Marcelo Duarte
Cacareco chegou a São Paulo vindo do Rio de Janeiro em 1958
Cacareco chegou a São Paulo há 65 anos —em 16 de fevereiro de 1958. O rinoceronte veio do Rio de Janeiro especialmente para a inauguração do zoo paulistano, que aconteceria um mês depois. A ideia é que ela (sim, apesar do nome, Cacareco era uma fêmea) ficasse em São Paulo por apenas seis meses.
Mas ela caiu nas graças dos visitantes em pouquíssimo tempo. O empréstimo foi renovado e houve até uma campanha pela sua permanência. Virou brinquedo lançado pela Estrela e até marchinha de Carnaval.
"Cacareco É o Maior" foi interpretada pelo cantor Risadinha (Francisco Ferraz Neto), que também assinou a letra ao lado de José Roy.
A letra começava assim: "Ca-ca-ca-ca-re-co/Cacareco, Cacareco é o maior/Ca-ca-ca-ca-re-co/Cacareco de ninguém tem dó". O animal era tão falado que, em 1959, recebeu quase 100 mil votos nas eleições municipais para vereador.
Espera um pouco: um bicho pode ser candidato?
Não, claro que não. A votação maciça de Cacareco é considerada o primeiro caso de voto de protesto no Brasil.
Irritado com os casos de corrupção que noticiava, o jornalista paulistano Itaboraí Martins resolveu lançar a candidatura da rinoceronte na eleição a vereador. Eram 450 candidatos para 45 cadeiras.
Cacareco recebeu mais votos que todos os outros candidatos.
O que aconteceu com Cacareco depois disso?
Os políticos conseguiram mandar Cacareco de volta para o Rio de Janeiro em 1º de outubro, dois dias antes da eleição, pensando em herdar os votos do rinoceronte. Não funcionou.
O partido mais votado atingiu cerca de 95 mil votos, enquanto o rinoceronte, sozinho, obteve aproximadamente 100 mil (nunca se soube o número exato, pois os votos de Cacareco foram considerados nulos pelo Tribunal Regional Eleitoral).
Cacareco morreu em dezembro de 1962, com apenas oito anos de idade.
Em 1984, o Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária da USP recebeu seus restos mortais. Seu esqueleto está em exposição até hoje. Sua história foi contada por Antonio F. Costella no livro "Cacareco, o Vereador", lançado em 1996.
Fonte: Folha de S. Paulo
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