Carlos Heitor Cony
Não é a primeira vez, nem será a última, que uma grande descoberta tecnológica, feita originalmente para o bem da humanidade, transforma-se pelo abuso em uma nova arma contra todos nós.
Desde a pólvora à desintegração do átomo, a técnica ampliou os nossos horizontes, domesticando a natureza e tornando o mundo cada vez mais suportável.
A internet é, cronologicamente, a última grande ferramenta colocada a serviço do homem, e como estamos ainda na pré-história da informática, são deslumbrantes e inesperadas as possibilidades que ela criará para o bem da sociedade humana.
Em compensação, tal como aconteceu com a pólvora, o avião, a energia nuclear, ela criou um novo cenário para a prática de crimes, que tal como a própria informática, ainda atravessa o estágio artesanal, mas tem tudo para se transformar numa arma contra a nossa segurança material e moral.
Bem verdade que a própria técnica pouco a pouco vai criando antídotos, mas todos eles provocarão novas modalidades de crime. É a briga do bem contra o mal que revive em cada episódio.
Durante as duas últimas guerras mundiais, o laboratório criou as minas submarinas, que atraídas pelo ferro do casco dos navios, provocaram inúmeros naufrágios, inclusive em navios que não eram de guerra. Mas logo em seguida os cascos passaram a ser feitos com uma mistura de isolante que neutralizava a atração magnética. O mesmo aconteceu com o radar: ele detectava qualquer avião inimigo antes que ele atingisse os alvos, mas a técnica criou o avião invisível que não é captado pelas ondas do radar. Zero a zero na luta.
Evidente que será criado um processo que impedirá os crimes na internet que estão crescendo em número e malefício. Mas a turma do mal não dorme em serviço e descobrirá novos recursos para invadir nossa privacidade, prejudicar nossos negócios e infernizar as nossas vidas.
Fonte: Folha de S. Paulo - 04/04/2006
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