No Dia da Bandeira, Marcelo Duarte fala dos modelos que o país já usou além do verde e amarelo
Hoje é o Dia da Bandeira. A nossa bandeira está passando por uma crise de identidade por causa da polarização política, o que é uma pena. Ela foi projetada em 1889 por Raimundo Teixeira Mendes e Miguel Lemos, com desenho de Décio Vilares.
No lugar da coroa imperial, eles colocaram a esfera azul-celeste e a frase "Ordem e Progresso", escrita em verde.
A bandeira brasileira começou a ser usada no dia 19 de novembro de 1889. E isso explica a escolha da data comemorativa.
Nos quatro primeiros dias da República, o Brasil teve uma outra bandeira, inspirada no pavilhão dos Estados Unidos, mas com as listras em verde e amarelo. Nesse momento de transição, outras duas bandeiras (que não aparecem em nossos livros de escola!) foram usadas para representar a República.
Se os livros de escola não trazem essas histórias, onde você as descobriu?
Encontrei uma delas no romance "1889 - Como Um Imperador Cansado, Um Marechal Vaidoso e Um Professor Injustiçado Contribuíram Para o Fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil", do jornalista Laurentino Gomes. Além do símbolo da monarquia, ela estampava uma estrela vermelha.
O fato aconteceu em 17 de novembro de 1889, dois dias depois da queda do imperador Dom Pedro 2°. Na ocasião, o cruzador Almirante Barroso, da Marinha Brasileira, numa expedição que previa a volta ao mundo em menos de dois anos, estava atracado no porto de Colombo, capital do Ceilão (atual Sri Lanka).
O comandante Custódio José de Melo recebeu um telegrama notificando-o da Proclamação da República e dos procedimentos a serem adotados em relação à bandeira imperial hasteada na embarcação.
A informação era clara: a coroa nela desenhada deveria ser substituída por uma estrela vermelha até que a nova bandeira republicana fosse entregue à tripulação, o que, de acordo com o especialista Tiago José Berg, autor do livro "Bandeiras de Todos os Países do Mundo", só aconteceria cinco meses mais tarde, em 8 de abril de 1890.
Por que uma estrela vermelha?
Porque na época esse era um símbolo com significado bem diferente do atual. Se hoje a estrela costuma ser associada à Revolução Russa (1917), aos regimes comunistas do século 20 ou, no caso brasileiro, ao Partido dos Trabalhadores, naquele tempo ela era uma representação republicana.
A cor vermelha ganhou esse sentido depois da Comuna de Paris, lembrando a cor tradicional do barrete frígio, típico chapéu utilizado pelos revolucionários franceses de 1789. Em solo brasileiro, a estrela vermelha já havia sido utilizada pelos líderes da Conjuração Baiana, em 1798, um movimento republicano reprimido pela Coroa de Portugal, metrópole do Brasil naquele período.
Mas você falou em duas bandeiras... Qual foi a segunda?
No artigo "A Proclamação da República no Brasil", de 2015, o pesquisador e advogado Antônio Sérgio Ribeiro revela que o vapor Alagoas, que levava a família imperial para o exílio na Europa, recebeu em alto-mar uma bandeira como símbolo do novo regime brasileiro.
Ela foi entregue pelo capitão-tenente do navio Riachuelo, Alexandrino Faria de Almeida, ao capitão-de-fragata do Alagoas, José Carlos Palmeira.
A bandeira, segundo Ribeiro, "imitava o M do Código Internacional de Sinais, com o cantão completamente vermelho contendo uma cruz em aspa branca com 21 estrelas em azul, sendo a estrela do centro maior". "Havia muitas propostas de bandeiras para a nova República e esta era uma delas", explica Berg.
Tal bandeira se assemelhava à bandeira naval usada pelos Confederados nos Estados Unidos. Teve vida curta. Em 1º de dezembro de 1889, quando o navio passou por São Vicente, no arquipélago de Cabo Verde, as autoridades portugueses mandaram retirá-la do barco.
O Alagoas seguiu viagem sem bandeira no mastro.
Fonte: Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário