quarta-feira, 30 de novembro de 2022

SOU CONTRA A 'ESCOLA EM CASA' PORQUE AS FAMÍLIAS NÃO ESTÃO COM A BOLA TODA

Luiz Felipe Pondé

Quem defende 'homeschooling' acaba pedindo a Deus ou a extraterrestres para dar um golpe de Estado no Brasil

Sou contra. "Homeschooling", ou "escola em casa", é uma daquelas modinhas que a direita brasileira importou da direita americana, como arma para todos e fake news como liberdade de expressão. O maior argumento contra os bobocas da direita hoje é eles terem vícios semelhantes aos inteligentinhos da esquerda: importar todo tipo de lixo americano. Os EUA são o maior produtor de lixo cultural do mundo.

Sou contra a "escola em casa" porque não acho que as famílias estão com essa bola toda. Assim como desconfio de gente que quer ficar falando de sexo —ou similares— com crianças, desconfio de pais que querem educar seus filhos em casa.

O argumento máximo a favor da escola formal é a pluralidade de ambientes que ela oferece. Claro que nessa pluralidade vai todo tipo de risco, mas quem disse que as famílias não são um risco também? Principalmente aquelas que querem ter o monopólio dos "valores" —eita expressão brega essa "valores"— na formação dos filhos. Acho gente muito esquisita esse povo que defende a "escola em casa".

Evidente que há uma parte da escola que acontece em casa. Pais que se importam tanto com a escola deveriam tirar dez em toda tarefa para casa dos filhos. Mas, não. Quem defende a "escola em casa" o faz por uma forma peculiar de arrogância. Entende a si mesmo como especialista em tudo.

No lado diametralmente oposto aos pais que correm atrás de especialistas de forma paranoica para fazer diagnósticos psicopatológicos dos filhos, os defensores da "escola em casa" são também uma forma teratológica —não sabe o que é? Olhe no Google— da paternidade e maternidade loucas do mundo contemporâneo.

Não duvido que existam países que pratiquem essa forma de escola. O que por si, não prova nada. Mas, a realidade do Brasil é que a "escola em casa" é capricho de classe média obcecada com ser a única fonte de mundo dos filhos —o que, por si só, já deve levantar suspeitas. Quem defende a "escola em casa" acaba pedindo a Deus ou a extraterrestres para dar um golpe de Estado no Brasil.

A realidade do Brasil é "escola em lugar nenhum" porque grande parte das crianças não vão a escola nenhuma. Grande parte das famílias não tem estrutura para garantir nem a ida das crianças para a escola formal, quanto mais "escola em casa". Por isso, toda essa discussão é jogar no lixo tempo de resolução para os problemas sérios da educação no Brasil.

Não entremos aqui num debate profundo sobre educação porque ela simplesmente não comporta profundidade nenhuma. A questão é urgente demais para as complexas combinações da inteligência. A questão é puro desespero. É necessário botar as crianças na escola porque do contrário o país vai para o saco, mais do que já está. E escola aqui é escola formal, onde elas deviam passar o dia todo.

Sim, a educação é rasgada por modas ideológicas, professores pregadores, infraestrutura lixo. As escolas privadas são empresas submetidas ao mercado e a queda na natalidade. As universidades são instituições em que burocratas, marqueteiros e politiqueiros dominam o território. Aluno importa como renda. A gente sabe disso tudo. Não há nenhuma grande teoria na educação afora muita idealização da própria atividade ou modas de autoajuda e motivacional. Ou ela é política, ou é psicologia ou é vendas. Por isso mesmo não cabe nenhuma profundidade no assunto.

O problema é mais de engenharia do que de ciências humanas. Quando uma situação fica tão miserável quanto a educação no Brasil, a única atitude possível é a busca do razoável. No caso, instalações descentes, professores treinados,crianças com dentes na boca, ambiente seguro, comida sem veneno, carga horária completa, ler, escrever, fazer conta, aprender a conviver com outras crianças que serão os adultos do futuro.

Vale acrescentar que a família brasileira é, em grande parte, tão miserável quanto as outras instituições brasileiras. Portanto, esse fetiche com uma educação em que a família é responsável pelos "valores" —de novo essa expressão brega— a serem passados para os filhos é papo furado. Arrogância e blá-blá-blá.

Fonte: Folha de S. Paulo
Aquele que duvida e não investiga torna-se não só infeliz mas também injusto. (Pascal)

LUGARES

VIANA DO CASTELO - PORTUGAL

Viana do Castelo é uma cidade portuguesa, capital do distrito com o mesmo nome, na região do Norte, e integrada na sub-região NUT III do Alto Minho, com cerca de 26 000 habitantes. É sede do município de Viana do Castelo — com 319,02 km² de área e 85 784 habitantes — que está subdividido em 27 freguesias. Wikipédia

E AQUELA DA MAE WEST?

Ruy Castro

Ela negava que tivesse descoberto o sexo: "Apenas não o cobri"

Você sabe quem foi Mae West (1893-1980) e como ela se definia: "Quando eu sou boa, sou ótima. Mas, quando eu sou má, sou muito melhor". Se não sabe, ela foi uma estrela da Broadway e de Hollywood a partir dos anos 20, escritora, roteirista, cantora, símbolo sexual e alvo nº 1 da censura, da polícia e dos religiosos americanos por suas frases. Como esta: "Já estive em mais colos do que um guardanapo". Ou: "Tive tantos homens que o FBI devia me procurar quando quisesse comparar suas impressões digitais". Ou: "Eu nunca iria para a cama com um perfeito desconhecido, a não ser que ele fosse perfeito".

Seu cartão de visitas no cinema foi sua primeira frase em "Noite após Noite" (1932). A chapeleira a olha admirada: "Meu Deus, que diamantes lindos!". E Mae: "Deus não teve nada a ver com isso, querida". Um filme depois, Mae examina um homem de alto a baixo e sugere: "Dê uma subidinha e venha me visitar". E a um amigo que lhe dá um abraço: "Isso é um revólver no seu bolso ou você está só contente de me ver?".
Suas frases marcaram época: "Ama o teu próximo —e se ele for alto, moreno e simpático será muito mais fácil"; "Entre dois males escolho o que ainda não experimentei"; "Sempre evito tentações, exceto quando não consigo resistir".

Escreva "Mae West" no seu computador e o corretor ortográfico burro que mora dentro dele corrigirá para "Mãe West". Mae, mãe? Mae nunca foi mãe —sua independência não lhe permitia. Um dia, ela refletiu: "Durante algum tempo eu me envergonhei da vida que levava". "E você se corrigiu?", perguntou alguém. "Não", ela respondeu, "deixei de me envergonhar".

Em "Homem e Mulher até Certo Ponto" (1970), que ela fez aos 77 anos, um caubói muito alto se aproxima dela. Mae pergunta: "Qual é a sua altura, caubói?". "Dois metros e 18", diz ele. E ela: "Bem, esqueça os dois metros e vamos falar sobre esses 18 centímetros".

Fonte: Folha de S. Paulo - 18/06/2022

FRASES ILUSTRADAS



terça-feira, 29 de novembro de 2022

A ORIGEM DA RECEITA

José Horta Manzano

Você sabia?

Quem vai ao médico, nos dias de hoje, não se dá conta de que a regulamentação da profissão ― em terras europeias e americanas ― é relativamente recente.

Da Idade Média até o século XIX, a arte de curar foi exercida por corporações disparates, tais como: homens de igreja, barbeiros, boticários, tira-dentes, curandeiros, charlatães, feiticeiras.

Prescription 2

A Revolução Francesa, entre outros feitos, tornou a sociedade consciente de que certas práticas ancestrais reclamavam por normatização. O sistema métrico, por exemplo, é fruto daquela época. Até então, havia um rosário de unidades de medida ― de peso, de capacidade, de tamanho. Pés, polegadas, quintais, braças, arrobas variavam de uma região a outra.

A Revolução, assim como normalizou as unidades de medida, apontou para a necessidade de sistematizar outros atos e procedimentos que cada um costumava, até então, executar a seu modo. A regulamentação de certos ofícios começou naquela época.

A valorização das profissões da área de saúde ― medicina, cirurgia, farmácia ― gerou, como corolário inevitável, o rebaixamento de curandeiros e feiticeiras. Barbeiros passaram a dedicar-se unicamente à pilosidade de seus clientes, deixando sangrias e extrações dentárias para profissionais habilitados.

Olho de Horus
Olho de Horus

Embora já fosse adotada esporadicamente desde o século XVII, ganhou força aquela marca de que uma receita tinha sido prescrita por um profissional. Tratava-se de um R barrado ― este aqui: .

Está em uso até nossos dias. É muito provável, distinto leitor, que o médico que cuida de sua saúde tenha guardado o que lhe ensinaram na escola e continue a marcar suas receitas com o símbolo distintivo da corporação. Preste atenção da próxima vez.

De onde vem essa, digamos assim, logomarca? Pois parece que a origem é incrivelmente longínqua. Contam que as raízes descem até o Egito antigo. O R barrado seria a transliteração, se assim podemos nos exprimir, do hieroglifo que simbolizava o olho esquerdo de Horus, um dos deuses da mitologia egípcia.

Olho de Horus
Olho de Horus

Por que o olho esquerdo? Ih, é uma história complicada, com briga entre deuses, assassinato, esquartejamento, muito sangue. Pra resumir, saiba-se que, numa luta entre Seth e Horus, o olho esquerdo deste último foi arrancado e picado em 64 pedaços. Toth, o deus da ciência e da medicina, foi quem conseguiu dar jeito de recompor o despedaçado olho de Horus.

Seja como for, é surpreendente que milhares de médicos ao redor do planeta encabecem suas prescrições, talvez sem o saber, com símbolo forjado milênios antes de nossa era.

Publicado originalmente em 22 agosto 2014.

Fonte: brasildelonge.com
Um bem adquirido sem dificuldade é um tesouro no ar. (Pierre Corneille, poeta francês)

LUGARES

GRANADA - ESPANHA
Granada é uma cidade na região de Andaluzia, no sul da Espanha, nos contrafortes das montanhas da Serra Nevada. Ela é conhecida pelos grandiosos exemplos de arquitetura medieval que datam da ocupação moura, especialmente a Alhambra. Essa vasta fortaleza, no topo de uma colina, abrange palácios reais, pátios serenos e espelhos d'água da dinastia Nasrid, além das fontes e dos pomares dos jardins de Generalife. ― Google

ROMANCE FORENSE

O estagiário impontual

Um estagiário de Direito chega mais de uma hora atrasado no grande escritório de Advocacia porto-alegrense. É a segunda ocorrência semelhante, na mesma semana.

Irritada, a jovem (e encantadora) advogada - que chefia os estagiários - chama o impontual à sua sala, para cobrar dele uma correção de postura.

- Qual é a desculpa desta vez? - pergunta a advogada, valendo-se da condição de ser nora do titular da banca.

- Eu perdi a hora. O despertador do meu celular não tocou de novo. Desculpe!

- Não acredito! Tu poderias, pelo menos, dizer algo que eu não esteja ouvindo sempre...

O estagiário olha para baixo e, através da mesa de vidro, vislumbra em panorama proporcionado por uma curta saia tigrada, o torneado bonito das pernas da advogada.

Então ele se sai com a frase que pensa ser salvadora:

- A senhora está deslumbrante hoje!

Foi demitido.

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

 

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

BOLAS DE FUTEBOL ANTIGAS MACHUCAVAM QUEM CABECEAVA

Marcelo Duarte
Desde a Copa de 1970, bolas vêm ganhando altos investimentos em design

Curtiu a primeira semana da Copa do Mundo? Pois as emoções estão apenas começando. Não sei você, mas eu adorei a Al Rihla ("a viagem", em árabe), bola oficial da competição. Da Copa de 1970 para cá, as bolas vêm ganhando altos investimentos em design, com desenhos e cores inovadores.

A tecnologia também está cada vez mais avançada. Bem diferentes dos modelos antigos.

As bolas antigas eram brancas?

Nada disso. No livro inglês "1001 Football Moments", os autores Rob Wightman, Robert Lodge, Mike Hooley, Louis Massarella, Leo Moynihan e Sam Pilger contam que a bola de futebol branca foi usada pela primeira vez num amistoso entre o Arsenal, da Inglaterra, e o clube israelense Hapoel Tel Aviv no dia 19 de setembro de 1951, em Londres.

Como muitas partidas começaram a ser disputadas à noite, os jogadores reclamavam de não enxergar a bola de cor marrom em campo. Daí que a mudança foi acontecendo aos poucos.

A Copa do Mundo de 1970, no México, foi a primeira em que a bola deixou de ser marrom. A Telstar, da Adidas, apareceu com um design revolucionário: 32 gomos, sendo 12 pentagonais pretos e 20 hexagonais brancos. Ela era usada também em jogos com a luz do dia.

Então como eram as bolas antes disso?

Até então, as bolas mantinham a cor do couro com que eram feitas. Alguns modelos eram costurados por fora, outros eram bem rústicos. Um longo caminho precisou ser percorrido para chegarmos aos modelos atuais.

Um costume medieval europeu era inflar bexigas de porco para que as crianças brincassem. As primeiras bolas foram feitas desse material coberto com couro para manter seu formato original. A parte interna é chamada de câmara.

O americano Charles Goodyear patenteou o processo de vulcanização da borracha. A primeira bola feita com esse material apareceu em 1855. Ela era parecida com uma bola de basquete, com vários painéis de borracha colados pelas extremidades.

Em 1862, o inglês Richard Lindon inventou uma das primeiras câmaras de borracha para bolas de couro. No final do século 19, a maior parte das bolas já tinha câmara de borracha e pingava mais no chão.

Qual foi o primeiro modelo trazido para o Brasil?

O modelo de bola trazido da Inglaterra pelo estudante paulista Charles Miller em 1894 era desse tipo. O exterior era de couro curtido e tinha uma costura aparente bem no centro. Os cordões machucavam a testa dos jogadores que tentavam cabecear.

As bolas passaram a ter costura interna, deixando de ter cordões só nos anos 1940. Mesmo assim, em dias de chuva, o couro ficava encharcado, o que as tornavam extremamente pesadas.

Depois da Segunda Guerra, tintas sintéticas começaram a ser usadas para proteger o couro da água.

Fonte: Folha de S. Paulo
Um ciumento sempre encontra mais do que procura. (Madeleine de Scudéry, escritora francesa)

LUGARES

BERGEN - NORUEGA

Traduzido do inglês-Fløyen ou Fløyfjellet é uma das "montanhas da cidade" em Bergen, Hordaland, Noruega. Seu ponto mais alto fica a 400 m acima do nível do mar. O nome pode se originar de fløystangen ou um cata-vento que foi criado para indicar a direção do vento para veleiros. Wikipedia (inglês)

PERDIDAMENTE

Martha MedeirosMartha Medeiros

Amizades passam por fases, como os amores. Fase do grude, fase do silêncio, fase da demolição, fase da reconstrução. Tenho uma amigona com a qual eu andava na fase grude, só que ela se apaixonou e saiu de cena com o novo namorado. Hoje nós duas estamos na fase qual é mesmo o teu nome?, mas ela me mandou um WhatsApp dia desses dizendo que sente minha falta e que um dia irá voltar, como se estivesse num paraíso perdido. Ora, ela está o que é uma bênção. O que me comoveu foi a sua definição do momento atual: A felicidade anda me desorganizando.

A gente busca a felicidade como se ela fosse um pacotinho escondido atrás da Torre Eiffel, como se ela estivesse resumida a seis números de loteria, como se ela viesse dentro de uma bolsa de grife, como se sua chegada dependesse de uma foto no jornal, de uma capa de revista: cada um vai atrás da sua felicidade idealizada e acredita que só ao alcançá-la é que a vida finalmente entrará nos eixos.

É o contrário. Aí é que a vida ficará de pernas para o ar.

A cada manhã, levantamos da cama com a esperança de que o dia nos surpreenda, mas as surpresas não são cotidianas, não ficam tão disponíveis, elas são sorteadas aqui ou acolá, escapando de qualquer planejamento. Enquanto nada de especial acontece, a gente está no eixo, muito no eixo. Estabilidade é ausência de emoções fortes. Quando um desejo, finalmente, se cumpre, aí é que a bagunça se instala e o tempo desenfreia-se.

A felicidade (aqui traduzida por uma alegria incontida, não a felicidade da paz de espírito) nos desorganiza, de fato: minha amiga tem total razão, ela que deixou de ser regida pelo cérebro há alguns meses e se tornou ainda mais inteligente. A felicidade é carnavalesca, dança de um lado para o outro, se traveste, se fantasia, retira o relógio do nosso pulso, joga longe nossos sapatos, passa a ser regida por calafrios, não mais por conversas sensatas. Destrava, desalinha, e nós, seus portadores, desalinhamos juntos. Filhos, amigos, parentes: realidade demais, xô.

Esse tipo de felicidade (repito: a do enlevo, do encantamento profundo) não tem laços vitalícios com ninguém, ela é uma chama, um raio, um cometa, intuímos sua efemeridade e queremos mantê-la acesa o máximo de tempo possível. Obediência a calendários e compromissos conduziriam ao fim deste fervor, mas tudo o que queremos é que este fervor permaneça, mesmo que ao custo do nosso despreparo para ele, mesmo que pareçamos fora do esquadro. Ok, pagamos o preço. Desorganizados, mas radiantes.

É possível ser feliz e ao mesmo tempo organizado, mas você entendeu: não estou falando da felicidade comum, aquela incluída em nossos afazeres diários, e sim do êxtase, esse adorável corruptor da nossa agenda.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS

 

domingo, 27 de novembro de 2022

COM ERASMO CARLOS PARA PLAYBOY

Ruy Castro

Nesta entrevista de 1980, ele começava a voltar, depois de conhecer a glória e o desprezo


Playboy, 1980. Trechos de minha entrevista com o suave Erasmo.

"Já tive a minha fase de ídolo, de ser rasgado pelas fãs, de não poder sair à rua. Um dos motivos da minha calvície foram os chumaços de cabelo que as meninas arrancavam. Até três juntas dá pra encarar, só querem beijar. Mas, no que passou de dez, ficam selvagens, te pisoteiam, podem até te matar."

"Eu não vim da elite. Vim do proletariado urbano, nasci na Zona Norte do Rio. Cantei em circo, cantei em propaganda de candidato a vereador na Baixada Fluminense, cantei em caminhão, já fui em avião de carga para cantar no Piauí. Já cantei em cinema sem microfone. Onde pintava uma grana eu ia buscar."

"Era chique convidar o pessoal da Jovem Guarda para as festas. Uma grã-fina dizia pra outra: ‘Sabe quem vem? O Erasmo!’. A outra dizia: ‘Oh!’. E lá ia eu. Era só chegar, dizer boa-noite e já me punham um violão na mão. Depois de cantar, eu me interessava por uma ou por outra. Mas aí já não servia mais. As mães delas diziam: ‘Ponha-se no seu lugar. Quem é você para querer a minha filha?’."

"Quando a Jovem Guarda faliu, ninguém mais quis saber de mim. Aí pintou o tropicalismo e eu descobri que havia cabeludos mais cabeludos do que eu, gente que usava roupas mais extravagantes que as minhas, rebeldes mais ousados do que eu —porque eu era rebelde, mas não era ousado. Pirei. Ninguém mais me recebia nem com cafezinho. Tive de recomeçar do zero."

"Foi num show da Elis Regina no Canecão. Ninguém entendeu por que eu chorei quando ela cantou ‘As curvas da estrada de Santos’. Para mim, era a volta por cima. Hoje está todo mundo integrado, as pessoas gravam umas com as outras, é uma bacanal de ritmos, ninguém cobrando raízes. Música é universal e não tem de estabelecer fronteiras. Se há duas pessoas que eu não me canso de ouvir, e não vou me cansar nunca, são Elvis Presley e João Gilberto."

Fonte: Folha de S.Paulo
A cobiça pelo poder é o vício destruidor dos partidos. (Rui Barbosa)

LUGARES

LAUSANNE - SUÍÇA

Lausanne é uma cidade no Lago Genebra, na região de língua francesa de Vaud, na Suíça. Abriga a sede do Comitê Olímpico Internacional, além do Museu Olímpico e do Parque Olímpico. Longe do lago, o bairro antigo montanhoso tem ruas medievais, repletas de lojas e uma catedral gótica do século 12, com a fachada ornamentada. O Palais de Rumine, do século 19, tem museus de arte e de ciências. ― Google

FALA-SE MUITO EM FIDELIDADE, MAS EU PREZO MESMO A LEALDADE

Prof. Marcel Camargo
Das coisas mais complexas na sociedade se destacam as relações entre as pessoas. São encontros entre mundos diferentes, muitas vezes opostos. Acomodar, num mesmo espaço, em sintonia, universos que, muitas vezes, não se complementam, nem se afinam, é uma árdua tarefa.

Relacionar-se requer paciência, empatia, entendimento e imparcialidade, seja em qualquer instância dessa vida. Nas famílias, nas amizades, no trabalho, na escola, em todo e qualquer lugar de convivência mútua, surgirão arestas que deverão ser aparadas. Pontos de vista se chocarão, ideias entrarão em conflito, não importa o tanto que se evite isso. Chegará o momento do confronto e saber lidar com isso será crucial, para que os conflitos não desandem para embates agressivos.

No entanto, o bom disso é que, quando se consegue harmonizar a convivência, com maturidade e sabedoria, surgem laços muito fortes e duradouros. Seja no amor, em casa, na rua, onde for, fortaleceremos nosso afeto e nossa lealdade com as pessoas com quem conseguimos conviver com serenidade, ainda que haja diferenças. Digo lealdade, que, para mim, é mais importante do que a fidelidade.

A fidelidade é superestimada, porque ela, por si só, não é suficiente para que um relacionamento seja realmente verdadeiro. A pessoa pode ser fiel ao outro, mas não motivá-lo, não vibrar com as suas conquistas, não ser ou estar presente, sem caminhar junto. Os laços necessitam mais do que isso, necessitam de não largar as mãos, mesmo quando a tempestade estiver desabando. Ficar junto até no fundo do poço.

Por isso que digo: fala-se muito em fidelidade, mas eu prezo mesmo a lealdade. Quem é leal a você jamais irá te trair, seja no amor, na amizade, seja no trabalho. Pessoas leais nos defendem quando não estamos por perto. A lealdade é uma das mais nobres virtudes do ser humano.

Imagem: Natalie Runnerstrom

Fonte: https://www.profmarcelcamargo.com

CZARDAS

HAN KIM AO CLARINETE

FRASES ILUSTRADAS


 

sábado, 26 de novembro de 2022

SOBRE FARMÁCIAS E BOTEQUINS

Aldo Bizzocchi
O que há de comum entre um botequim, uma farmácia e uma loja de roupas? Aparentemente nada, a não ser o fato de que se trata de estabelecimentos comerciais. No entanto, há mais entre eles do que supõe nossa vã filosofia – ou melhor, nossa vã etimologia. Basta recuarmos até o antigo grego ἀποθήκη(apothéke), que passou ao latim apotheca e quer dizer “celeiro, armazém”. Essa palavra deu em português adega (lugar em que se guardam bebidas), bodega(bar de segunda categoria), boteco, botequim, botica (farmácia de manipulação), boticão (alicate usado pelos dentistas para extrair dentes), butique ou boutique (do francês boutique, “loja”). Daí saíram também os derivados bodegueiro (dono de bodega), boticário (farmacêutico), e outros.

O francês tem apothicaire (boticário) e boutique, e o italiano tem bottega(bodega) e botteghino (botequim). Por sinal, as palavras portuguesas butique e botequim vieram respectivamente do francês e do italiano. Do provençal, língua falada no sul da França, veio botica, e do espanhol, bodega. Em alemão, até hoje “drogaria” se chama Apotheke.

Como se pode perceber, o antigo armazém dos gregos se transformou nos mais diversos locais de estocagem e venda de produtos, especialmente líquidos, como as bebidas e os medicamentos, que antigamente eram basicamente poções. E ainda hoje muitas pessoas, depois de se embriagar no botequim, precisam ir à botica, isto é, à farmácia, para curar seu porre.

Fonte: https://diariodeumlinguista.com

Nem tudo que é lícito é honesto. (provérbio romano)

LUGARES

HONFLEUR - FRANÇA

Honfleur é uma comuna francesa na região administrativa da Normandia, no departamento Calvados. Estende-se por uma área de 13,67 km². Em 2010 a comuna tinha 7 352 habitantes. Wikipédia

EM RITMO DE GANSO

Por Janer Cristaldo
Há muito a universidade vem absorvendo as deficiências do ensino secundário. O marco mais significativo ocorreu quando se começou a ensinar português nos primeiros anos de curso. Quando fiz vestibular – e já lá vai quase meio século – só entrava na universidade quem tivesse bom domínio do vernáculo. Hoje, a universidade está despejando fornadas de analfabetos.

E não só a universidade. Ainda há pouco, eu comentava o caso de um professor de Direito Penal da PUC-SP, mestre e doutorando pela PUC-SP, pós-graduado em Direito Penal Econômico e Europeu pela Universidade de Coimbra, que grafou “mal vizinho” e “mal pagador”. O analfabetismo já chegou à pós-grad. Em país em que um presidente se gaba discretamente de sua incultura, nada de espantar.

Nada de espantar também que o Senado tenha aprovado, na noite de ontem, projeto que reserva metade das vagas nas universidades federais e nas escolas técnicas do país para alunos que cursaram todo o ensino médio em colégios públicos. Não bastasse o ensino superior ter passado a discriminar conforme a cor do aluno, agora os senadores estão empurrando para o ensino superior as deficiências do ensino público. Estudar em boa escola virou desvantagem. O preço é ser preterido no vestíbulo da academia.

O projeto também segue agora para sanção presidencial. Na prática, ele mais do que dobra o total de vagas destinadas a cotas nas federais.O texto ainda prevê que as cotas devem ser prioritariamente ocupadas por negros, pardos ou índios. A divisão deve considerar o tamanho de cada uma dessas populações no Estado, segundo o censo mais recente do IBGE. Se houver sobra de vagas, elas irão para os demais alunos das escolas públicas.

Quanto ao mérito, esforço pessoal, cultura, estes critérios estão mortos e bem sepultados. Se você quer vencer na vida, seja incompetente. Do jeito como vão as coisas, quem souber flexionar corretamente um verbo ou distinguir adjetivo de advérbio, ainda será considerado uma sumidade das letras.

Se alguém acha que estou deplorando estes novos tempos, em muito se engana. Houve época em que eu não só torcia por um país melhor, como até lutava por isso. Há muito desisti. Sou hoje um mero observador. Se o povo elege medíocres que elaboram tais leis, é porque este povinho merece. Me reservo apenas o direito de ser culto e a esperança de que isto, em futuro próximo, não seja tipificado como crime. Só peço um tempinho para morrer antes. Os senhores legisladores não perderão muito por esperar. Não é para amanhã, mas também não farei os responsáveis pelos rumos do país esperar muito.

Ontem foi dia aziago para quem esperava melhores manhãs. Pois o mesmo Senado também aprovou, por 60 votos a favor e 4 contrários, o segundo turno da proposta de emenda constitucional que torna obrigatória a obtenção do diploma de curso superior de jornalismo para o exercício da profissão. O texto terá ainda de ser votado na Câmara dos Deputados, onde tramita uma proposta semelhante. E é claro que será mais uma vez aprovado.

Se alguém ainda não lembra, até 1969 era jornalista não quem tinha diploma, mas aptidão para o ofício. Como ocorre em todos os países do Ocidente. A conspiração contra o jornalismo vem de longe. Começou com a junta militar da ditadura – cujos nomes hoje ninguém lembra, mas passou à História como Junta dos Três Patetas – que instituiu a exigência de diploma. É curioso ver como as esquerdas, tão hostis ao regime militar, assumiram de corpo e alma esta medida ditatorial.

Em 81, ao voltar de Paris, fui entrevistado por um jornalista da rádio Universidade, de Porto Alegre. Perguntou-me como era a condição legal do jornalista na França. Por acaso, eu tinha no bolso uma agenda francesa destinada a jornalistas, que trazia o texto legal. Segundo o artigo L 761-2 do código do trabalho, “le journaliste professionnel est celui qui a pour occupation principale, régulière et rétribuée l'exercice de sa profession dans une ou plusieurs publications quotidiennes ou périodiques ou dans une ou plusieurs agences de presse et qui en tire le principal de ses ressources."

Traduzindo: jornalista profissional é aquele que tem por ocupação principal, regular e retribuída o exercício de sua profissão em uma ou várias publicações cotidianas ou periódicas ou em uma ou várias agências de imprensa e que disto tira o principal de seus recursos. E estamos conversados. (O grifo é meu).

Melhor tivesse ficado calado. O foquinha à minha frente encerrou incontinenti a entrevista. Eu havia dito o que ninguém queria ouvir. A exigência de diploma favorece uma guilda poderosa de analfabetos muito bem pagos, integrada por incompetentes que jamais pisaram em uma redação de jornal mas se julgam capazes de ensinar o que se faz em uma redação de jornal.

Me considero jornalista competente, não por acaso fui chamado a trabalhar nos dois mais importantes jornais do país. Nunca tive curso de jornalismo. O básico do ofício aprendi em seis meses de redação. Nenhum curso universitário supre o que se aprende em seis meses de redação. Sem falar que redigir é o mínimo que se pede de um jornalista. O que se pede, fundamentalmente, é domínio de sua área e isto nenhum curso oferece. Que pode escrever sobre economia ou ciências um novato que jamais estudou economia ou ciências?

Só vai escrever bobagem, é claro. Exemplo emblemático disto, que gosto de repetir, aconteceu em 1983, quando a Veja endossou como verdade científica uma brincadeira lançada pela revista inglesa New Science. Tratava-se de uma nova conquista científica, um fruto de carne, derivado da fusão da carne do boi e do tomate, que recebeu o nome de boimate. Se a editoria de ciências visse esta notícia num jornal brasileiro, evidentemente ficaria com um pé atrás. Para a revista, a experiência dos pesquisadores alemães permitia “sonhar com um tomate do qual já se colha algo parecido com um filé ao molho de tomate. E abre uma nova fronteira científica".

Isso que a New Science dava uma série de pistas para evidenciar a piada: os biólogos Barry McDonald e William Wimpey tinham esses nomes para lembrar as cadeias internacionais de alimentação McDonald´s e Wimpy´s. A Universidade de Hamburgo, palco do "grande fato", foi citada para que pudesse ser cotejada com hambúrguer. Os alertas de nada adiantaram. Como se tratava de uma prestigiosa publicação européia, a Veja embarcou com entusiasmo na piada. O jornalista responsável pela barriga foi promovido a editor da revista.

Em 2009, o Supremo Tribunal Federal decidira que a exigência do diploma, imposta no regime militar, atentava contra a liberdade de expressão. Em vão. A guilda insistiu na proteção dos seus e agora temos algo insólito no Direito Constitucional, uma profissão regulamentada pela Constituição.

O senador Aloysio Nunes lembrou que se a emenda for aprovada pelos deputados, a profissão de jornalista será a única a constar na Constituição. "Existem médicos, advogados e outros profissionais que são bons jornalistas, sem a necessidade de ter um diploma específico. Será uma aberração colocar a profissão de jornalista na Constituição por razões meramente corporativas, para atender ao sindicalismo dos jornalistas, que é o mesmo que trabalha pelo controle social da mídia".

Para o senador, a proposta interessa sobretudo aos donos de faculdades privadas ruins, "arapucas que não ensinam nada e que vende a ilusão de um futuro profissional. Não há interesse público envolvido nisso, pelo contrário, a profissão de jornalismo diz respeito diretamente à liberdade de expressão do pensamento, de modo que não pode estar sujeita a nenhum tipo de exigência legal e nem mesmo constitucional".

É voz que clama no deserto. O projeto obviamente será aprovado pelos deputados. Político não gosta de seres pensantes e, pior que tudo, independentes. O Brasil será, definitivamente, um dos raros países do mundo (os outros são ditaduras árabes ou ex-socialistas) a ter o diploma como conditio sine qua non do exercício da profissão.

Fonte: cristaldo.blogspot.com.br - 10/08/2012

FRASES ILUSTRADAS

 

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

VENDO, OUVINDO E CALANDO

Fernando Fabbrini

Só sei que não sei mais bulhufas

Dizem que uma das poucas vantagens de envelhecer é que a gente também fica mais sábio, escaldado e esperto com o passar do tempo. Na Espanha existe um ditado bem-humorado na mesma linha: “Mais sabe o diabo por ser velho do que por ser diabo”.

Não é regra geral; alguns pioram com a idade, ficam ainda mais tolos, ranzinzas, rígidos. Porém, após algumas décadas bem vividas de alegrias e decepções, certos felizardos ganham de brinde um tipo de premonição; um faro diferenciado que permite avaliar rapidamente personagens, eventos, notícias ou rebuliços. E aí, dependendo do caso, logo pinta aquela certeza do “ah, já vi esse filme antes, conheço o enredo e sei como termina”.

Mas a atual conjuntura – como diria Millôr – anda desafiando a expertise dessa galera. Eu, por exemplo, estou reencarnando aquele famoso trio de macaquinhos orientais que não ouvem, não veem e não falam. Situações inesperadas surgiram; procuro para elas uma resposta, uma jurisprudência confiável na vasta enciclopédia de minha memória – e nada, bulhufas, titicas. Sobra-me aceitar, humildemente, que até pobres-diabos calejados permanecem, como eu, atônitos, coçando as cabeças, sem entender o que se passa nos céus e infernos do país e do mundo.

Vejam só: é a primeira vez que uma Copa desperta tão pouco entusiasmo na massa torcedora. A maioria está se lixando para o certame. E a camisa amarela – que antes retratava o país de chuteiras, o raríssimo sentimento de brasilidade unânime a cada quatro anos – agora é logomarca política. A propósito, pela primeiríssima vez, vejo milhões nas ruas no modo espontâneo, manifestando descontentamentos patrióticos em tempos de Copa, contrariando aquela máxima “brasileiro gosta é de futebol, não liga para política”. Até li num cartaz improvisado: “Copa é igual economia, a gente vê depois”.

Inédito, também, que gente cantando animada – casais pacíficos e idosos com suas bandeiras e crianças, debaixo de sol e de chuva – seja considerada perigosa protagonista de atos antidemocráticos. O repórter de uma grande emissora, apoplético ao microfone, chamou-os de “pilantras e canalhas”. Mais um nó na minha cabeça: pelo que me lembro, atos antidemocráticos de pilantras e canalhas eram outros – pichações, confusões, invasões, porradas, bandidos mascarados, vitrines quebradas, saques em supermercados. Já que mudaram a forma e o conteúdo, tentarei adaptar-me à novidade.

Por isso agora penso mil vezes antes de emitir opiniões – até quando a faxineira me pergunta sobre marcas de detergentes. Isso porque das redes chegam-me toneladas de informes da realidade nacional; denúncias, conflitos, suspeitas, declarações polêmicas e confrontos de toda sorte. Porém, se abro um jornal, um site ou ligo a TV, sou transportado imediatamente para alguma nação nórdica onde as manchetes são as compras de Natal, o nascimento de um novo gorila no zoológico, a comovente adoção de um órfão vietnamita por um casal de celebridades ou o casamento faraônico de artistas de novela numa ilha tropical. Afinal, em qual desses dois países tão diferentes vivemos?

Valham-me Gutenberg, McLuhan e Umberto Eco! Estamos no turbilhão de um fenômeno de desordem informacional ou tudo isso é apenas esquizofrenia midiática transitória de etiologia desconhecida?

Fonte: https://www.otempo.com.br
Nada perturba tanto a vida humana como a ignorância do bem e do mal. (Cícero)

LUGARES

PALÁCIO DE LINDERHOF - ALEMANHA

O Palácio Linderhof é um palácio real na Alemanha, construído entre 1869 e 1878. Fica localizado nas proximidades de Oberammergau e da Abadia de Ettal, no sudoeste da Baviera. É o menor dos três palácios construídos pelo Rei Luis II da Baviera, mas o único que o monarca viu concluído. Wikipédia

MR. MILES


Como tornar-se um fotógrafo de viagem

Nosso incansável viajante recuperou o bronzeado com uma semana nas Ilhas Canárias. Com o que chama de "couro curtido por duas guerras mundiais, sendo uma delas nas areias do deserto em El Alamein", Mr. Miles diz que, possivelmente, nem precisa de protetor solar. Já Trashie, sua raposinha das estepes siberianas, não dispensa boné, óculos escuros e whisky gelado em suas incursões à praia.
A seguir, a pergunta da semana:

Mr. Miles: meu sonho é ser um fotógrafo de viagem. O que devo fazer para alcançá-lo?
Felipe Olivença, por email

Well, my friend, tenho muitos amigos que militam nessa profissão e, therefore, sinto-me à vontade em responder a sua questão. Se fossem outros tempos, eu diria, sem pensar, que o único equipamento necessário para um bom fotógrafo viajante é seu olhar. É preciso ter olhos amplos e repletos de luz, como uma lente grande angular. Faz-se fundamental a capacidade de escarafunchar cada quadro da emoção e aplicá-lo ao que vê: à paisagem, às pessoas, aos detalhes. Assim como Pelé enxergava as frestas entre os jogadores adversários e as perseguia para fazer suas jogadas geniais, você teria, as well, de ver até o que não aparece aos olhos dos outros, para lograr um instantâneo diferente, daqueles que paralisados em uma página de papel são, de fato, originais e surpreendentes.

Nem preciso dizer, of course, que é preciso ser um grande viajante. Se possível daqueles que está sempre com a máquina ao alcance de uma piscadela, para que a surpresa de um instante fugaz não escape de seu olhar.

Há, também que ser determinado, intimorato e capaz de enfrentar situações penosas ou cômicas. De furtar fotos no interior das igrejas mais belas e fugir correndo da ira dos párocos que vendem os direitos (sem nenhum direito) das pinturas e esculturas que foram produzidos para encantar os fiéis. De driblar, com finta estonteante, os burocratas que exigem autorizações para clicar próprios públicos, sobretudo em países "papeleiros", que precisam dar emprego a uma multidão de funcionários com carimbos.

De submeter-se à ira dos que se sentem agredidos por uma foto, porque estão prevaricando em logradouros aonde temem ser localizados. De aguardar o brilho intenso das luzes que aparecem ao lusco-fusco — ainda que à mercê de frio intenso ou chuvas torrenciais. De capturar a paixão em um beijo sob a ponte ou a tristeza dos que vagueiam com o olhar perdido.

Tenho um amigo, dear Philip, que, certa feita foi fotografar um templo em Bali e acabou sendo traiçoeiramente atacado por um macaco que ansiava levar seus óculos. Com a força que só os que sabem que não podem fotografar sem o auxilio de suas lentes pode ter, o profissional travou, então, brava luta corpórea com o símio e dele se desvencilhou com o instrumento na mão, ainda dele — embora tortíssimo.

As you see, my friend, há que passar por muitas sensações e ter talento transbordante para ser um fotógrafo de viagem.

Ainda assim, meu caro, em tempos de tentativas gratuitas proporcionadas pelas máquinas digitais, tenho a tristeza de sugerir que você cogite, as well, uma segunda profissão para não ser vencido pela insistência dos amadores. A repetição infinita produz, muitas vezes, instantâneos de sorte que emprestam a aparência de talento aos mais desemocionados incapazes. Eles não o farão duas vezes, mas milhões deles poderão repetir sua façanha, criando a falsa sensação de que todos — inclusive aqueles que insistem em fotografar a lua ou os fotos de artifício com flash —, são capazes de produzir obras-primas.

Não: poucos têm essa magia. Mas menos ainda são os que têm a capacidade de reconhecê-la. Do you know what I mean?

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS



 

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

A TRISTE GERAÇÃO QUE TUDO IDEALIZA E NADA REALIZA

Marina Melz
Demorei sete anos (desde que saí da casa dos meus pais) para ler o saquinho do arroz que diz quanto tempo ele deve ficar na panela. Comi muito arroz duro fingindo estar “al dente”, muito arroz empapado dizendo que “foi de propósito”. Na minha panela esteve por todos esses anos a prova de que somos uma geração que compartilha sem ler, defende sem conhecer, idolatra sem porquê. Sou da geração que sabe o que fazer, mas erra por preguiça de ler o manual de instruções ou simplesmente não faz.

Sabemos como tornar o mundo mais justo, o planeta mais sustentável, as mulheres mais representativas, o corpo mais saudável. Fazemos cada vez menos política na vida (e mais no Facebook), lotamos a internet de selfies em academias e esquecemos de comentar que na última festa todos os nossos amigos tomaram bala para curtir mais a noite. Ao contrário do que defendemos compartilhando o post da cerveja artesanal do momento, bebemos mais e bebemos pior.

Entendemos que as BICICLETAS podem salvar o mundo da poluição e a nossa rotina do estresse. Mas vamos de carro ao trabalho porque sua, porque chove, porque sim. Vimos todos os vídeos que mostram que os fast-foods acabam com a nossa saúde – dizem até que tem minhoca na receita de uns. E mesmo assim lotamos as filas do drive-thru porque temos preguiça de ir até a esquina comprar pão. Somos a geração que tem preguiça até de tirar a margarina da geladeira.

Preferimos escrever no computador, mesmo com a letra que lembra a velha Olivetti, porque aqui é fácil de apagar. Somos uma geração que erra sem medo porque conta com a tecla apagar, com o botão excluir. Postar é tão fácil (e apagar também) que opinamos sobre tudo sem o peso de gastar papel, borracha, tinta ou credibilidade.

Somos aqueles que acham que empreender é simples, que todo mundo pode viver do que ama fazer. Acreditamos que o sucesso é fruto das ideias, não do suor. Somos craques em planejamento Canvas e medíocres em perder uma noite de sono trabalhando para realizar.

Acreditamos piamente na co-criação, no crowdfunding e no CouchSurfing. Sabemos que existe gente bem intencionada querendo nos ajudar a crescer no mundo todo, mas ignoramos os conselhos dos nossos pais, fechamos a janela do carro na cara do mendigo e nunca oferecemos o nosso sofá que compramos pela internet para os filhos dos nossos amigos pularem.

Nos dedicamos a escrever declarações de amor públicas para amigos no seu aniversário que nem lembraríamos não fosse o aviso da rede social. Não nos ligamos mais, não nos vemos mais, não nos abraçamos mais. Não conhecemos mais a casa um do outro, o colo um do outro, temos vergonha de chorar.

Somos a geração que se mostra feliz no Instagram e soma pageviews em sites sobre as frustrações e expectativas de não saber lidar com o tempo, de não ter certeza sobre nada. Somos aqueles que escondem os aplicativos de meditação numa pasta do celular porque o chefe quer mesmo é saber de produtividade.

Sou de uma geração cheia de ideais e de ideias que vai deixar para o mundo o plano perfeito de como ele deve funcionar. Mas não vai ter feito muita coisa porque estava com fome e não sabia como fazer arroz.

Fonte: http://www.revistapazes.com - 11/09/2016

CHARGES


O pessimista queixa-se do vento, o otimista espera que ele mude e o realista ajusta as velas. (Willian George Ward)

LUGARES

ALCOBAÇA - PORTUGAL
(Mosteiro de Alcobaça)

Alcobaça é uma cidade portuguesa do distrito de Leiria, situada na histórica província da Estremadura e integrando a Comunidade Intermunicipal do Oeste na região do Centro, com cerca de 18 000 habitantes no seu núcleo central. Wikipédia

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


MEIO, MEIA, MALFORMAÇÃO E MALOCLUSÃO
--- Gostaria de saber em que casos utilizo o meia e em que casos utilizo o meio. Fernanda Trajano, Florianópolis/SC
--- Gostaria de saber se está correto o uso do hífen no termo  . C. D., São Paulo/SP
Meio adjetivo
A palavra meio (= metade) varia no feminino e plural quando precede um substantivo:
  • Cem mil toneladas de carne representam o consumo nacional de meio mês
  • Ganhou meia gleba de terra. 
  • Por favor, deixe de meias palavras
Em tais casos, faz-se a concordância em gênero e número mesmo que o substantivo esteja subentendido, como se verifica em “meia hora”:
  • À meia-noite e meia (hora) apagavam-se as luzes do povoado.
  • O almoço deve ser servido ao meio-dia e meia.
  • Meio advérbio
Com o significado de "um tanto, um pouco, quase", acompanha um adjetivo e fica invariável:
  • As portas ficaram meio abertas. Ela está meio tonta. São meio tolos
  • Meio em substantivo composto
A formação composta leva hífen; e sendo um adjetivo, meio flexiona conforme o substantivo:
  • A maior parte da sua pintura é feita em meios-tons.
Outros exemplos: à meia-luz, de meia-tigela, roupa de meia-estação, é um meio-termo, pessoa de meia-idade, nesse meio-tempo, os meios-fios, são meios-irmãos, vive de meias-solas.
Só se configura um substantivo composto quando os dois elementos realmente formam um conjunto indissociável, o que não me parece ser o caso de “meia entrada”, que no entanto se encontra hifenizada no VOLP 2009 [comprar/pagar meia-entrada]. Já em “meio período” não se constata o hífen – aqui “meio” é um adjetivo usado no seu sentido literal [a metade] e independente: 
  • Só tenho disponibilidade para trabalhar meio período, e não o período integral.
--- Em odontologia emprega-se, para designar uma oclusão (mordida) anormal, ou seja, que não é boa, os seguintes termos: má-oclusão, má oclusão, maloclusão. Qual seria o correto? J. W., Curitiba/PR 
--- Qual o correto: má-oclusão, maloclusão ou mal oclusão? Não existe consenso entre os escritores sobre Ortodontia. João M. Baptista, Curitiba/PR 
A dúvida era gerada pela ausência do vocábulo nos dicionários. Costumava-se tomar por base os vocábulos má-formação e malformação, cuja primeira forma era considerada mais adequada, visto se constituir de adjetivo e substantivo femininos. Entretanto, por influência estrangeira se disseminou a grafia com “mal” numa só palavra, como em malnutrição (em inglês: malnutrition). Portanto haveria duas grafias corretas: má-oclusão, plural más-oclusões, e maloclusão, pl. maloclusões. Apesar de o VOLP 2009 (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, 5ª ed.) ter se esquecido exatamente de má-oclusão, continuam valendo as duas formas.
Fonte: www.linguabrasil.com.br