Flávia Boggio
Sou uma grande apreciadora dos termos chulos, mas tomo cuidado porque as crianças são pequenas esponjas
Um dos momentos mais emocionantes para os pais de crianças pequenas é quando elas começam a falar as primeiras palavras. "Mamãe" e "papai" é só o início da mais poderosa forma de comunicação do ser humano. É a linguagem verbal que nos torna únicos entre os animais e nos conecta.
O vocabulário de um bebê aumenta em uma velocidade impressionante. Entre o primeiro e segundo ano de vida, uma criança aprende, em média, dez novas palavras por dia.
Como mãe de gêmeos de dois anos, vivo esse momento em tempo real. A cada convívio com colegas da escola e cuidadores, eles trazem para casa novas palavras, histórias e interjeições.
Por ainda controlarem pouco os músculos da fala, geram momentos de extrema fofura e humor involuntário. Iogurte vira "guti", elefante vira "pante", assoar o nariz é "tilá meleca". Para assistir a "Patrulha Canina" (desenho com poder de vício maior que o crack), falam "qué titi pákanina".
Quando dei um trator de presente e um deles me corrigiu: "Não é um 'tatô', mamaim, isso é uma 'escavadêla'." O vocabulário chega a ser mais extenso que o da própria mãe.
São momentos emocionantes que parecem propaganda de leite em pó. Até que a criança fala o primeiro palavrão.
Como sei que as crianças são pequenas esponjas, evito falar qualquer coisa do tipo na frente dos meninos. Mas sou uma grande apreciadora dos termos chulos. Acredito que nenhuma palavra substitui a força e o poder catártico de gritar —desculpem os termos— "porra!". Ou "foda". Ou "puta que pariu!".
"Caralho", por exemplo, foi até ressignificado e serve para qualquer situação. Desde as ruins: "Caralho, chutei com o mindinho no criado mudo!". Às boas: "Isso é bom pra caralho". Ou simplesmente espanto: "Caralho, você viu aquele trovão?". Ou as sem nenhum sentido: "O que caralho você quis dizer com isso?".
Foi essa a palavra escolhida pelo meu filho ao cair da bicicletinha. No sotaque "bebenês", saiu de sua pequena boca em forma de coração um: "calalio".
Achei bonitinho, mas fiquei preocupada, pensando onde será que ele tinha ouvido essa palavra e se estaria repetindo isso para outras crianças.
Para tentar entender a origem do problema, fui conversar com meu marido, que me perguntou: "Caralho, amor, onde será que ele aprendeu isso?".
"Amor, eu faço um caralho de ideia."
Fonte. Folha de S.Paulo
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