terça-feira, 31 de janeiro de 2023

MEUS HERÓIS MORRERAM DE OVERPOSTING


Falo não de semideuses com espada em punho, mas de heróis humanos que admiro

Quando digo heróis, não me refiro ao arquétipo do semideus com uma espada em punho, e sim aos seres humanos que admiro. Quando digo overposting, é meio que isso mesmo, não tem mistério. Literalmente.

Uma das minhas pessoas favoritas não tem nenhum perfil nas redes sociais. Talvez por isso seja uma das minhas pessoas favoritas: porque não tenho acesso à sua versão virtual desesperada por atenção em uma saga para transformar sua vida em entretenimento barato.

Quando dizem que as redes sociais são tóxicas, sempre lembro daquele slogan da Kodak: "Você aperta o botão, nós fazemos o resto". Sim, as redes sociais são todas pensadinhas para viciar como crack, mas quem aperta o botão somos nós.

É uma curtição em que ninguém parece estar curtindo de verdade: a pessoa infeliz edita e publica um conteúdo para provar para outra pessoa que está feliz, daí essa outra pessoa se pergunta por que não está tão feliz quanto a pessoa que parece estar feliz mas não está e, se sentindo infeliz, agora também quer mostrar que está feliz mesmo que não esteja e assim por diante.

Recentemente, fiz um detox de posts de amigos e alguns chegaram a me perguntar: "por que você não me curte mais?". Respondi que não era nada pessoal, o que foi a forma mais educada que encontrei de dizer que não vou permitir que a versão virtual dele se coloque no meio da nossa amizade.

Pois quando minha pessoa favorita, sem arroba, chique até dizer chega, pediu meu celular para stalkear nossos amigos em comum, eu já sabia o que ia acontecer.

Vi o brilho dos seus olhos se esvair quando descobriu que um deles tinha um feed conceito (lê-se: polui o planeta fotografando em 35mm o que há de mais desinteressante com a pretensão de parecer uma pessoa interessante); outro reproduzia trends do Tik Tok (lê-se: sem qualquer pretensão de parecer uma pessoa interessante e/ou com excesso de tempo livre), outro era um lacrador compulsivo que não conseguia postar uma foto de pet sem cunho político; outro, uma metralhadora giratória de selfies que pesava a mão no filtro ao ponto se tornar irreconhecível.

Todos, na verdade, eram irreconhecíveis em relação às suas versões humanas. Talvez porque quando a gente se esforça demais para parecer uma versão melhor de nós mesmos, essa acaba sendo a nossa pior versão.

Fonte: Folha de S. Paulo
O trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade. (Voltaire, filósofo e escritor francês)

LUGARES

GRANADA - ESPANHA
(Edifício El Americano)
Granada é uma cidade na região de Andaluzia, no sul da Espanha, nos contrafortes das montanhas da Serra Nevada. Ela é conhecida pelos grandiosos exemplos de arquitetura medieval que datam da ocupação moura, especialmente a Alhambra. Essa vasta fortaleza, no topo de uma colina, abrange palácios reais, pátios serenos e espelhos d'água da dinastia Nasrid, além das fontes e dos pomares dos jardins de Generalife. ― Google

ROMANCE FORENSE

(Charge de Gerson Kauer)
O preço final do galanteio médico

Na flor de seus 28 de idade – sem exuberâncias – ela não usava vestidos de grife, mas trajava bem. Estava sempre perfumada, usava saltos altos, cabelos bem penteados. Era uma mulher interessante. Solteira. Líder.

Um dia, ela foi ao consultório de um ginecologista, próximo ao seu local de trabalho, que só atendia “particular”. O recôndito era decorado com objetos típicos das antigas milícias romanas.

A primeira consulta foi normal. Na segunda, o médico carregou no sotaque para elogiar a paciente: “Usted es muy bonita y sexy”.

E logo estendeu as duas mãos por cima da sua mesa, em direção à paciente, puxando-a pelos braços . E – como revela o processo – “aproveitando-se do estado de surpresa e choque, agarrou-a, beijando-lhe um dos seios por cima da blusa”.

A mulher líder bateu em retirada e foi direto à polícia. O agente policial fez o registro e deu a dica:

- Acho que esse médico é meio abusado, já temos registro de um caso semelhante.

Sem tardança, o caso foi a juízo. Citado, o ginecologista sustentou que “a autora apresentava quadro depressivo e todos os procedimentos e exames foram acompanhados pela médica assistente, inexistindo contato físico com a paciente além do necessário”.

Colhida a prova e considerados os antecedentes do médico, ele foi condenado a pagar indenização cível. O juiz decidiu por “verossimilhança e com base em provas indiretas e/ou indiciárias, mormente tendo em conta que referidos atos são normalmente cometidos às ocultas, sem a presença de testemunhas”.

Julgando a apelação do ginecologista, a câmara cível do TJ elogiou “a postura firme e coerente da paciente, ao denunciar a atitude ilícita e abusiva do médico, levando o fato ao conhecimento da autoridade policial e apresentando queixa-crime perante o juizado especial [onde operou-se a transação penal] não pode ser desconsiderada, sobretudo quando encontra respaldo em outros elementos indiciários e em prova testemunhal harmoniosa”.

Transitou em julgado. Na semana passada o médico ficou sabendo que a conta final do galanteio chegou pesada: quase R$ 48 mil. Tentou tardiamente obter gratuidade judiciária, no mínimo para se livrar das custas e dos honorários sucumbenciais. Não levou.

A colegas que foram levar-lhe suposta “solidariedade” (?!), o ginecologista informou que, nesta semana, vai pagar a conta.

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

COVID AINDA MATA TANTO QUANTO HOMICÍDIOS NO BRASIL

Vinicius Torres Freire

É preciso também desbolsonarizar a saúde

A Organização Mundial de Saúde (OMS) discute na sexta-feira que vem se a Covid ainda é uma "Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional" (ESPII), o maior nível de alerta e, em tese, de engajamento legal e dedicação mundiais na lida com um desastre sanitário, entre eles epidemias. Foi no 30 de janeiro de 2020 que a Covid se tornou uma ESPII.

Cientistas dizem pelo mundo que seria cedo decretar o fim da emergência mundial, se por mais não fosse porque a doença vai fazer uma desgraça na China, que deu cabo de sua política de "Covid zero" e vai ter muita infecção e morte.

Caso determine o fim da ESPII, a OMS não quereria dizer que a pandemia acabou, embora tal decisão tivesse algumas consequências práticas. Teria efeito simbólico?

Talvez não. Como parece intuitivo, o mundo já faz algum tempo se adaptou à Covid, se fartou de saber do vírus ou de se preocupar com ele. Em países como o Brasil, a doença se tornou de certo modo invisível desde meados do ano passado e ainda mais agora. Tornou-se tão invisível quanto os mais velhos e mais fracos.

No último mês, a Covid matou 3.938 pessoas, 131 por dia, pelos registros oficiais. No auge do horror, em abril de 2021, chegou a matar mais de 85 mil pessoas em 30 dias.

Mesmo com esses números reduzidos, a Covid ainda mata tanto quanto assassinos (a média de homicídios em 2021, dado mais recente, foi de 130 por dia).

A doença pode parecer invisível, menos para os doentes e suas famílias, porque mata majoritariamente pessoas mais velhas ou que também já padecem de outro mal, ainda e sempre doenças do coração e diabetes, na maior parte (em São Paulo, 73% dos mortos tinham comorbidades).

No último trimestre, 81% dos mortos de Covid no estado de São Paulo tinham mais de 60 anos (65% tinham mais de 70 anos). Cerca de 85% dos mortos por gripe/pneumonia em 2019 e 2020 tinham mais de 60.

Como já se escreveu nestas colunas, é como se Covid tivesse se tornado uma grande gripe assassina, em especial de velhos, que se dá de barato que morram, tal como um Bolsonaro o faria. Em São Paulo, a Covid matou mais de 1 de cada 40 dos indivíduos com mais de 70 anos.

A vacinação tornou a morte de pessoas mais jovens muito improvável, é verdade. Apesar de Jair Bolsonaro e de generais e coronéis do Exército, que comandaram a ocupação bozista do ministério da Saúde, a vacinação avançou, graças ao SUS e à maioria de estados e cidades.

Na aplicação das duas primeiras doses ou equivalente, o Brasil foi tão bem quanto França, Alemanha, Itália e Espanha (ou melhor), por exemplo. Mas fica bem abaixo na dose de reforço (57% da população, abaixo dos países europeus grandes). O caso dos Estados Unidos é uma vergonha.

Vacinar, pois, ainda é necessário, até como parte de uma grande campanha de regeneração nacional, de informação e de atendimento de saúde, de divulgação de qualquer tipo de vacina, programas prejudicados por causa dos degenerados bolsonaristas.

Além dessa obviedade, há outras três, esquecidas ou aceitas como um dado da natureza.

Quase 60% das pessoas que tiveram Covid continuam a ter sintomas um trimestre depois da infecção aguda. Muitas delas, nem temos ideias de quantas, ficaram com sequelas incapacitantes ou graves de outra maneira. Famílias estão dilaceradas também porque perderam quem as sustentasse, mães, pais ou avós. É preciso cuidar dessa gente.

A outra desgraça é a da educação. Parece assunto tão velho, cediço, tedioso de tão repetido. É novíssimo, porém, pois quase tudo está por fazer.

Ainda nas prioridades, é preciso desbolsonarizar a saúde e levar Bolsonaro e seus generais e coronéis à Justiça. Sem anistia.

Fonte: Folha de S. Paulo
Leis são como teias de aranha: boas para capturar mosquitos, mas os insetos maiores rompem sua trama e escapam. (Sólon, poeta grego)

LUGARES

AMSTERDAM - HOLANDA
Amsterdã é a capital da Holanda, conhecida por seu patrimônio artístico, um elaborado sistema de canais e casas estreitas com telhados de duas águas, legados da era dourada do século XVII na cidade. O bairro de museus abriga o Museu Van Gogh, o Rijksmuseum, com obras de Rembrandt e Vermeer, e o Stedelijk, que privilegia a arte moderna. O ciclismo é uma característica essencial da cidade, que tem grande quantidade de ciclovias. O Oudezijds Kolk é um canal / eclusa curto e estreito em Amsterdã entre o Oudezijds Voorburgwal e o Oosterdok. Wikipedia (inglês)

O ÚLTIMO A LEMBRAR DE NÓS

Martha MedeirosMartha Medeiros

Recentemente li Rimas da Vida e da Morte, do excelente Amós Oz, que narra os delírios de um escritor que, ao participar de um sarau literário, começa a olhar para cada desconhecido na plateia e a criar silenciosamente uma história fictícia para cada um deles, numa inspirada viagem mental. Lá pelas tantas, em determinado capítulo, o autor comenta algo que sempre me fez pensar: diz ele que a gente vive até o dia em que morre a última pessoa que lembra de nós.

Pode ser um filho, um neto, um bisneto ou um admirador, mas enquanto essa pessoa viver, mesmo a gente já tendo morrido, viveremos através da lembrança dele. Só quando essa pessoa morrer, a última que ainda lembra de nós, é que morreremos em definitivo, para sempre. Estaremos tão mortos como se nunca tivéssemos existido.

Pra minha sorte, tive poucas perdas realmente dolorosas. Perdi um querido amigo há mais de 20 anos, e perdi uma avó que era como uma segunda mãe. Lembro deles constantemente, sonho com eles, busco-os na minha memória, porque é a única homenagem possível: mantê-los vivos através do que recordo deles.

Daqui a 100 anos, ninguém mais se lembrará nem de um, nem de outro, eles não terão mais amigos, netos ou bisnetos vivos, eles estarão definitivamente mortos, e pensar nisso me dói como se eles fossem morrer de novo.

Aquele que compõe músicas, faz filmes, escreve livros, bate recordes ou é um Pelé, um Picasso, um Mozart, consegue uma imortalidade estendida, mas, ainda assim, será sempre lembrado por sua imagem pública, não mais a privada, não mais a lembrança da sua voz ao acordar, da risada, do bom humor ou do mau humor, não mais daquilo que lhe personificava na intimidade.

Serão póstumos, mas não farão mais falta na vida daqueles com quem compartilharam almoços, madrugadas, discussões, já que essas testemunhas também não estarão mais aqui.

Alguém me disse: se você acreditasse em reencarnação, nada disso te ocuparia a mente. De fato, não acredito, e mesmo que eu esteja enganada, de que me serve a eternidade sem poder comprová-la? Se sou um besouro reencarnado ou se já fui uma princesa egípcia, que diferença faz? Minha consciência é que me guia, não minhas abstrações. Sou quem sou, sou aquela que pode ser lembrada. Não me conforta ser uma especulação.

É provável que ainda não tenha nascido aquele que será o último a me recordar, a rever minhas fotos, a falar bem ou mal de mim. Nem tive netos ainda. Qual será a data de minha morte definitiva? Não será a do meu último suspiro, e sim a do último suspiro daquele que ainda me carrega na sua lembrança afetiva – ou no seu ódio por mim, já que o ódio igualmente mantém nossa sobrevivência.

Cafajestes e assassinos também se mantêm vivos através daqueles que lhes temeram um dia.

Nessa véspera de Finados, queria fazer uma homenagem a ele: ao último ser humano a lembrar de nós, a ter saudade de nós, a recordar nosso jeito de caminhar, de resmungar, o último a guardar os casos que ouviu sobre nós e a reter nossa história particular.

O último a pronunciar nosso nome, a nos fazer elogios ou a discordar de nossas ideias. O último a permitir que habitássemos sua recordação. Bendita seja essa criatura, que ainda nos manterá vivos para muito além da vida.

Bendita seja essa criatura, que ainda nos manterá vivos para muito além da vida.

Fonte: Zero Hora

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 29 de janeiro de 2023

MORRER PELA PÁTRIA E VIVER SEM RAZÃO

Braulio Tavares
Desde menino tive uma fascinação pelas pessoas capazes de morrer por um ideal. O medo da morte sempre me pareceu o Pai de todos os medos, e um indivíduo capaz de superá-lo era aos meus olhos uma espécie de super-homem. Vendo aqueles filmes de guerra dos anos 50, eu pensava: “É apenas um filme. Quando acaba a filmagem, os ´defuntos´se levantam, tomam banho e voltam pra casa. São atores.” O bom-senso, contudo, me obrigava a lembrar que nas guerras de verdade os defuntos não tinham uma segunda chance. Num filme de Henri Verneuil sobre a retirada de Dunquerque, um soldado perguntava: “Qual é a diferença entre um morteiro e um obus?” O outro respondia: “Se cair em cima de você, nenhuma.”

Quando uma bomba cai na nossa cabeça, tudo deixa de fazer diferença. Não importa se você morreu lutando por um ditador sanguinário ou defendendo a Liberdade e a Democracia. A morte é o Zero Infinito, o Nada Absoluto. Existe algo mais aterrorizante do que isto? Para os que lutam nessas guerras, existe: é a possibilidade de que o objetivo da guerra não seja atingido. Valia a pena dar a vida para impedir que Hitler saísse transformando o mundo numa rede de fortalezas militares cercadas de fornos crematórios.

Só que o conceito de “dar a vida” não implica necessariamente a auto-destruição. Certa vez, após um concerto, uma madame disse ao violinista Fritz Kreisler: “Eu daria minha vida para tocar como o senhor.” Ele respondeu: “Eu dei a minha.” É preferível dar a nossa vida por uma idéia do que morrer por ela.

Se a guerra é a continuação da política por outros meios, precisamos abrir o olho com alguns países que, totalmente despreparados para a política, resolvem este problema preparando-se para a guerra. Incapaz de deslindar os problemas geopolíticos do Oriente, o governo norte-americano decide cortar o nó que não desata; destruir o problema, em lugar de resolvê-lo. Como se o problema não fosse retornar, mais grave e mais bem armado, de onde ele menos espera, como em 2001.

Política deveria ser a arte de evitar guerras. É muito belo e muito nobre morrer por um ideal, mas alguma coisa me diz que um soldado que vai para a guerra está com a intenção de matar pela Democracia, não de morrer por ela. Seu objetivo é matar; morrer é um risco que ele sabe que corre, mas no fundo, no fundo, ele acredita que quem vai morrer são os outros, e que ele vai voltar para sua casinha de subúrbio, sua família, sua cerveja e seu boliche no fim-de-semana.

Política significa debater questões ideológicas e econômicas e encontrar um ponto de equilíbrio, sem que seja necessário bombardear populações civis em Nova York ou em Bagdá. Quando se passa unilateralmente das discussões políticas para o bombardeio, fica claro que o bombardeio (e os lucros ideológicos ou econômicos que o cercam) é que era o objetivo final, e todo o resto é mera encheção de lingüiça.

Fonte: http://mundofantasmo.blogspot.com - 25/03/2003

O ESTRANHO CASO DA MONALISA COM OLHO FURADO

 Fernando Albrecht
Era um estranho bar. Ficava nas imediações da Usina do Gasômetro, Porto Alegre. Um pé-sujo clássico, desses de mesa de fórmica, dono atrás do balcão, vestindo um avental que já viu melhores lavanderias.

Cachaça, cerveja, vinho barato e, na prateleira, meia dúzia de garrafas de bebidas diversas cobertas de poeira. Mas os fregueses gostavam mesmo de um pôster esmaecido da Mona Lisa, afixado na parede ao lado do tosco banheiro.

O detalhe é que não era uma simples reprodução do quadro de Da Vinci. Um dos olhos da La Gioconda estava tapado, como se tivesse um tapa-olho de pirata.

Que gênio, murmurava um assíduo cliente, tido pela roda como um intelectual, e como tal, muito respeitado. Era a rebeldia de quem criou essa imagem singular, repetia. Uma releitura do clássico italiano, levantando o copo de cuba libre à guisa de saudação. Respeitosamente, a plebe ignara o imitava.

Um dia, um dos frequentadores estava esperando sua vez de entrar no banheiro, e sem nada a fazer, fixou o olhar no tal pôster. Olho no olho, literalmente.

De repente, soltou um berro. Apontou o indicador da mão direita no rosto da enigmática senhora e com o da mão esquerda mirou a roda de amigos. Todos foram ver a razão do espanto.

Não era um tapa-olho clássico. Eram os restos mortais esparramados de uma barata GG que alguém matara com uma chinelada.

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br
Amar não é aceitar tudo. Aliás, onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor. (Wladimir Maiakovski, poeta russo)

LUGARES

FONTAINEBLEAU - FRANÇA
O Palácio de Fontainebleau é um dos maiores palácios reais franceses. Fica localizado na cidade de Fontainebleau, departamento de Sena e Marne, no Norte da França. O palácio reflete, actualmente, o trabalho de vários monarcas franceses, construído a partir duma estrutura inicial de Francisco I. Wikipédia

ARTE, MÚSICA, POEMAS E HISTÓRIAS: CRIANÇAS PRECISAM DISSO?

Philip Pullmann*
As crianças precisam de arte, histórias, poemas e música tanto quanto precisam de amor, comida, ar fresco e brinquedos. Prive uma criança de alimento e os danos rapidamente se tornarão visíveis. Prive uma criança de ar fresco e brinquedos e os danos se tornarão também visíveis, mas não tão rapidamente. Prive uma criança de amor e os danos, embora possam permanecer ocultos por alguns anos, serão permanentes.

Mas prive uma criança de arte, histórias, poemas e música e os danos não serão vistos facilmente. Entretanto, eles estarão lá. Essas crianças, com seus corpos saudáveis, podem correr, pular, nadar e comer vorazmente e fazer muito barulho, como as crianças sempre fizeram – mas algo lhes falta.

É verdade que algumas pessoas crescem sem nenhum contato com arte de qualquer tipo e são perfeitamente felizes, vivem vidas boas e preciosas; pessoas em cujas casas não há livros, e que não ligam muito para pinturas, e não entendem para que serve música. Tudo bem. Conheço pessoas assim. São bons vizinhos e bons cidadãos.

Mas outras pessoas, em algum ponto de sua infância, ou na juventude, ou talvez em seus anos de maturidade, deparam-se com algo com que jamais sonharam – algo que lhes é tão estranho quanto o lado oculto da lua. Um dia, elas são surpreendidas por uma voz no rádio declamando um poema; ou passam por uma casa de janelas abertas e escutam alguém tocando piano; ou vêem a reprodução de uma certa pintura pendurada na parede de alguém e aquilo lhes atinge como uma pancada tão forte e tão gentil, que elas sentem como que uma vertigem. Nada as havia preparado para aquilo. Elas de repente se dão conta de uma fome enorme que existia por dentro, embora não tivessem ideia disso um minuto atrás; fome de alguma coisa tão doce e saborosa que chega a doer-lhes o coração.

Quase choram. Sentem-se tristes e felizes, sozinhas e acolhidas por conta desta experiência sumamente estranha e nova – e anseiam avidamente por ouvir aquela voz do rádio mais de perto, demoram-se ali ao pé da janela, não conseguem desgrudar os olhos da pintura. É isso que queriam, é disso que precisavam – como um homem faminto precisa de alimento –, e não o sabiam. Nem imaginavam.

É isso que acontece a uma criança que precisa de música, pinturas ou poesia, ao se deparar com essas coisas por acaso. Não fosse esse acaso, talvez o encontro jamais ocorresse, e ela passaria a vida inteira num estado de inanição cultural da qual nem teria ideia.

Os efeitos da inanição cultural não fazem alarde, nem são passageiros. Não são facilmente visíveis.

E, como eu sempre digo, algumas pessoas, pessoas boas, bons amigos e bons cidadãos, jamais chegam a viver essa experiência. Estão perfeitamente bem sem isso. Se todos os livros e toda a música e todas as pinturas do mundo desaparecessem da noite para o dia, elas não sentiriam falta; elas nem notariam.

Mas essa fome existe em muitas crianças e, muitas vezes, jamais chega a ser satisfeita, porque jamais foi despertada. Muitas crianças em todos os cantos do mundo estão passando fome pela falta de algo que alimenta e nutre suas almas de uma maneira que nada mais no mundo poderia.

Dizemos, e com razão, que toda criança tem direito a alimentação, a abrigo, a educação, a assistência médica e assim por diante. Mas temos de entender que toda criança tem direito a vivenciar a cultura. Temos de entender verdadeiramente que sem histórias, poemas, pinturas e música, as crianças também passarão fome.

*Artigo de Philip Pullman** por ocasião do 10º aniversário do Prêmio Memorial Astrid Lindgren, em 2012. Traduzido e publicado com permissão. Original AQUI!
Fonte e tradução: Como educar seus filhos.

Fonte: Facebook

MARIZA

CHUVA   
(Concerto em Lisboa)

FRASES ILUSTRADAS

 

sábado, 28 de janeiro de 2023

E AQUELA DO MAX NUNES?

Ruy Castro

O gênio que desfazia as frases feitas para fazer crítica e humor

Por falar nos centenários de 2022 que passaram em branco por falta de espaço, tivemos, em 17 de abril, o de Max Nunes. Sim, o misto de médico e gênio do humor, criador da dupla Primo Rico e Primo Pobre (do programa "Balança Mas Não Cai", de rádio e TV) e de vários personagens de Jô Soares. Tive a honra de organizar dois livros com as frases de Max: "Uma Pulga na Camisola" (1996) e "O Pescoço da Girafa" (97). Eis algumas.

"O dinheiro corrompe. Mas só quem não o tem." "Duplicata é essa coisa que sempre vence. Nunca empata." "Antes, a união fazia a força. Hoje, a União cobra os impostos e quem faz a força é você". "Anda tudo tão caro que até quem desdenha não quer mais comprar." "Mesmo com salário de fome, os professores do 1º grau não deixam de ir à escola. Mas é por causa da merenda."

"Houve um tempo em que os animais falavam. Alguns continuam." "Se Abel tivesse sido assassinado no Brasil, até hoje ninguém saberia que o criminoso foi Caim." "Todo erro deve ser esquecido. Por isso, quando o povo erra a polícia passa a borracha."

"O difícil de confundir alhos com bugalhos é que ninguém sabe o que são bugalhos." "Há certas coisas na vida que a gente não pode deixar passar. Principalmente se for goleiro." "A polícia descobriu 100 quilos de cocaína no aeroporto. A droga tinha sido colocada no nariz do avião." "Manchete de jornal: ‘Incêndio na fábrica de sorvete! Em poucos minutos, o fogo lambeu tudo!’"
"No Brasil também existe pena de morte. Mas só para a vítima." "Opinião é uma coisa que a gente dá e, às vezes, apanha." "Com quantas mentiras se faz um desmentido?" "No dia em que o porte de armas for proibido para os militares, aí, sim, haverá paz." "Na minha rua mora um general/ Cara de mau/ Como convém a todo general./ Ninguém sabe em que batalhas/ Ganhou a série de medalhas/ Que ostenta no peito varonil./ Também, pra que saber?/ Viva o Brasil!".

Fonte: Folha de S. Paulo - 06/08/2022
O que nós somos é um presente da vida. O que nós seremos é um presente que damos à vida. (Herbert de Souza, sociólogo brasileiro)

LUGARES

BOLONHA - ITÁLIA
O Palazzo d'Accursio ou Palazzo Comunale é um palácio italiano, actualmente sede do município de Bolonha, localizando-se na Piazza Maggiore daquela cidade. Wikipédia

VACA VIRTUAL

Carlos Heitor Cony
Li nos jornais e vi na TV: impressionado pelo fato de a filha, de 14 anos, passar 13 horas diárias diante da telinha, fazendo aquilo que chamam "navegar na internet", o pai tomou uma decisão drástica: tirou o computador do quarto da menina e colocou-o na sala, junto com os sofás, as poltronas e diversos outros eletrodomésticos.

Pensou que, num ambiente maior e mais poluído pelos habitantes da casa, a filha diminuiria a carga horária diante da telinha, limitando-se ao essencial, tanto no que diz respeito às informações gerais como ao gostoso bate-papo que a internet possibilita ao aproximar e ligar pessoas no universo virtual.

Na minha infância, não havia internet. Havia a geladeira, em cuja porta eu deixava recados para minha mãe ou para meus irmãos. Muitas vezes, um simples beijo, com um coração desenhado a lápis de cor vermelha. Também recebia recados, não esqueça de fazer isso, tem pastéis de queijo no forno, te amo, etc. Já era uma forma de solidão. Mas não se gastava 13 horas com esse tipo de interação, embora o universo atingido fosse mínimo.

Levando ao limite: com o desenvolvimento da informática (que ainda está na sua pré-história), com as novas ferramentas que estão a caminho, chegaremos ao limite de os jovens futuros gastarem 20 horas na telinha, reservando apenas 4 para dormir, uma vez que o banho diário e as necessidades de higiene poderão ser feitas também de forma virtual, não sei como mas tudo é possível. Serão novos Josés Serra que só viu uma vaca de verdade, em carne e osso, quando era adulto, candidato presidencial e ministro da Saúde. Evidente que ficou maravilhado.

Fonte: Folha de S. Paulo - 02/05/2006

FRASES ILUSTRADAS

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

FALTA O PAÍS

Cristovam Buarque*

Temos um presidente, mas ainda não temos um país

A reação à substituição do comandante do Exército mostra que temos um presidente, mas ainda não temos um país. Imprensa, políticos, opinião pública e militares se surpreendem, porque consideram as FFAA como instância com poder político próprio, separada do Brasil e seus dirigentes, presidente, parlamentares, ministros do supremo, governadores. O próprio presidente Lula reconhece que precisa de boas relações com o Exército, Marinha e a Aeronáutica, o Ministro da Defesa insiste que seu papel é pacificar e retomar estas relações, como se elas não fossem subordinadas às estruturas republicanas.

Este comportamento de temor do poder civil ao poder militar decorre do corporativismo como o país funciona. A reunião do presidente com os comandantes das FFAA pareceu mais um encontro para atender reivindicações da corporação, do que para cobrar obrigações dos militares com o país. Fizemos as FFAA antes de fazer uma nação. Fizemos um Exército que se vê como instância à parte, não parte do Estado Republicano. Esta não é característica apenas das FFAA.

Na véspera da demissão do comandante do Exército, o presidente se reuniu com os reitores de universidades que foram criadas antes de um sistema educacional que atenda ao país, alfabetizando crianças para o mundo contemporâneo. A universidade não tem armas, no mais se relaciona com o resto do Brasil de forma parecida às FFAA: uma entidade separada. Quando reunido com os reitores, Lula ofereceu trazer de volta as condições que o governo anterior negou, só não as asfixiando totalmente graças ao esforço heróico dos reitores, professores, alunos e demais servidores, mas não apresentou a proposta do que o Brasil espera delas para erradicar o analfabetismo de adultos, melhorar a qualidade da educação de base, colocar o Brasil entre os países de ponta na ciência e na tecnologia.

Montamos fábricas de automóveis, antes de uma população com renda suficiente para compor seus produtos. Para viabilizá-las, asseguramos subsídios e concentramos a renda na sociedade, e agora não sabemos como distribui-la, nem como fazer a indústria ser livre do protecionismo. Porque ao longo da história o país tem sido usado para atender aos interesses das corporações organizadas na sociedade, sem um espírito nacional comum. Até os incentivos à agricultura estão voltados para exportar e não para alimentar a população. Somos um celeiro habitado por famintos. Os políticos agem pensando no próprio partido, no próximo mandato e nos seus colégios eleitorais, dentro do horizonte de tempo limitado à próxima eleição. A economia e a sociedade estão organizadas para atender cada segmento no presente, não ao Brasil no futuro.

Temos um presidente de todo o Brasil, mas na verdade preside a soma das corporações, militares e civis, empresários e trabalhadores, partidos e culturas, estados ou municípios. O Lula tem legitimidade para substituir o comandante do Exército, mas ainda nos falta um país que permita fazer as reformas das FFAA, das universidades, da política fiscal, da distribuição estrutural de renda, da educação de base, que continua prisioneira dos municípios e, por ser desigual e sem qualidade, não está servindo para consolidar a nação que unifique os segmentos corporativos. Nada parece indicar a quebra do corporativismo e a chance de termos um país para o presidente governar, acima das corporações.

Não é uma tarefa fácil e vai exigir décadas, mas se o atual presidente não fizer com sua legitimidade, sensibilidade e experiencia, será difícil dar o salto necessário para inventar e construir o país, unindo suas partes em uma nação. Vamos continuar com um presidente e sem um país.

*Cristovam Buarque foi ministro, senador e governador

Fonte: https://www.metropoles.com
O dinheiro em abundância tem um efeito mais congelante do que o gelo. (Sándor Bródy, escritor húngaro)

LUGARES

MURTEN - SUÍÇA
Murten é uma comuna da Suíça, no Cantão Friburgo, com cerca de 5.843 habitantes. Estende-se por uma área de 12,01 km², 486,51 de densidade populacional de 485,51 hab/km². A língua mais falada é o alemão. Wikipédia

MR. MILES


Overbooking: o que nosso correspondente tem a dizer

O sempre adorável Mr. MIles disse, em mensagem enviada à redação, que pretende ver as neves do Brasil durante o inverno. Ele programa uma viagem à São Joaquim para ver o raro fenômeno e para agradar Trashie, sua mascote siberiana. Também vai, um pouco depois, para o refúgio patagônico de seu velho amigo e multiempresário Jaime Trauco Ibañez Cousiño que, embora muito sofisticado, só bebe vinhos em caixas de leite longa vida.
A seguir, a correspondência da semana:

Querido Mr. Miles: acabo de ver, na televisão, a cena chocante em que um médico é arrancado de um avião americano à força. Me deu vontade de ouvir sua opinião imediatamente. Como sei que não é assim, decidi enviar esse email.
Rosa Maria Quintão, por email

Well, my dear: fico orgulhoso por você querer ouvir minha modesta opinião. Vi a cena e fiquei tão inquieto quanto você. Meu único consolo é que, sendo os Estados Unidos uma sociedade tão judicializada e havendo videos das cenas de wrestling vividas pelo passageiro, ele vai processar a aerovia e, without doubt, ganhará pelo menos um Boeing 737-800 para que seus próximos voos tenham, ao menos, seu assento garantido.

However, o overbooking — a prática de vender mais poltronas do que as que existem na aeronave — é legal.

Imoral, mas legal. Se esse tipo de autoritarismo fosse praticado em outras modalidades, haveria grande confusão: espectadores com ingressos numerados em teatros ou cinemas precisariam ter muita sorte; viajantes com hotel reservado iriam acabar no olho da rua; passageiros de trem com assentos marcados terminariam, devastated, nas plataformas das gares.

As empresas aéreas praticam o overbooking porque, in fact, em grande parte dos voos, os passageiros esperados não aparecem. Nesses casos, os viajantes são multados, mas os aviões viajam com alguns lugares vazios — que poderiam, of course, render às companhias alguns — how do you say ?— caraminguás a mais.

Supõe-se que nem todos passageiros estão com pressa ou têm compromissos marcados em seus destinos. Therefore, para evitar reclamações diárias, é comum que, em caso de overbooking, as aéreas oferecem prêmios aos, let's say, "desertores". Ouve-se, com frequência, uma comissária que ofereça dinheiro vivo a quem topar partir no dia seguinte, ou prêmios como promoção à classe executivo and so on. Em caso de voos de longa distância, os prêmios são bastante apetitosos — e vão subindo enquanto ninguém se apresenta. Meu amigo Liam, que ia de Londres para Nairobi com sua mulher e três filhos, for instance, desembarcou a familia inteira quando ganhou cinco novas passagens para o mesmo trecho — garantido-lhe duas férias com safári, ao invés de uma.

Nevertheless, não importa o tamanho do prêmio ou a ausência de premiados. Tirar um passageiro do avião por sorteio é uma decisão deplorável — ainda que os passageiros tivessem acesso às bolinhas e supervisão de uma auditoria independente. O que dizer, darling, de tirá-los à força, tornando-os alvos de uma agressão no mínimo constrangedora?

Aliás, a prática de calar passageiros comprando seu silêncio vem se expandindo. A televisão em frente ao seu assento não funciona? Reclame e receba 100 dólares para aceitar o infortúnio. Sua poltrona não reclina? Mais cem dólares — e não se fala mais no assunto. Já ouvi um amigo de pub contar que sempre torcia para que seu assento fosse brindado com diversas falhas. "Pode ser um negócio rentável.", disse-me ele.

É claro que esse espertinho poderia perfeitamente figurar como funcionário de empresas que, sem qualquer emoção, praticam overbooking. Como me disse, certa vez, a romântica viajante dominicana com quem partilhei momentos agradáveis na ilha de Santorini, "O problema não é sair do avião. É sair do sonho.", comentou, com grande sabedoria.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

IDOSOS E FAKE NEWS

Meraldo Zisman*

Estudo feito com 203 milhões de usuários do Facebook em quatro países da América Latina — Brasil, Argentina, Colômbia e Chile – indica que os usuários mais velhos saem na frente em compartilhamento de notícias sobre política, fake news e com mensagens de viés ideológico. Reproduzo aqui trecho de artigo da jornalista Thaís Oyama:

“Quando adquiri o meu primeiro computador (um enorme IBM), dada a minha persistência e dificuldades de lidar com esta novidade, escrevi então um artigo, sugerindo que ninguém deveria obter, adquirir, comprar ou ganhar tal equipamento sem antes produzir uma certidão de ser avô, ou avó de netos adolescentes. Tive que contratar um professor de informática para, rudimentarmente e até hoje, manejar a geringonça. Hoje estou mais falante da informática e seus avanços fixos e móveis, mas o sotaque permanece o mesmo como quando tenho de falar outra língua que não seja a materna. A única coisa que incluo, agora, notado é que, as crianças de hoje e jovens utilizam os dedos polegares com destreza encantadora”.

Avento que a Humanidade está dividida em duas épocas: A.C. (antes do computador) e D.C. (depois do computador), a partir da década de 1970, quando inventaram o refrão World Wide Web (www).

O avanço tecnológico das comunicações, que teve origem em 1960, transformou o Mundo. E acrescento: este arrazoado todo foi para tentar chamar a atenção dos envolvidos, segundo noticiam alguns canais de tevê., na afirmativa de que a média de idade dos suspeitos de envolvimento nos recentes episódios do quebra-quebra da nossa Versalhes Tropical (Brasília) é alta em relação à população nacional. Creio que este fato, se verídico, seria um bom indicador de como as mensagens “fake news” podem influenciar os mais velhos, inclusive durante a recente pandemia do coronavírus. Como psicoterapeuta e simples cidadão, já na oitava década de vida, pergunto: estaremos sendo vítimas de novo preconceito denominado de ageísmo: “Visão negativa, aversão e preconceito praticados por pessoas mais velhas”.

Advirto que o novo vocábulo deriva da junção da palavra inglesa “age”, que significa idade e do sufixo -ismo. Esclareço. Anglicismo é um termo ou expressão da língua inglesa adotado por outra língua, seja devido à necessidade de designar objetos ou fenômenos novos, para os quais não existe designação adequada na língua alvo. Quanto ao ageísmo, será talvez interessante que meus colegas Geriatras o estudem mais profundamente e tentem descobrir seu relacionamento com a geração ‘nem-nem’.

Comentário: acho normal que os mais velhos absorvam/repassem mais mensagens digitais porque são mais experientes e generosos, procurando apenas alertar outros cidadãos para certos ‘perigos’ – que, no entanto, infelizmente podem ser fakes…

*Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Alvaro Ferraz.

Fonte: https://www.chumbogordo.com.br/

A palavra não foi feita para cobrir a verdade, mas sim para dizê-la. (José Martí, poeta cubano)

LUGARES

SÃO PETERSBURG - RÚSSIA
O Hermitage é um museu localizado às margens do rio Neva, em São Petersburgo, na Rússia. É um dos maiores museus de arte do mundo e sua vasta coleção possui itens de praticamente todas as épocas, ... Wikipédia

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


USO DA VÍRGULA EM CASO DE VERBO SUBENTENDIDO
Do leitor Francisco Leoncio Cerqueira, de São Paulo, recebi o seguinte comentário: 
Tenho visto com frequência em revistas, jornais e até livros uma pontuação que me parece inadequada e me soa mal. Veja os seguintes exemplos:
  • O gerente ficou mais bonzinho e o motor, mais malvado.
  • A aeronave foi isolada e os passageiros, impedidos de desembarcar.
  • Carro popular fica mais caro e de luxo, mais barato.
  • A esquerda europeia reconhece seus ancestrais e a direita, seus inimigos.
  • A saída para a crise é de longo prazo e a receita, ortodoxa.
  • A empreiteira implodiu o edifício e o ministério, seus opositores. [Pode-se entender que a empreiteira tinha dois opositores – o edifício e o ministério – e os implodiu.]
  • O jornalista desconhece a ortografia e o dicionário, a sintaxe e a pontuação. [Pode-se entender que o jornalista desconhece quatro coisas: ortografia, dicionário, sintaxe e pontuação.]
  • O Planalto fritou o ministro e o cozinheiro, frutos do mar. [sentido ambíguo]
  • O prisioneiro denunciou o amigo e o empresário, seus cúmplices. [idem]
  • O médico atendeu o paciente e a enfermeira, os feridos. [idem]
O que me parece é que os redatores têm receio de colocar a vírgula antes do e. [...] Outra explicação seria a de que a vírgula está substituindo o verbo, oculto por elipse. O que eu aprendi em mil novecentos e antigamente é que a vírgula pode ser usada para indicar a elipse do verbo. Mas neste caso ela não precisa ficar no lugar que seria o do verbo. Acho até mais razoável repetir o verbo, em vez de usar essa pontuação absurda. Na maioria dos casos, para corrigir essa pontuação, basta deslocar a vírgula. Em outros será necessário recorrer a ponto e vírgula ou ponto. Em raros outros, será melhor alterar a própria redação.
É isso aproximadamente que proponho no livro Só Vírgula. Ou seja: há opções de redação. Reitero que não há erro em nenhuma das frases apresentadas acima; no entanto, algumas (as últimas) ficariam melhores com outra pontuação, sem dúvida. 
Considero ainda que em muitos casos basta a vírgula antes do e
  • O carro popular fica mais caro, e o de luxo mais barato.
  • Os liberais ou radicais ficavam sentados à esquerda do orador, e os conservadores à direita.
  • Em 25 de fevereiro de 1975 o governo convocou a V Conferência de Saúde, e em março de 1977 a VI Conferência.
Quando aparece o verbo ser, pode-se pensar até em repeti-lo:
  • O Brasil reúne dois defeitos: o dinheiro é curto (30 mil reais por aluno até os 15 anos) e a distribuição dos valores é heterogênea.
Entretanto, há frases sem a conjunção e entre as duas orações. Aqui é preciso, então, usar o ponto e vírgula no lugar onde estaria o E, para separar com clareza as duas orações. Lamentavelmente não foi o que fez a revista Istoé ao transcrever declaração do ator Murilo Rosa: “A tevê confere visibilidade, o teatro, prestígio.” A transcrição correta e clara seria com um ponto e vírgula no meio da frase: “A tevê confere visibilidade; o teatro, prestígio”.  

Outro mau exemplo sem a conjunção e foi encontrado numa prece: 
  • Torna-me refletido, mas não ranzinza, serviçal, mas não autoritário.
Melhor redação seria esta:
  • Torna-me refletido, mas não ranzinza; serviçal, mas não autoritário.
Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

ENTENDA COMO 'BADERNA' VIROU SINÔNIMO DE BAGUNÇA

Marcelo Duarte

Fãs da bailarina Marietta Baderna eram os 'badernistas' e faziam bastante barulho

Você viu a lamentável baderna que golpistas fizeram em Brasília há dois domingos, né?

É possível também que tenha ouvido falar que a cantora Anitta apresentou dias atrás um look em homenagem a Marietta Baderna para o Carnaval deste ano.

Então, a essa altura do campeonato, você pode estar se perguntando...

Marcelo, o que a baderna tem a ver com a Baderna?

A italiana Marietta Baderna era uma das maiores bailarinas da Europa. Fazia muito sucesso no corpo de baile do Teatro alla Scalla de Milão.

Em agosto de 1949, aos 21 anos, ela teve que deixar o país por razões políticas e veio para o Rio de Janeiro. Um mês depois, em 29 de setembro, Marietta fez sua estreia em palcos brasileiros e foi celebradíssima.

Acontece que Marietta tinha um comportamento considerado liberal demais para o Brasil. Sua dança era muito sensual. Aprendeu aqui também danças afro-brasileiras e chegou a participar de demonstrações ao ar livre ao lado de escravos, o que escandalizou a sociedade escravista brasileira do século 19.

Por causa disso, Marietta começou a sofrer represálias.

Que tipo de represálias e como reagiu a elas?

Passou a receber papéis secundários, ficava escondida no fundo do palco, coisas assim. Em muitas apresentações, ela nem sequer era escalada.

Logo ficou evidente que a estrela italiana estava sendo deixada de lado. O Jornal do Commercio chegou a fazer uma campanha feroz contra ela. Sua última apresentação pública foi em 1865, aos 37 anos.

Ela morreu em 1892.

Como foi que seu sobrenome virou palavra?

Marietta tinha uma legião de entusiasmados fãs, chamados de "os badernas" ou "badernistas". Quando ela entrava em cena, os seguidores faziam muito barulho e gritavam seu nome freneticamente.

Ao perceberem que Marietta estava sendo boicotada, eles resolveram protestar contra a direção dos teatros também com muita intensidade. O que faziam? Batiam os pés no chão, atrapalhando os espetáculos.

Por causa disso, a partir daí, o sobrenome da bailarina deu origem ao termo que significa confusão, bagunça, desordem. Golpe não.

Fonte: Folha de S. Paulo
Estaremos muito enriquecidos no dia em que forem raros os que têm muito e mais raros os que não têm o bastante. (Nicolai F. Grundtvig, pastor dinamarquês)

LUGARES

VIENA - ÁUSTRIA
O Naturhistorisches Museum ou NHMW é um museu localizado em Viena, Áustria. Sua coleção é disponibilizada em uma área de 8.700 metros quadrados e seu website dispoõe aos seus visitantes um tour virtual pelas suas dependências. Wikipédia

UM ERRO PROVIDENCIAL

Ruy Castro

Todo mundo erra, mas alguns abusam

Outro dia, li numa biografia do escritor inglês Graham Greene que, em crise entre sua fé católica e uma irrefreável tendência à devassidão, Greene tentou se matar. Mas fez tudo errado: bebeu colírio. Como não morreu, decidiu conciliar a fé e a devassidão.

Ninguém erra por querer. O cantor Eddie Fischer, ex-marido de Elizabeth Taylor e pai de Carrie Fischer, acordou meio bleargh e, fazendo confusão com seus comprimidos, tomou com água os dois fones sem fio de seu aparelho de surdez. Já Keith Richards, dos Rolling Stones, cheirou as cinzas do pai achando que fosse cocaína. E o pai de minha amiga Ana Luiza, pensando estar vendo aranhas, matou de chinelo os cílios postiços que ela deixara na mesa.

Em 1989, uma infestação de moscas na famosa Escuela Internacional de Cine y Televisión, de Cuba, criada por cineastas cubanos, argentinos e brasileiros, impedia as aulas. Alguém sugeriu povoar de rãs a escola para comer as moscas. As rãs acabaram com elas, mas reproduziram-se de tal forma que tomaram a escola, infiltrando-se nas salas, gavetas, câmeras, moviolas e até nos armários, camas e tênis dos alunos. Erro brabo.

Em 1927, partindo de Nova York, o aviador Charles Lindbergh pousou em Paris. Era o primeiro voo transatlântico da história e ele foi recebido por uma multidão. Ela ia carregá-lo nos ombros, mas um popular mais afoito arrancou a touca de couro da cabeça de Lindbergh, botou-a na sua própria cabeça e tentou fugir. Quando o viu de touca, a massa confundiu-o com o herói e desfilou-o em triunfo até se dar conta do erro.

Todo mundo erra, mas alguns abusam. Jair Bolsonaro queria se reeleger. Para isso, declarou guerra aos artistas, intelectuais, estudantes, empresários, juristas, cientistas, ambientalistas, vítimas da Covid, jovens, mulheres, gays, indígenas, nordestinos, negros, pobres e o eleitorado em geral. Erro, no caso, providencial.

Fonte: Folha de S. Paulo - 07/08/22

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

NEUROCIENTISTA DÁ DICAS DE JOGOS PARA ESTIMULAR O CÉREBRO

Sílvia Haidar

Atividades como a leitura e até o uso de redes sociais podem trazer benefícios

Palavras cruzadas, jogos e até o uso de redes sociais são formas de treinar o cérebro e a cognição.

Analógicos ou digitais, esses estímulos exigem energia da mente para leitura, compreensão e assimilação das informações, explica a bióloga e neurocientista Lívia Ciacci, palestrante do Método Supera, de ginástica para o cérebro.

A seguir, veja dicas de atividades da neurocientista, que destaca os pontos positivos e negativos de cada uma delas.

Palavras cruzadas
Tem diferentes níveis de dificuldade e pode ser encontrado em revistas nas bancas de jornal, na internet e nos aplicativos de celular. Promove um treino de linguagem interessante para estimular o vocabulário e a memória em todas as fases da vida. Com a idade, temos a tendência de perder a habilidade de fluência verbal, então todo exercício de linguagem é bem-vindo para manter o cérebro afiado. No entanto, tem limitações quanto ao efeito de estímulo da capacidade cognitiva, principalmente se a pessoa ficar estagnada em um nível de dificuldade fácil. Também pode ser difícil se a pessoa já tem algum grau de demência.

Xadrez
Desde o primeiro contato com as regras até vencer uma partida, o aprendizado do jogo requer o envolvimento de funções cognitivas complexas, como memória de trabalho, visão espacial, raciocínio abstrato, controle inibitório, planejamento e tomada de decisão. O reforço dessas funções por meio do aprendizado de xadrez vai impactar positivamente em muitas outras atividades diárias que utilizam essas mesmas regiões do cérebro. O ponto negativo é que, por ser um jogo cheio de regras, com diversas peças caracterizadas por movimentos diferentes, o aprendizado depende de dedicação e foco. Tal aprendizado será mais eficaz se houver um professor ou mediador experiente auxiliando.

Leitura
Ser alfabetizado e ler significa construir um circuito novo no cérebro, apto a integrar diversas informações sensoriais para dar significado às palavras. Ter o hábito de fazer leituras em profundidade —livros em papel, textos com vocabulários ricos— fortalece a capacidade de pensar e torna a pessoa cada vez mais apta a aprender e se desenvolver. Quando for ler um texto publicado na internet, fique atento às fontes e à veracidade das informações para não ser vítima de fake news. Procurar assuntos do seu interesse e autores que incentivem o pensamento crítico.

Jogo de damas
Tem regras e dinâmicas um pouco mais simples que o xadrez. Além de existir o jogo físico com baixo custo, está disponível em diversos aplicativos. Trabalha bastante o pensamento flexível e estratégico, uma vez que é necessário planejar as jogadas para prever o que o oponente poderá fazer depois. O problema é que depois de o jogador se acostumar a ele, precisará jogar com pessoas diferentes para que fique mais estimulante.

Ábaco
É um instrumento milenar utilizado para fazer contas. Ajuda a desenvolver agilidade de raciocínio por meio de cálculos matemáticos visuais, e não apenas abstratos como na matemática convencional. O treino com o ábaco promove alterações de plasticidade no cérebro que aumentam a eficiência do processamento de informações em regiões relacionadas visual-espaciais, que consequentemente ampliam o desempenho de diversas outras redes neuronais integradas. É preciso ser persistente para não desistir no primeiro obstáculo e treinar para desvendar o ábaco de forma gradual e assertiva.

Redes sociais
São boas para acompanhar a rotina de familiar e amigos, principalmente os que vivem longe. Também é possível acompanhar causas e se envolver em debates interessantes, estimulando o conhecimento. No entanto, é preciso tomar cuidado com informações falsas propagadas nas redes sociais que, além de desinformar, podem gerar medo e ansiedade. A dinâmica de vídeos curtos e rápidos, por exemplo, coloca o cérebro em constante estado de alerta. Acompanhar o dia a dia de celebridades que parecem levar uma vida perfeita também pode gerar comparações e gatilhos emocionais.

Ginástica para o cérebro
É uma metodologia que organiza os pontos positivos de jogos e atividades que estimulam o cérebro, promovendo práticas em grupo. Os princípios de novidade, variedade e grau de desafio crescente, somados às competências socioemocionais, estimulam as funções cerebrais. Por ser um curso pago, é preciso organizar a agenda para não faltar às aulas.

Fonte: Folha de S. Paulo
Democracia neste país é relativa, mas corrupção é absoluta. (Paulo Brassard)

LUGARES

PARIS - FRANÇA
Paris, a capital da França. A cidade é conhecida por monumentos como a Torre Eiffel e a Catedral de Notre-Dame, dentre outras tantas coisas.

ROMANCE FORENSE

 A juíza que é só uma consumidora...

A juíza liga para uma editora, na tentativa de cancelar a assinatura de uma revista. Apesar do pagamento regular das mensalidades, a entrega da publicação semanal é irregular.

A magistrada espera alguns minutos, ouvindo gravações, até chegar ao atendente vivo. Ele pergunta os dados pessoais da aborrecida cliente, números de seus documentos, endereço, telefones e, inclusive, a profissão.

- Sou juíza - informa corretamente a consumidora.

O atendente tenta insistentemente fazer a cliente desistir do cancelamento.

Inexitosa a insistência, informa, então, que, ”em três dias úteis, nosso setor de auditoria estará entrando em contato com a senhora para estar efetuando o cancelamento!”

A juíza responde ser a editora obrigada a cancelar na hora. Escuta uma fria recusa e rebate incisiva que está dando por cancelado o contrato.

Vem, então, a reação imediata do atendente:

- Não é porque a senhora é juíza que vai ter tratamento diferente, não! Para mim, a senhora é só uma consumidora!

Tranquilamente, a magistrada - que apenas havia se identificado como tal, diante das perguntas do início da ligação - responde:

- E por que eu sou juíza, a lei não se aplica a mim?!

O atendente desliga. A assinatura não é cancelada, as parcelas mensais continuam sendo cobradas no cartão de crédito da ´juíza-só-consumidora´ e a entrega das revistas segue irregular. O caso está em juízo.

Quanto vale esse dano moral?

Fonte: www.espacovital.com.br