Carlos Heitor Cony
Não esqueço o último programa feito para a TV pelo ex-presidente Figueiredo. Era, na forma e no conteúdo, a prestação de contas do que ele havia feito e conseguido em seu longo mandato. Não me refiro àquela entrevista pessoal que concedeu ao Alexandre Garcia, pedindo que o esquecessem --um pedido ocioso, pois seria esquecido mesmo.
Estou lembrando o programa institucional não apenas de seu governo, mas, de certo modo, de todos os seus antecessores militares. Evidente que falou na anistia, no retorno dos exilados, na abertura política que estava em processo. Falou sobretudo de suas obras e realizações. No desfile das maravilhas, lá estavam o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, a Mata Atlântica, a imensidão verde da floresta amazônica, as cataratas da Foz do Iguaçu e um belíssimo pôr-do-sol, se não estou enganado, em Campos do Jordão.
Lembro aquele programa porque Lula está chegando ao fim de seu mandato, que torço que seja o primeiro e único, como o Rei Momo dos nossos carnavais. Ao inaugurar a plataforma que dará relativa auto-suficiência de petróleo ao Brasil, ele encampou 50 anos de lutas pela criação, crescimento e sucesso da Petrobrás. Deixou a impressão de que, sem ele, e sem as maravilhas de sua equipe, não chegaríamos aos barris necessários ao nosso suprimento --embora ainda tenhamos que importar muito petróleo, o nosso é pesado demais para o uso doméstico, ou seja, para movimentar a nossa frota de carros e caminhões.
Aproveitando o final de seu governo, ele mergulhou fundo na campanha eleitoral para se reeleger. Ao contrário de Figueiredo, não está pedindo que o esqueçam. Pelo contrário, pede, indiretamente, que o elejam de novo para termos direito não apenas aos barris da Petrobrás, mas ao Corcovado, ao Pão de Açúcar etc, etc.
Fonte: Folha de S. Paulo - 25/04/2006
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