Alexandre H. Santos*
Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública. (Anísio Teixeira)
Anos atrás uma amiga europeia chamou minha atenção para o detalhe comum nos lares brasileiros – a ausência de estantes com livros. A observação me constrangeu, mas não me pegou de surpresa. Na primeira vez que fui ao sul do continente, lá se vai quase meio século, um ponto impressionou-me em Buenos Aires, Santiago do Chile e Montevideo: a enorme quantidade de livrarias. Mais que isso, chocou-me o tanto de gente com jornais, livros e revistas nas mãos. As pessoas liam concentradas nos cafés, nos bancos das praças e nos vagões dos metrôs portenho e santiaguense. Voltando ao Brasil confirmei, chocado e triste, o contraste diante de mim. Vi o quão pouco se lê por aqui. E quase entrei num processo depressivo.
O hábito da leitura é tão importante e necessário na formação de um povo letrado, que o assunto deveria constar da pauta principal das políticas de Estado. Não se trata de exagero. O epidêmico índice de analfabetismo funcional que temos no Brasil é apenas um dos efeitos colaterais do desmanche promovido na Educação do país.
A gestão atual se tornou um rosário de escândalos. O conflito de interesses (nada pedagógicos) no interior da Pasta, no começo entre as alas militar e olavista, ganhou um terceiro flanco: a dos pastores evangélicos. Que tenhamos tido quatro ministros em quatro anos há de significar que alguma coisa não vai bem. Os esforços tóxicos do negacionismo, privatização do ensino público e visão anacrônica da pedagogia transformaram o Ministério da Educação numa excrescência. Ou, na melhor das hipóteses, para usar uma metáfora erudita, na Casa da Mãe Joana!
Sabemos que o costume de ler é uma semente que se planta na infância durante a alfabetização. Mas para tornar-se uma árvore frondosa, um hábito consistente, pode e deve ser reforçado na família, de maneira prática, através dos modelos domésticos. Se crianças e jovens observam no dia a dia que mãe e pai leem e valorizam a leitura, é grande a probabilidade do poder da empatia e do exemplo, juntos, modelarem um sincero amor pela leitura.
A sabedoria popular toma por fato que:
“Quem não lê,
mal escreve,
mal ouve,
mal fala
e mal vê!”
Lembro do professor que certa vez me esclareceu: “Quando as pessoas se apresentam costumam dizer o nome e a profissão ou o lugar onde trabalham. Creio que deviam revelar também o que costumam ler. Essa informação é importante para a gente conhecer melhor alguém!”
Em países continentais e de grande diversidade como o nosso, a Educação não deve ser responsabilidade apenas do Estado, mas de toda a cidadania. Com a urgência do ontem. Portanto, cabe a sociedade civil posicionar-se desde já pela recriação do Ministério da Educação e da Cultura. A esperança maior é que o próximo governo invista maciçamente na rede de escolas públicas gratuitas, laicas e de qualidade. E que se promovam amplas e constantes campanhas de estímulo à leitura. Já sabemos: quem não lê…
Somente a partir de uma gestão técnica, competente, laica, democrática e progressista do MEC poderemos nos recuperar da catástrofe que se abateu sobre a Educação brasileira. O motivo? Sem educação não há solução.
*Alexandre Henrique Santos – Atua há mais de 30 anos na área do desenvolvimento humano como consultor, terapeuta e coach. Mora em Madri e realiza atendimentos e workshops presenciais e à distância. É meditante, vegano, ecologista. Publicou O Poder de uma Boa Conversa e Planejamento Pessoal, ambos editados pela Vozes..
Fonte: https://www.chumbogordo.com.br/tags/catherine-krulik/
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