASAS BRASILEIRAS

Drauzio Varella

A droga sintética está por trás de muitas mortes catalogadas como 'overdose de cocaína'

O fentanil é um opioide sintético 50 vezes mais potente que a heroína e cerca de cem vezes mais potente que a morfina.

Administrado por via oral ou intravenosa, sua ação é rápida, bem como rápida é sua eliminação do organismo, propriedades farmacológicas que justificam seu emprego em anestesia, especialmente em procedimentos pouco invasivos. É possível que você, leitor, já tenha recebido esse medicamento, numa endoscopia ou na correção de uma fratura óssea, sem saber. Os anestesistas consideram o fentanil bastante seguro, desde que administrado por mãos experientes.

O risco é o seu uso indevido, porque a margem de segurança é estreita: doses de até 2 mg podem provocar paradas respiratórias fatais.

Quanto mais curto o intervalo entre a administração de uma droga psicoativa e a sensação de prazer provocada por ela, maior o risco de dependência química. É o que explica o sucesso da nicotina: a fissura acaba em segundos já na primeira tragada. Pela mesma razão, fumar crack é mais compulsivo do que cheirar cocaína.

O que faz do fentanil uma droga de uso compulsivo é o prazer quase imediato que ele traz, seguido de sua excreção rápida. O que o torna muito perigoso são as mortes por overdose em segundos ou minutos após a administração. Na comparação, os óbitos por overdose de outros opioides como heroína ou oxicodona levam minutos ou horas para acontecer.

Nesse cenário, o exemplo dos Estados Unidos, o país que mais consome drogas ilícitas, é trágico: as mortes por overdose de drogas sintéticas aumentam a cada ano. Entre 2019 e 2020, o número duplicou. Em 2021 foram 107 mil casos, dos quais 70 mil associados a opioides sintéticos —destes, 2/3 provocados pelo fentanil.

Antes de uso restrito a adolescentes e jovens, o fentanil não tardou a chegar aos adultos. No período de 2020 a 2021, o consumo na faixa etária de 65 anos ou mais aumentou 28%.

É droga fácil de sintetizar, a maior parte da produção vem de pequenos laboratórios na China, por um preço bem menor que o da heroína. A margem de lucro é astronômica, os cartéis mexicanos compram o quilo na China por US$ 5.000, quantidade que rende em média 20 quilos depois de batizado.

Ao atravessar a fronteira americana o quilo passa a valer US$ 80 mil.

A venda dos comprimidos no varejo confere aos traficantes US$ 1,6 milhão. Para os que ganham a vida no tráfico é tentação demais. Além do que, é mais fácil e menos arriscado transportar e distribuir comprimidos do que grandes volumes de maconha ou cocaína.

Os números das apreensões feitas pelo DEA, dos Estados Unidos, refletem essa facilidade. Em outubro de 2022, na Califórnia, foram apreendidos 24 quilos de fentanil em pó, quantidade suficiente para prensar 2.500 comprimidos. Neste ano, o DEA já apreendeu 4,5 toneladas de fentanil em pó e 50,6 milhões de comprimidos, quantidade suficiente para exterminar a população americana.

Acrescentar fentanil a medicamentos vendidos clandestinamente pela internet, com os nomes de Percocet, OxyContin, Ritalina, Xanax, Adderal, Ecstazy e outos, virou prática corrente entre os traficantes, com a finalidade de potencializar o efeito psicoativo e/ou analgésico e criar dependência. Numa ação do DEA foram apreendidos 20,4 milhões desses comprimidos falsificados de aparência igual à dos verdadeiros. Encontraram doses letais de fentanil em 4 de cada 10 comprimidos analisados. Muitos dos que perderam a vida por causa desses comprimidos fake não tinham ideia de que ingeriam doses letais de fentanil.

Segundo o DEA, cerca de 75% da cocaína hoje vendida nos Estados Unidos contém fentanil. Ela está por trás de muitas mortes catalogadas como "overdose de cocaína".

Esse comércio ilícito é feito com liberdade pelo Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter, Snapchat e pela deep web. Nessas plataformas, o fentanil é oferecido em mensagens cifradas, acompanhadas de emojis que funcionam como senhas de acesso.

Dado esse contexto internacional, fica evidente que não seríamos poupados. Neste ano, a Polícia Civil do Espírito Santo apreendeu no município de Cariacica—região metropolitana de Vitória— 31 frascos de fentanil líquido.

Estou convencido de que as mortes por fentanil estão às portas das casas brasileiras, infelizmente. Vamos agir como os avestruzes?

Fonte: Folha de S. Paulo