segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A HUMANIDADE TEM JEITO?

Hélio Schwartsman
Somos seres impressionáveis. Quando o bolso aperta e observamos regressões em nossas pautas favoritas, não apenas nos pomos a maldizer a sorte como também decretamos a inviabilidade da espécie. Mas, se nos guiarmos um pouco menos por nossos instintos e mais por dados objetivos, teremos de concluir que a humanidade até que está fazendo um bom serviço.

Autores como Steven Pinker e Michael Shermer mostraram em livros recentes que estamos fazendo progressos, tanto em termos materiais como morais. A escala a observar não é a dos anos, mas a dos séculos. Nossa espécie está se tornando cada vez menos violenta (proporções decrescentes da população morrem em consequência de guerras e assassinatos), praticamente extinguimos a escravidão do planeta e estamos avançando rapidamente na questão dos direitos de minorias e na ampliação das liberdades individuais. Apenas alguns anos atrás, pautas como casamento gay e legalização da maconha eram impensáveis. Hoje, são uma realidade em vários países.

Há boas notícias até para a esquerda: a natureza humana é em parte maleável. Tomemos o exemplo dos temíveis vikings. A violência empregada em suas conquistas era tal que a simples menção de seu nome já aterrorizava os europeus que habitavam mais ao sul. Hoje, os vikings se tornaram os simpáticos e politicamente corretos suecos, dinamarqueses e noruegueses. Como a mudança se deu num intervalo de apenas mil anos, tempo insuficiente para que ela tenha bases biológicas, é forçoso concluir que tem origem cultural.

Como até o início do século 19 a Suécia era tida como um dos piores e mais corruptos países da Europa, há motivos para suspeitar que o ponto de virada foi ainda mais recente. A crer em autores como Daron Acemoglu, James Robinson e Bo Rothstein, a resposta está no desenho das instituições. Em tese (e é bem em tese mesmo), até o Brasil tem esperança.

Fonte: Folha de S. Paulo - 30/04/2017
Acima de tudo, na vida, temos necessidade de alguém que nos obrigue a realizar aquilo de que somos capazes. É este o papel da amizade. (Emerson)

LUGARES

PORTO - PORTUGAL
Porto é uma cidade costeira no noroeste de Portugal conhecida pelas pontes imponentes e pela produção de vinho do Porto. No distrito medieval de Ribeira, às margens do rio, ruas estreitas de paralelepípedos passam pelas casas e pelos restaurantes dos comerciantes. A Igreja de São Francisco é conhecida pelo interior barroco exuberante com esculturas douradas ornamentadas. O suntuoso Palácio da Bolsa, do século XIX, era um mercado de ações e foi construído para impressionar investidores europeus em potencial. ― Google

LET ME TRY AGAIN

Martha MedeirosMartha Medeiros

Você viveu um grande amor que terminou meses atrás. Está só. Nada nesta mão, nada na outra. A sexta-feira vai terminando e, enquanto seus colegas de trabalho aquecem as turbinas para o fim-de-semana, você procura no jornal algum filme que ainda não tenha visto na tevê. Ao descobrir que vai passar Kramer vs. Kramer de novo, não resiste e cai em tentação: liga para o ex.

Tentar outra vez o mesmo amor. Quem já não caiu nesta armadilha? Se ele também estiver sozinho, é sopa no mel. Os dois já se conhecem de trás para frente. Não precisam perguntar o signo: podem pular esta parte e ir direto ao que interessa. Sabem o prato preferido de cada um, se gostam de mar ou de montanha, enfim, está tudo como era antes, é só prorrogar a vigência do contrato. Tanto um como o outro sabem de cor o seu papel.

Porém, apesar de toda boa intenção, nenhum dos dois consegue disfarçar o cheirinho de comida requentada que fica no ar. O motivo que levou à separação continua por ali, escondido atrás do sofá, e qualquer hora aparece para um drinque. O fim de um romance quase nunca tem a ver com os rompimentos de novela, onde a mocinha abre mão do amado porque alguém a está chantageando ou porque descobriu que ele é, na verdade, seu irmão gêmeo. No último capítulo tudo se esclarece e a paixão segue sem cicatrizes. Já rompimentos causados por incompatibilidades reais não são assim tão fáceis de serem contornados.

Toda reconciliação é precedida por uma etapa onde o casal, cada um no seu canto, faz idealizações. As frases que não foram ditas começam a ser decoradas. As mancadas não serão repetidas. As discussões serão evitadas. Na nossa cabeça, tudo vai dar certo: o roteiro do romance foi reescrito e os defeitos foram retirados do script, ficando só as partes boas. Mas na hora de encenar, cadê o diretor? À sós no palco, constatamos que somos os mesmos de antigamente, em plena recaída.

Se alguém termina um namoro ou casamento, passa um tempo sozinho e depois resolve voltar só por falta de opção, está procurando sarna para se coçar. Até existe a possibilidade de dar certo, mas a sensação é parecida com a de rever um filme. Numa segunda apreciação, pode-se descobrir coisas que não haviam sido notadas na primeira vez, já que não há tanta ansiedade. Mas também não há impactos, surpresas, revelações. Ficamos preparados tanto para as alegrias como para os sustos e, cá entre entre nós, isso não mantém o brilho do olho.

Se já não há mais esperança para o relacionamento e tendo doído tanto a primeira separação, não há por que batalhar por uma sobrevida deste amor, correndo o risco de ganhar de brinde uma sobrevida para a dor também. É melhor aproveitar esta solidão indesejada para namorar um pouco a si mesmo e ir se preparando para o amor que vem. Evite a marcha a ré. Engate uma primeira nesse coração.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 30 de outubro de 2022

DIFERENÇAS QUE A EDUCAÇÃO PODE PRODUZIR

Edgar Flexa Ribeiro
A classe dirigente paulista, logo após sua derrota na Revolução de 1932, tomou explicitamente a decisão de “formar uma nova elite capaz de contribuir para o aperfeiçoamento das instituições, do governo e a melhoria do país”, e organizou-se para tanto.

Um grupo de empresários fundou a Escola Livre de Sociologia e Política em 1933, e logo depois, em 1934, Armando Salles de Oliveira, então interventor, funda a Universidade de São Paulo - a USP - com a colaboração de Júlio de Mesquita Filho, entre outros.

Nas palavras de Sergio Milliet: “De São Paulo não sairão mais guerras civis anárquicas, e sim uma revolução intelectual e científica suscetível de mudar as concepções econômicas e sociais dos brasileiros”.

Naquele momento, derrotado em suas pretensões, São Paulo identificou a necessidade, e aproveitou a oportunidade, para tratar da formação de suas elites. E com isso fixar prioridades, interesses, perspectivas e projetos locais - mas com projeção nacional.

O projeto USP floresceu e cresceu. Na geração seguinte à de sua fundação, 26 anos depois, as pretensões paulistas chegavam à Presidência da República pela primeira vez depois de 1930 com a posse de Jânio Quadros, em 1960. Jânio revelou-se apenas um projeto pessoal.

Mas no ano anterior, em 1959, já tinham começado a circular os primeiros “fusquinhas” feitos no Brasil. A indústria automobilística, que nascia em São Paulo, começava a mudar a face do país. E sempre os paulistas ocupando um considerável espaço nas decisões nacionais.

Em 1994, São Paulo volta afinal ao poder na segunda geração desde que a USP foi criada: tendo comandado a formulação e implantação do Plano Real como Ministro da Fazenda, no governo Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso é eleito Presidente da República.

Sessenta anos depois de sua criação, a USP cumpria as propostas de seus fundadores.

Evidentemente, o Brasil era outro. Mas São Paulo industrializado, modernizado e sempre rico já mostrava que seu projeto de poder ia talvez até além do que previram os seus iniciadores.

A indústria paulista como um todo, a indústria automobilística em particular, ganhara importância nacional. E para tornar o automóvel acessível “fez-se de um tudo”.

A principal consequência disso é que todas as outras formas de mobilidade das populações - e de recursos para organizar a expansão das cidades - desapareceram.

Todo mundo tem que ter automóvel ou andar de ônibus. As estradas de ferro, os transportes de massa sobre trilhos, desapareceram. O metrô aparece, mas como um “repeteco”, em áreas já desenvolvidas, e não para organizar a expansão em áreas ainda mal urbanizadas.

As cidades cresceram desordenadamente, problemas novos foram criados, prioridades foram esquecidas. Cai o imposto sobre os carros para quem já pode, e quem ainda não pode que se amontoe nas filas dos ônibus até poder ter seu “carrinho”.

O “êxito“ paulista teve seu preço. E a novíssima, moderníssima e tumultuada Brasília é um excelente exemplo – para não citar outros.

Até hoje não se tratou a sério da ligação ferroviário entre o planalto central e o litoral da região sudeste. A segunda maior safra de soja do mundo chega aos portos no lombo de caminhões – e ainda querem fazer trem-bala para levar bacanas entre Rio e São Paulo.

Não há crise “nos portos”, a crise está no acesso a eles. E vamos em frente, de automóvel, no projeto paulista.

Assim correram as coisas. E nesse processo histórico caímos no presente: o país todo vive sob uma única “moeda”, emitida em São Paulo, fundada nos seus interesses e que comanda o resto. Como toda moeda, essa tem também duas faces. São antagônicas, mas são interdependentes: uma não resiste nem progride sem a outra. Só que com outros nomes: CUT e FIESP - ou seus apelidos: PSDB e PT. Tudo a serviço da mesma causa, cada face a seu modo: tomar o poder nacional.

Está chegando 2014. A carranca na frente da barcaça, venha de onde vier, tenha a cara que tiver, terá uma dessas origens e estará ancorada no mesmo projeto. É uma moeda só, e suas duas faces terminam sempre se compondo – afinal, é isso que lhe dá valor...

Edgar Flexa Ribeiro, educador.

Fonte: Blog do Noblat

O PEIXE QUE FOI AO DENTISTA

Fernando Albrecht
Seu Pacheco era um veterano capataz de estância lá pras bandas do Alegrete, que os antigos chamavam de quartel dos feitos pampeanos. Sua especialidade, além de ser um ótimo homem do campo, era contar causos com a maior cara de pau do mundo, e sem ficar vermelho.

Certa feita, estávamos ao redor do fogo no galpão. Chovia, fazia um frio dos diabos, e o vento zunia por entre o telhado de zinco. Um boi mugiu ao longe, um dos três cachorros que ajudavam a peonada a recorrer o campo dormitavam perto do fogo trazendo luz e calor.

– Pois seu Fernandes, certa feita, fui pescar na sanga do fundo, bem perto do Cerro da Sepultura. Deu vontade de comer um peixe assado na trempe. Dei sorte, porque em menos de meia hora peguei uma traíra grande. Abri a boca para tirar o anzol.

Um dos cães levantou a cabeça e ergueu as orelhas. Trovejava. Há muito tempo havia desistido de corrigi-lo dizendo que meu nome era Fernando e não Fernandes.

– Quase morri de susto! Pois não é que a danada tinha um pivô de ouro na boca?

Levantei e fui para a lareira da casa antes que ele pescasse a traíra dentista que colocou o dente de ouro.

Fonte: https://fernandoalbrecht.blog.br
Se juntássemos nossos problemas e víssemos os dos demais, iríamos querer os nossos. (Regina Brett)

LUGARES

DINAN - FRANÇA
Dinan é uma comuna francesa na região administrativa da Bretanha, no departamento Côtes-d'Armor. Estende-se por uma área de 3,98 km². Em 2010 a comuna tinha 10 819 habitantes.912 hab/km². Wikipédia

SPOK FREVO

NINO, O PERNAMBUQUINHO

FRASES ILUSTRADAS

sábado, 29 de outubro de 2022

CONTINUAREMOS DEITADOS EM BERÇO ESPLÊNDIDO, DISCUTINDO ESQUERDA E DIREITA

Roberto Pereira D’Araujo
Site Ilumina

É de causar espanto como o país se perde em debates inócuos. Em pleno século XXI, 140 anos após as bases de ideias de Marx, as disputas acaloradas ainda se dão com base nos conceitos difusos de esquerda e direita. Seria compreensível se as contendas se estendessem para questões concretas, mas, o que se percebe é que, cada vez mais, é a pura ideologia que domina as disputas.

Enquanto se perde tempo precioso, a sociedade não percebe que, sob disfarçadas intenções ou pelo simples desinteresse por definir trajetórias, o que estamos assistindo é o lento e gradual desmonte de instituições.

Antes que alguém desconfie de que esse texto esconde uma defesa de empresas estatais, é preciso deixar claro que a “instituição” mais ameaçada no Brasil é a percepção das vantagens do “coletivo”. Pode-se dizer que vivemos uma era a favor do individualismo, por mais desvantajoso que seja. Tudo se passa como se a sociedade não se percebesse como tal.

Exemplos? São os mais variados:

Previdência pública cedendo espaço ao crescimento do conceito de “seguro” financeiro individual, inclusive com incentivos de isenção de impostos.

Saúde pública em declínio, favorecendo seguros de saúde que apresentam custos crescentes. Nesse exemplo, ironicamente, é possível perceber que a ótica financeira privada obviamente rejeita os planos individuais, preferindo os seguros em grupos pois, ao contrário do poder público, sabe das vantagens.

Destruição da capacidade de autofinanciamento do setor elétrico que, historicamente, conseguia gerar internamente parte significativa dos recursos para a expansão.

Transformação de reservatórios hídricos, com claros impactos numa coletividade regional, em meras partes de atividades industriais inclusive com a morte de um rio! Mesmo no caso da energia elétrica, a água é transformada em “mercadoria” mal precificada, onde períodos vantajosos não são capturados pela coletividade.

Resistência secular em reconhecer características de monopólio natural em atividades como transportes públicos urbanos. É impressionante a “longevidade” de um serviço público explorado por empresas familiares atuando politicamente para manter um sistema completamente desintegrado e atrasado em relação a exemplos de grandes cidades.

Falência da segurança pública, favorecendo o atrativo negócio privado da vigilância e das “grades”.

Enormes quantias de recursos públicos destinados para atividades privadas, supostamente em nome de criação de empregos, como se esse método fosse uma obrigação da coletividade e não da empresa que lucra com seu negócio.

Educação pública em decadência, favorecendo grandes grupos privados que ainda recebem subsídios para políticas de suporte aos que não conseguem acesso à educação gratuita.

São apenas alguns exemplos. Nenhum desses pontos precisa ser classificado de esquerda ou de direita para que se reconheça a vantagem do enfoque coletivo. Bastaria analisar exemplos de outros países capitalistas que não necessitaram de qualquer ideologia para a solução desses problemas.

Apesar disso, continuamos “deitados no berço esplêndido” da discussão ideológica sem qualquer resultado prático.

Fonte: Tribuna da Internet - 30/05/2017
De nada serve ao homem queixar-se dos tempos em que vive. A única coisa boa que pode fazer é tentar melhorá-los. (Thomas Carlyle)

LUGARES

PARQUE ESTADUAL DO MARUMBI - PR

O pico mais alto do Parque Estadual do Marumbi é o Olimpo. Nove picos formam a cadeia de montanhas e é vista de vários pontos, inclusive do passeio de trem Curitiba/Morretes.

SE TORNE MUITO IMPORTANTE SENDO AUSENTE

Mario Sergio Cortella
Em um trecho da palestra “Qual é a tua obra”, Mario Sergio Cortella faz uma reflexão sobre viver e ser esquecido. Confira abaixo a transcrição da fala de Cortella.

No dia que eu me for, eu me vou, e você também. Mas eu não quero ir, eu quero ficar. Lamentavelmente, só há um jeito de ficar: fazendo falta.

Na capa do meu livro “Viver em paz para morrer em paz” há a seguinte pergunta: “Se você não existisse, que falta faria?”. Tem gente que faz uma falta imensa, por exemplo, alguém que nos criou, enquanto há outras pessoas que não fazem falta alguma. Tem gente que não poderá ir a uma festa de Natal, por indisponibilidade ou porque já morreu, e faz uma falta imensa, enquanto há outras pessoas, vivas ou não, que não poderão ir a essa mesma festa, gerando uma grande alegria com sua ausência.

Morrer é ser esquecido. Você só não é esquecido quando faz falta. Enquanto alguém se lembrar de você, derramar uma lágrima sentindo sua falta, der risada por algo que você fez e que ele relembrou, lembrar-se de uma comida que você gostava etc., você continua vivo.

No cemitério, há túmulos abandonados, caídos e mal cuidados, então, a pessoa naquele caixão de fato morrera. Por outro lado, enquanto alguém permanecer com o outro na memória, coração e recordação, este continua vivo.

Há pessoas que morrem mesmo estando vivas, pois são banais, fúteis e inúteis, não fazendo falta. Só há um jeito de fazer falta: sendo importante, mas não no sentido de ser famoso. Tem muita gente que é importante, e não tem a menor fama, enquanto há gente famosa que não possui a menor importância. A pessoa importante é aquela que faz falta, por exemplo, no presente momento tem uma auxiliar de enfermagem num hospital da prefeitura de um estado auxiliando alguém que está em coma há três meses – essa profissional é absolutamente importante.

A fama possui seus momentos de pico e passa, mas a importância fica. E a importância você constrói onde está, seja na família, no governo, na escola etc. Uma pessoa importante é aquela que fica nos outros, que é levada para dentro do coração dos outros. Importar é portar para dentro.

Transcrição feita e adaptada pelo Provocações Filosóficas do trecho da palestra: Qual é a tua obra de Mario Sergio Cortella.

Fonte: https://www.bemmaismulher.com

FRASES ILUSTRADAS

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

OS HERDEIROS INCOMPETENTES E A IRRACIONALIDADE DO PRESIDENCIALISMO

Percival Puggina

Senhores leitores. De denúncias estamos mais do que abastecidos. Estamos lotados. Não há mais espaço, seja nas gavetas, seja no HD. Dispenso-me de mencionar a saturação dos também repletos estômagos e suas náuseas. Penso que já passamos da hora. É tempo de começarmos a nos preocupar com a explicação que daremos a nossos filhos e netos quando nos questionarem sobre o que fizemos com o país em que lhes toca viver.

Aos que têm tantas respostas certas para perguntas erradas, chegará certamente o dia em que alguém fará as perguntas corretas: “Por que, diabos, vocês perseveram no mesmo erro, eleição após eleição, crise após crise? Por que, mais de um século após a Proclamação da República, vocês insistem em manter um sistema de governo que nunca funcionou direito?”. E eu ainda dirijo a mim mesmo esta outra pergunta: “Já não estás cansado, escriba, de escolher, a cada eleição, quem te parece menos pior? O mal menor?”. Sim, estou! E como estou!

Em 1891 decidimos seguir, em parte, o modelo adotado nos Estados Unidos. Se funcionava lá, nos parecia razoável supor que funcionasse aqui. Mas o que era razoável aos olhos de Benjamim Constant e seus companheiros, há muito revelou não ser! Um inteiro século de evidências o comprovam. Eis por que observo atentamente os acontecimentos do Tio Sam. Pela primeira vez percebo os eleitores norte-americanos um pouco frustrados com algo que nos acompanha a cada eleição presidencial e na maior parte dos pleitos majoritários que nos são disponibilizados: forte rejeição aos dois candidatos e, como consequência, a nação legitimamente confiada a mãos imperitas e desacreditadas. Não seria diferente com uma vitória da Sra. Clinton. Se enfrentarem um processo de impeachment, verão o quanto dói uma saudade…

A irracionalidade do nosso presidencialismo berra nas páginas dos livros de história. Somos uma nação de condenados. Por imposição de um modelo institucional, somos sentenciados a suportar, longamente, governos incompetentes, corruptos, a respeito dos quais se acumulam suspeitas que se transformam em evidências e cujos males vamos tolerando em nome de uma governabilidade de regra capenga, negocista e inconfiável.

Se há algo que me amaina a consciência é saber que nos últimos 30 anos, nos meios de comunicação do Rio Grande do Sul, ninguém mais insistentemente do que eu combateu o presidencialismo. Aprendi a rejeitá-lo, primeiramente, nos ensinamentos do meu pai, o deputado Adolpho Puggina, e nos artigos de Mem de Sá, de Carlos de Brito Velho e Raul Pilla; posteriormente, no convívio com o dileto amigo e mestre prof. Cézar Saldanha Souza Júnior. Os primeiros morreram sem ver os infortúnios destes anos de bruma e tormenta. Mas sei o quanto padeceu seu discernimento, nas dificuldades dos em que viveram, escutando o silêncio suscitado por seus clamores. O que sentiram não terá sido diferente do que sinto agora, nesta quadra da minha existência, tendo vivido os abalos de 1961, 1964, 1969, 1992, e os audíveis e inaudíveis ruídos destes últimos desregrados e corrompidos anos. O mundo avança e o Brasil se arrasta em seus emaranhados institucionais. Sinto como se as centenas de palestras e programas de rádio de que participei tivessem entrado por um ouvido e saído pelo outro; como se o que escrevi em centenas de artigos e, pelo menos, em dois capítulos de livros recentes, tivessem entrado por um olho e saído pelo outro.

Sim, estou cansado desse presidencialismo, cuja maior competência consiste em gerar crises sem lhes dar solução que não as agrave. Sim, estou cansado de ver a nação fechar os olhos ao mal que vê porque a medicina institucional – sabe-se – pode matar o paciente. Então, vivemos da denúncia. Quanto bem nos faz denunciar! Mas isso não desfaz o que somos: herdeiros incompetentes …

Fonte: Tribuna da Internet - 02/06/2017
Aos domingos sou metade. Uma metade inteira de preguiça. (Yohana Sanfer)

LUGARES

ELVAS - PORTUGAL
Praça da República

Elvas é uma cidade raiana portuguesa do distrito de Portalegre, na região do Alentejo e na sub-região do Alto Alentejo, com 16 084 habitantes. É sede do município de Elvas com 631,29 km² de área e 20 753 habitantes, subdividido em 7 freguesias. Wikipédia

MR. MILES


Com tutela ou com liberdade?

A primavera garante os primeiros brotos das begônias que nosso correspondente tem em sua residência no Condado de Essex. Mr. Miles, no entanto, prepara suas malas para viajar rumo a Budapeste, onde vai visitar o sábio Andor Stern, que mora, aliás, em terras brasileiras. Miles adora ouvir as histórias de Andor, autor de uma frase que nosso viajante adotou. "Quando estreitamos os limites, Miles, a vida fica mais difícil. Quanto mais aberto formos a tudo, inclusive ao que, inicialmente, não nos pareceu certo, mais viveremos em harmonia."

É a esse universo sem limites e "unfortunately, com fronteiras demais", que o peregrino britânico tem dedicado sua existência.

A seguir, a pergunta da semana:

Querido Mr. Miles: já tenho netos, creio que sou culta, mas meu inglês não é bom. Por isso, prefiro sempre viajar com excursões do que sozinha. O senhor pode compreender essa opção?
Rosangela Assis Boni, por email

Indeed, dear Rosangela! O importante é que você viaje. E como se diz culta, which I believe, não vejo qualquer inconveniente na maneira como você o faz. Há inúmeras maneiras de conhecer o mundo e todas elas, exceto as mesquinhas — as que visam impingir ideias, ideais e credos — são, usually, muito valiosas.

Veja bem, darling: quando se viaja com uma excursão ou qualquer outro tipo de pacote fechado, você está exercendo a escolha pelo destino. Mas nunca pelos detalhes. Se o passeio incluir programas limitados, você será refém de cada um deles. Mas, com cultura e informação, terá a oportunidade de aproveitar os momentos livres para suas próprias investidas. Digamos que você seja uma apreciadora de vinhos. Nos restaurantes incluídos em excursões, raramente a carta vai lhe oferecer a variedade ambicionada. E quando houver algum vinho destacado, ele terá o chamado tourist price — uma pequena metáfora para roubo-a-mão-desarmada.

Nesse caso, será melhor você fugir um pouco do roteiro e buscar seus próprios experimentos, aqueles que garantem a química de uma viagem especial.

Quando se viaja sob tutela (e esse é o caso) só a informação qualificada pode salvar o passageiro de alguns problemas recorrentes. Já contei, certa vez, nesse espaço, de questões divertidas (mas não corretas) relacionadas à guias de viagem, desses que usam microfones na primeira fila dos ônibus. A maior parte deles, I must say, é formada por gente correta, informada e muito bem graduada. Mas existem alguns personagens que nos enganam direitinho. Certa feita, em viagem pelo interior da República Tcheca, comecei a estranhar os dados fornecidos pela simpática Slata. Comparando suas observações com os dados de um livro confiável, descobri que Slata ampliava tudo em cerca de 30%, no nobre intuito de valorizar seu país. Assim, a ponte de 300 metros chegava a quase 400. A montanha de 1200 metros subia para perto da 1500. And so on...

Quando viajamos por nossa própria conta, temos maior arbítrio. Podemos decidir, of course, todos os passos de nossa viagem e só o acaso pode mudar nossos planos — situação, by the way, muito bem-vinda. Que tal uma parada inesperada para ver um artesão de rua concebendo um trabalho incomum? Ou uma não-planejada visita a uma livraria que, pela vitrine, pareceu-lhe interessante?

A liberdade, darling, faz parte do viajar. Mas a tutela também pode fazer, se assim você se sente melhor.

Qual é o sentido de viajar sem alguém que a conduza pela mão, se você correr o risco de sentir-se perdida ou assustada? Keep going, dear Rosangela. O mundo fica mais amplo quando cada pessoa decide visitá-lo.

Fonte: Facebook

FRASES ILUSTRADAS

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

FALHAS NA EDUCAÇÃO E NO ENSINO

Antonio Fallavena

Falhas na educação e no ensino nos levaram à ditadura do crime organizado

Infelizmente, a leitura que é feita hoje, relativamente à escola, é equivocada. Quando Leonel Brizola falava em escolas, nos anos 50 e, posteriormente, Darcy Ribeiro se associou à luta, nosso país era outro, nossa sociedade muito diferente. As décadas passaram e, embora o foco educacional continuasse a ser o mesmo, o uso e a necessidade das escolas foram mudando.

Apenas para lembrar os de minha idade ou mais e os das gerações que nos seguiram, foi a partir do final da década de 70 e nas posteriores, com maior ênfase, que a sociedade mais mudou.

TUDO MUDOU – A partir daquele momento (final dos anos 70 aos dias atuais), algumas “pequeninas coisas” sofreram alterações profundas. A droga se espalhou, atingindo da criança aos idosos; a liberdade sexual total; a gravidez infantil e adolescente, descontrolada; a desagregação familiar; a “deterioração” da educação caseira; a perda de qualidade da escola, notadamente no ensino público, expandido pelo necessário acesso de quase a totalidade das crianças e adolescentes, entre outras mudanças na sociedade.

Ora, ouso dizer que estamos, hoje e para os próximos anos, necessitando mais de prisões do que de escolas, conforme Leonel Brizola e Darcy Ribeiro previram, com impressionante exatidão.

INSEGURANÇA – Hoje, o crime organizado está dando uma surra no Estado brasileiro, fazendo vítimas e escravos a cada dia. A corrupção ampliou-se e qualificou-se, causa prejuízos incalculáveis. As instituições públicas, em sua imensa maioria, desqualificadas e prestando serviços deficientes. São várias as pontas soltas.

Já não se sabe de quem é a responsabilidade pela educação das crianças. Será da escola? – pergunto eu. E o Estado brasileiro tem moral para tal? Se a responsabilidade for da escola, a situação se agravará, dia após dia. E se for dos pais/mães? Considerando-se que a maior demanda é por escolas infantis, a situação se agravará, dia após dia, pois a verdade é que as famílias estão terceirizando a educação.

NÃO FALTA ESCOLA – Com certeza, hoje não nos faltam escolas! Não nos faltam professores! O que falta é ensino nas escolas, assim como educação nos lares. Com o devido respeito, estão equivocados os que pensam que a escola corrigirá os erros de nossa sociedade. Ela precisa oferecer ensino de qualidade às crianças brasileiras.

Bem, já quanto à educação propriamente dita, o furo é mais embaixo, muito mais embaixo. Nosso problema maior está em educar as crianças, os futuros cidadãos. E isto só será possível se “enquadrarmos” os adultos. Fico imaginando como educar uma criança que assiste pai, mãe, tios e etc., fazendo tanta coisa errada, desrespeitando vizinhos, parentes e demais da sociedade, corrompendo leis e valores, sob o olhar das próprias crianças, seus filhos, sobrinhos etc.

O exemplo é a única forma de transferência de valores. Quem não os tem repassará o quê? Simples assim. Se é que desejamos uma sociedade melhor, precisamos reformar educação e ensino, ao mesmo tempo.

Fonte: Tribuna da Internet - 02/06/2017
Apesar dos efeitos colaterais, o AMOR ainda é o melhor remédio. (Miró da Muribeca)

LUGARES

KAYSERSBERG - FRANÇA

Kaysersberg foi uma antiga comuna francesa de 24,82 km² e com 2676 habitantes situada no departamento do Haut-Rhin, na região de Grande Leste. Em 1 de janeiro de 2016, foi incorporada à nova comuna de Kaysersberg Vignoble. Wikipédia

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


CUSTOMIZAR, FULCRAR, OCIAR
Dizia eu em 2003 que era um espanto o uso dos verbos customizar, fulcrar, ociar, pois eles tinham começado a circular na língua portuguesa havia pouco tempo, assim como outros que veremos a seguir. Isso significa um enriquecimento do idioma – para algumas pessoas; para outras, trata-se de um abuso. Quem não gosta de estrangeirismos e neologismos não precisa usá-los, certamente. Mas como não se escolhe o que se lê (no sentido de que não posso selecionar as palavras dentro de um texto que estou lendo), é bom saber o que há de novidade por aí. Uma delas é o verbo “ociar”, facilmente relacionado a “ócio”, como constou de resenha do livro A Economia do Ócio, de De Masi, Bertrand Russel e Paul Lafarge: “Os autores querem contribuir para a recuperação da ciência econômica como via ocidental para a arte de ociar”. E já está se vulgarizando entre os internautas o verbo gugliar (fazer busca no Google), que em inglês é “to google”.
--- Gostaria de saber o significado da palavra customização.  E. O. S., Aracaju/SE
Customização tem o sentido de adaptar os produtos e processos ao gosto do cliente, fazer do que jeito que ele deseja; é portanto o atendimento que visa a satisfação do freguês. Em suma: personalizar. A origem da palavra está no inglês customer, que significa “cliente” – não tem nada a ver com “costume”, como pode parecer à primeira vista ao falante de português. Em inglês o verbo é “to customize”.
--- Tenho visto em textos jurídicos as palavras fulcrado e elencado sendo utilizadas com frequência. É correto este uso? Exemplos: as garantias elencadas no art. 5º da Constituição Federal; as limitações fulcradas no dispositivo tal. S. M. G., Florianópolis/SC
O verbo elencar tem o aval do VOLP 2009 (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, 5ª ed.) e significa incluir num rol, lista ou elenco. Já fulcrar [calcar, apoiar] é verbo de uso raro. Sua origem é o substantivo fulcro = ponto de apoio; sustentáculo, base; parte essencial ou mais importante; ponto básico; cerne. Quanto ao particípio fulcrado, emprega-se como alternativa para “baseado, fundamentado; com base ou fundamento em”. 
--- Será que eu poderia ter uma lista das palavras oriundas do inglês e que se referem à informática que estão sendo usadas correntemente, como linkar, por exemplo. C. L. C. R., São Paulo/SP
Assim como muitos termos da área da informática são usados em bom português –  configurar, arquivar, responder, formatar, imprimir, fechar –, outros continuam transitando, aqui no Brasil, em inglês mesmo (por ex. link, hiperlink, mouse, download, chat, backup). E outros, como delete, ainda que tenham equivalentes em português, receberam formas adaptadas que são preferidas pelo público. Vejamos então alguns verbos que sobrevivem com sua forma aportuguesada: 
  • Atachar – o mesmo que anexar; fazer o envio de um arquivo como anexo.
  • Clicar – apertar e soltar o botão do mause (mouse).
  • Deletar – apagar, limpar, remover.
  • Escanear – digitalizar imagens por meio de scanner, aparelho de leitura óptica. Na área das comunicações também se fala em “leiaute escaneável”, ou leitor que escaneia online, isto é, que passa a vista, vê os subtítulos e as palavras-chaves, mas não lê o texto completamente.
  • Inicializar (em vez de “iniciar”) – pôr na configuração ou posição inicial.
  • Lincar (com c, e não k) – fazer as ligações ou clicar nos linques (links) presentes num hipertexto.
  • Postar – fazer um “post”, ou seja, escrever e enviar um artigo para um grupo de notícias ou mensagens públicas.
  • Surfar – o mesmo que navegar, passear pela internet. O termo navegar surgiu pelo fato de ter sido o Netscape Navigator o primeiro programa que possibilitou acessar e visualizar os recursos da rede www – a web.
  • Zipar – compactar (arquivo) para armazenamento de dados ou transmissão via rede. 
Fonte: www.linguabrasil.com.br

FRASES ILUSTRADAS

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

NORMOSE

Michel Schimidt - Psicoterapeuta

Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar.

O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Bebe socialmente, está de bem com a vida, não pode parecer de forma alguma que está passando por algum problema. Quem não se "normaliza", quem não se encaixa nesses padrões, acaba adoecendo.

A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses ditadores de comportamento que "exercem" tanto poder sobre nossas vidas?

Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados.

A normose não é brincadeira.

Ela estimula a inveja, a autodepreciação e a ânsia de querer ser o que não se precisa ser. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?

Então, como aliviar os sintomas desta doença? Um pouco de autoestima basta.

Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim, aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo.

Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.

Eu simpatizo cada vez mais com aqueles que lutam para remover obstáculos mentais e emocionais e tentam viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Para mim são os verdadeiros normais, porque não conseguem colocar máscaras ou simular situações. Se parecem sofrer, é porque estão sofrendo. E se estão sorrindo, é porque a alma lhes é iluminada.

Por isso divulgue o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.

Fonte: http://www.club33.com.br

É pecado pensar mal dos outros, mas raramente é engano. (H.L.Mencken)

LUGARES

BALNEÁRIO PIÇARRAS - SC

Balneário Piçarras é um município brasileiro do Estado de Santa Catarina. Sua população estimada em 2019 é de 23.147 habitantes. Balneário-vedete dos anos 70, Piçarras hoje é chamada praia de elite. O carinhoso título de "Namorada do Atlântico" também ajuda a provar que não é por acaso. Hoje é sede do maior museu oceanográfico da América Latina.

40 DIAS NO ALGONQUIN

Ruy Castro

Em 1974, ele ainda rescendia aos uísques, cigarros e casacos de Dorothy Parker

O colega Josimar Melo falou aqui (5/5) de sua decepção ao hospedar-se há pouco no Algonquin, em Nova York. É o hotel da Rua 44 que, durante os loucos anos 20, foi palco diariamente do almoço de Dorothy Parker e seus amigos, rapazes e moças marcantes no jornalismo, poesia e teatro americano e cujas frases mortíferas corriam o mundo. Em 1930, turistas já iam almoçar lá para ficar perto da Round Table, sua mesa cativa, e escutar o que diziam. O grupo se dispersou, mas o Algonquin continuou a atrair jornalistas, escritores e gente de teatro e cinema.

Josimar não reconheceu nele o velho glamour, e com razão. Tive mais sorte: hospedei-me lá por 40 dias em 1974, às expensas da revista Reader’s Digest. Também já não era o Algonquin da Round Table —a própria mesa fora recolhida ao museu do hotel—, mas o passado aparecia por toda parte.

A mobília ainda era a original. O saguão cheirava a décadas de ilustres uísques, cigarros e casacos. Os hóspedes continuavam a receber o New York Times de manhã, por baixo da porta. O compositor Alec Wilder, que morava lá, era levado até o quarto quando chegava fora de prumo, tarde da noite, e posto de pijama na cama. Afaguei Mathilda, a gata oficial. Os corredores eram decorados com os originais dos cartuns de James Thurber, Peter Arno e Charles Addams para a New Yorker. E, certa vez, no restaurante, fui vizinho de mesa de William Shawn, editor-chefe da revista por 35 anos.

Desde então, o Algonquin sofreu muitas alterações, uma delas a proibição de fumo em suas dependências. Daí o valor do objeto que, não sei como, foi parar na minha mala no dia em que fechei a conta: um cinzeiro.

Nos anos 90, de volta ao Algonquin, falei do cinzeiro com a chefe de imprensa do hotel. Empolgou-se e perguntou se eu o mandaria por empréstimo, para fazerem uma cópia para o museu. Respondi que sim. E claro que não mandei. Tenho-o até hoje.

Fonte: Folha de S. Paulo - 14/05/2022

FRASES ILUSTRADAS

terça-feira, 25 de outubro de 2022

LIVRO EXPLICA COMO O MUNDO ENRIQUECEU


Dois séculos atrás, 94% dos terráqueos viviam com menos de US$ 2 por dia

Você, leitor, trocaria de lugar com um nobre inglês do ano 1200? É verdade que, se o fizesse, teria vários servos à sua disposição e teria acesso aos benefícios políticos de ser um membro do estamento superior. Mas teria de viver num castelo muito pouco confortável, veria vários de seus filhos morrerem na infância e teria uma grande chance de sucumbir por doenças hoje facilmente tratáveis. A diarreia matou dois reis ingleses; a varíola, outros dois. E o mundo era bem mais pobre também.

Dois séculos atrás, 94% dos terráqueos viviam com menos de US$ 2 por dia (dólares de 2016). Em 2015, menos de 10% da população mundial vivia com menos de US$ 1,90 por dia. Dez por cento de 8 bilhões é muita gente, e US$ 1,90 por dia está longe de ser o resgate de um rei, mas parece inegável que houve progresso.

A pobreza absoluta, que já foi o estado geral do planeta, é cada vez menos comum. Como o mundo enriqueceu? É a essa pergunta que Mark Koyama e Jared Rubin tentam responder em "How the World Became Rich". O que distingue esse livro de títulos semelhantes é que os autores não se limitam a promover sua teoria favorita, mas recorrem a um punhado delas e tentam articulá-las umas com as outras.

Assim, vamos encontrar explicações calcadas na geografia, nas instituições, na demografia, na cultura e no colonialismo. Separadas, todas elas exibem buracos, mas, juntas, dão uma ideia bem aproximada de como diferentes nações se tornaram muito mais ricas nos últimos séculos.

É bom insistir que não existem receitas infalíveis. Muitas vezes, o que funciona num contexto se torna desestabilizante em outro. A partir do século 16, as partes do Novo Mundo que mais foram agraciadas pela geografia se tornaram as colônias mais exploradas e, assim, acabaram ficando com instituições piores, pelo que até hoje pagam um preço. Basicamente, estamos melhorando, mas ainda há muito a fazer.

Fonte: Folha de S.Paulo
Acho melhor acreditar que o cupido existe. É menos idiota que saber que eu mesmo escolhi as pessoas que gostei. (Bruno Fontes)

LUGARES

SEVILHA - ESPANHA

A Plaza de España ("Praça de Espanha", em português) é uma praça, no Parque de María Luisa, em Sevilha, Espanha, construída em 1928 para a Exposição Ibero-Americana de 1929. Ela é um exemplo marcante do Regionalismo na Arquitetura, que mistura elementos da Neorrenascença, Moura Revival (Neo-Mudéjar) e estilos de arquitetura espanhola.[1]

ROMANCE FORENSE

"Esta não é a minha mulher!"...

É início da madrugada quando um operador jurídico, bem vestido, desce no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Ele tinha antecipado sua volta, porque conseguira resolver todos os compromissos nos tribunais superiores, em Brasília. E não avisara ninguém da família sobre o retorno.

Então, o cidadão embarca em um táxi e dá o endereço de casa. O taxista é um policial fazendo "bico".

No trajeto, o passageiro vê uma senhora, também bem vestida, entrando sozinha em uma boate. "Ih, é minha mulher..." - pensa desconsolado o jurista. Pede, então, que o táxi pare e propõe ao motorista:

- Dou 500 reais se tu tirares de dentro da boate, na força bruta, aquela morena vestida toda de vermelho que recém entrou. A desgraçada é a minha mulher.

O policial-taxista aceita a proposta, entra na boate e dois minutos depois sai arrastando pelos cabelos, uma mulher desgrenhada que grita palavrões. O vestido dela é azul.

No interior do táxi, o cidadão vê a cena compungido e salta para tentar evitar que a confusão aumente:

- Para! Para! Esta não é a minha mulher. Eu te disse que ela está de vermelho. Tu és daltônico?...

O taxista retruca:

- Não sou daltônico, não. Esta safada aqui é a minha mulher. Em um minuto eu entro lá dentro, de novo, para buscar a sua...

Fonte: www.espacovital.com.br

FRASES ILUSTRADAS

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

CAPACIDADE DE INDIGNAÇÃO

Antonio Carlos Fallavena

Ao que parece, os brasileiros já perderam a capacidade de se indignar

O país entrou em um buraco tão grande e sujo que é difícil identificar quais os erros precisam ser corrigidos e em que ordem as correções devem ocorrer. Alguém tem dúvida que, praticamente, não existe um setor que esteja realmente cumprindo com suas finalidades e atingindo os resultados necessários? É claro que não vale citar a exceção da Polícia Federal e da Lava Jato…

O setor público é dominado pelos servidores, que, sem comando e sem a qualificação necessária, tomou posse das estruturas na maioria das repartições, sejam federais, estaduais ou municipais. O típico exemplo é o caso do ensino público, nos três níveis, com entidades partidarizadas, sugadoras das suas próprias bases.

A área da segurança está descapitalizada em tudo, a partir também de seus quadros, e a criminalidade impera. O setor de saúde pública está mais do que falido, nas instituições federais, estaduais e municipais.

Reformas urgentes são necessárias, mas precisam abranger todas as áreas públicas. A partir delas, então poder-se-á “enquadrar” as áreas privadas.

Só como exemplo, em Porto Alegre a empresa de ônibus estatal (pública…), mesmo dando prejuízo, paga “bônus por resultados” aos funcionários. São as ditas “conquistas dos trabalhadores”. E quantas coisas há para relacionar, nos mesmos moldes deste caso.

O Brasil virou um carro velho, com ferrugem e sem peças de reposição. Uma sucata que só serve para ser derretida e vendida em blocos. Quem quer comprar? Mas aviso: tem de levar tudo!

Bem sei que o assunto mexe com os brios (será que ainda sabem o que isto representa?) de alguns, mas a maioria se omite e não demonstra capacidade de se indignar, nada, nada!

Fonte: Tribuna da Internet - 20/06/2017
A tragédia da vida e que ficamos velhos cedo demais. E sábios, tarde demais. (Benjamin Franklin)

LUGARES

CIVITA DI BAGNOREGIO - ITÁLIA
Civita di Bagnoregio é uma cidade na província de Viterbo, no centro da Itália, um subúrbio da comuna de Bagnoregio, 1 km a leste. Fica a cerca de 120 quilômetros ao norte de Roma. O único acesso é uma passarela da cidade vizinha, com pedágio introduzido em 2013. Wikipedia (inglês)

AMOR NÃO TEM DUAS CARAS

Fabrício Carpinejar
Fabrício Carpinejar

Amor virtual é também real.

Se você passa das fronteiras do verbo está traindo. Cantadas são traições. Não há desconto. Deslealdade é a infidelidade da palavra.

O que você imagina é o que você pensa e é o que você acredita. Insinuar é suspender o poder dos limites, profanar os segredos do casal e pagar o preço da confusão. Quem não se declara comprometido imediatamente está interessado em mentir.

Não existe ingenuidade retroativa.

Quem explica depois é que não foi intencionalmente claro antes.

Ninguém se apaixona no primeiro contato. Se aconteceu uma paixão fora do casamento é que permitiu inúmeras oportunidades de aproximação e sabia o que estava fazendo. Quantas chances teve de dizer não e ficou no talvez? Quantas cenas para recusar o envolvimento e seguiu adiante?

A casualidade é premeditada.

Por isso, diante da facilidade para estabelecer contatos, o romance moderno não tem mais o privilégio de duas caras.

De nada adianta sussurrar as palavras mais doces e surpreendentes a sós e não repeti-las nas redes sociais. Jurar casamento e descrever projetos dependem, ao mesmo tempo, da visibilidade cotidiana e do olhar de testemunhas.

O que você confessa a dois também precisa ser cantado. É a única garantia de autenticidade que se tem para não esbarrar em cafajestes e mitômanos.

Atualmente o amor se desdobra em dois movimentos simultâneos e complementares: amar para si e não se envergonhar de amar em nenhuma situação pública.

Nem é questão de preferir a privacidade. A defesa da relação está acima da retração e da timidez.

De nada adianta prometer dedicação eterna frente a frente e não mudar o status do facebook. É falso se comprometer privadamente e não contar com a capacidade de repetir a frase para os outros. Posts de amor devem conviver com os bilhetes dentro de casa.

Aquele que não se revela nos meios virtuais quer manter uma vida dupla. Cultiva paixões silenciosas, não se entrega de verdade e deixa a porta aberta para pendências e flertes.
Amor hoje ou é inteiro ou é falso.

Fonte: Zero Hora

FRASES ILUSTRADAS

domingo, 23 de outubro de 2022

CULTURA É ARTIGO DE CONSUMO?

Aldo Bizzocchi
Outro dia, em sua coluna Sala de Música, na rádio CBN, o produtor musical João Marcello Bôscoli explicou que a palavra cultura veio do latim colere, que significa “cuidar, cultivar”, e que consumir veio de consumere, que quer dizer “consumir, gastar, destruir”. A partir daí, defendeu a tese de que não se deveria dizer “consumir cultura”, já que isso implicaria a ideia de destruição. Em vez de “consumir música” ou “consumir teatro”, ele sustenta que deveríamos voltar a dizer, como antigamente, “ouvir música”, “assistir ao teatro”, e assim por diante.

As informações etimológicas passadas por ele estão corretas, mas palavras ganham novos significados ao longo de sua história. Assim, se na Roma antiga consumir tinha o sentido exclusivo de gastar e destruir (por exemplo, “as chamas consumiram completamente o edifício”), com o tempo passou-se a empregar o termo referindo-se ao consumo de alimentos, que não deixa de ser uma destruição: destruímos os alimentos ao comê-los para nos mantermos vivos e saudáveis. Mas já que, para comê-los, é preciso primeiro comprá-los – a menos que tenhamos uma propriedade rural que nos forneça todos os recursos alimentícios de que precisamos –, consumir tornou-se sinônimo de comprar, adquirir. E, na sociedade de consumo em que vivemos, em que tudo, inclusive a cultura, virou produto, não é estranho pensar-se em consumir música, teatro, dança, livros, etc.

Aliás, a cultura não deixa de ser uma espécie de alimento – para o espírito, no caso. Assim como devoramos uma fruta, e ela, além de nos alimentar e nutrir, nos dá prazer com seu sabor e suculência, a cultura é algo que devoramos (quem nunca “devorou” um livro ou um disco?) e que nutre nosso espírito, ampliando nossos horizontes mentais. Uma vez comida, a fruta se transforma inexoravelmente em excremento, mas suas vitaminas alimentam nossas células e garantem nossa vida. Uma vez lido, um livro pode até virar calço de mesa, mas seu conteúdo nutriu nossos neurônios e fez mesmo nascerem novos.

Concordo com Marcello que, em tempos em que o consumismo domina as relações sociais e em que também há forte reação contra ele por parte de setores mais esclarecidos da sociedade, falar em consumir cultura pode soar mercantilista ou, no mínimo, fútil. Quem consome não frui, e a cultura deveria ser antes de tudo fruição. Então me lembro de que meu pai, ao ouvir na TV certos roqueiros dizerem que faziam um som, retrucava afirmando que antigamente se fazia música e que os “cabeludos” de hoje em dia (esse “hoje em dia” já faz algumas décadas) só fazem som, isto é, barulho. Pois o “som” que tanto incomodava meu pai atualmente é rock clássico. Imaginem, se ele fosse vivo hoje, o que diria do funk proibidão!

Por outro lado, também podemos despir o termo consumo de seu véu capitalista selvagem e vê-lo como algo que sempre existiu. Afinal, em todas as épocas os artistas tiveram de vender suas criações para sobreviver. Quer fossem sustentados por mecenas ou vendessem seus livros e quadros, bem como recitassem seus versos em praça pública, alguém pagava para lê-los, ouvi-los, assisti-los (assistir a eles, como manda a gramática normativa, é muito feio): a arte, assim como a filosofia e, mais tarde, a ciência, também era um produto vendido no mercado. Van Gogh, que vendeu um único quadro durante a vida, ficaria feliz de saber que suas pinturas hoje são comercializadas aos milhões de dólares. Mozart não desgostaria do fato de suas composições serem vendidas em lojas de CDs (as que ainda existem) ou baixadas em plataformas de streaming. Os poetas gregos cantavam seus poemas acompanhados da lira (o violão da época) na ágora ateniense em troca de moedas e do aplauso dos espectadores. O que há de errado nisso?

Por mais etéreas que sejam, ou pretendam ser, certas criações culturais, seus autores precisam comer, vestir-se, locomover-se, pagar contas… Logo, tudo é produto, tudo é consumível, devorável, digerível e tudo – alimentos ou livros – é nutriente de nossa vida.

Fonte: https://diariodeumlinguista.com