domingo, 30 de outubro de 2022

O PEIXE QUE FOI AO DENTISTA

Fernando Albrecht
Seu Pacheco era um veterano capataz de estância lá pras bandas do Alegrete, que os antigos chamavam de quartel dos feitos pampeanos. Sua especialidade, além de ser um ótimo homem do campo, era contar causos com a maior cara de pau do mundo, e sem ficar vermelho.

Certa feita, estávamos ao redor do fogo no galpão. Chovia, fazia um frio dos diabos, e o vento zunia por entre o telhado de zinco. Um boi mugiu ao longe, um dos três cachorros que ajudavam a peonada a recorrer o campo dormitavam perto do fogo trazendo luz e calor.

– Pois seu Fernandes, certa feita, fui pescar na sanga do fundo, bem perto do Cerro da Sepultura. Deu vontade de comer um peixe assado na trempe. Dei sorte, porque em menos de meia hora peguei uma traíra grande. Abri a boca para tirar o anzol.

Um dos cães levantou a cabeça e ergueu as orelhas. Trovejava. Há muito tempo havia desistido de corrigi-lo dizendo que meu nome era Fernando e não Fernandes.

– Quase morri de susto! Pois não é que a danada tinha um pivô de ouro na boca?

Levantei e fui para a lareira da casa antes que ele pescasse a traíra dentista que colocou o dente de ouro.

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br

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